Capítulo Treze: Admoestação Para Abraçar o Sutra
Nessa altura, o bodhisattva e mahasattva Rei da Medicina(Bhaishagyarâga), em conjunto com o bodhisattva e mahasattva Grande Alegria da Pregação(Mahâpratibhâna) e vinte mil discípulos bodhisattvas que os acompanhavam, todos na presença do Buddha fizeram este voto, dizendo: “Rogamos ao Honrado Pelo Mundo que não tenha mais preocupações. Após o Buddha ter entrado em extinção nós não deixaremos de honrar, abraçar, ler, recitar e pregar este sutra. Os seres viventes da era maligna terão boas raízes cada vez menores. Muitos serão supremamente arrogantes e gananciosos por ofertas e outras formas de lucro, aumentando as más raízes e afastando-se mais do que nunca da emancipação. Mas ainda que seja difícil ensiná-los e convertê-los, nós invocaremos o poder da grande paciência e ire-mos ler e recitar este sutra, abraçá-lo, pregá-lo e copiá-lo, oferecendo-lhe muitos tipos de esmolas sem nunca regatearmos os nossos corpos ou as nossas vidas.
Nessa altura na assembleia existiam quinhentos arhats que tinham recebido uma profecia de iluminação. Eles disseram ao Buddha, “Honrado Pelo Mundo, nós também fazemos um voto. Em outras terras que não esta nós pregaremos largamente este sutra.”
Também aí estavam oito mil pessoas, algumas ainda a aprender, outras sem nada mais a aprender, que tinham recebido uma profecia de iluminação. Elas levantaram-se dos seus lugares, juntaram as palmas das mãos e, virado-se para o Buddha, fizeram este voto: “Honrado Pelo Mundo, também nós noutras terras iremos pregar largamente este sutra. Porquê? Porque neste mundo Saha as pessoas são dadas à corrupção e ao mal, acometidas de grande arrogância, pobres em bênçãos, irascíveis, bajuladoras e hipócritas, e os seus corações são insinceros.”
Nessa altura a tia materna de Buddha, a monja Mahaprajapati e as seis mil monjas que a acompanhavam, algumas ainda a aprender, outras sem nada mais a aprender, levantaram-se dos seus lugares, juntaram as palmas das mãos e com uma só mente fitaram a face do Honrado Pelo Mundo, sem desviarem os olhos por um instante sequer.
Nessa altura o Buddha disse a Gautami (3), “Porque é que olhas o Tathagata de forma tão perplexa? Estás preocupada no teu coração por eu não ter mencionado o teu nome entre aqueles que receberam a profecia de obtenção de anuttara-samyak-sambhodi? Mas Gautami, eu tinha feito antes uma declaração geral dizendo que todos os ouvintes tinham recebido tal profecia. Agora, se queres saber a profecia para ti, eu direi que em eras vindouras, sob a Lei de sessenta e oito milhares de milhões de Buddhas, serás um grande mestre da Lei, e as seis mil monjas, algumas ainda a aprender, algumas já suficientemente instruídas, acompanhar-te-ão como mestres da Lei. Deste modo irás pouco a pouco completando a via do bodhisattva até que estarás apta a tornar-te um Buddha com o nome Tathagata Visto Com Alegria Por Todos Os Seres Viventes(Sarvasattvapriyadarsana), digno de ofertas, de conhecimento recto e universal, de perfeita conduta e claridade, bem-aventurado, compreendendo o mundo, inexcedivelmente meritório, treinador de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo. Gautami, este Buddha Visto Com Alegria Por Todos Os Seres Viventes conferirá uma profecia aos seis mil bodhisattvas, a ser transmitida de um para outro, de que alcançarão anuttara-samyak-sambodhi.”
Nessa altura a mãe de Rahula, a monja Yasodhara, pensou para si, o Honrado Pelo Mundo, na sua atribuição de profecias não referiu o meu nome!
O Buddha disse a Yasodhara, “Em eras futuras, sob a Lei de centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de Buddhas, tu praticarás os feitos de um bodhisattva, serás um grande mestre da Lei e, gradualmente, irás completando o caminho do Buddhado. Então, numa boa terra, tu tornar-te-ás um Buddha chamado Tathagata Dotado de Milhares de Dezenas de Milhares de Marcas Brilhantes (Rasmisatasahasraparipûrnadhvaga), digno de ofertas, de conhecimento recto e universal, de perfeita conduta e claridade, bem-aventurado, compreendendo o mundo, inexcedivelmente meritório, treinador de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo. A duração da vida deste Buddha será de imensuráveis asankyas de kalpas.”
Nessa altura a monja Mahaprajapati, a monja Yashodhara e as suas seguidoras estavam cheias de grande alegria, tendo ganho o que nunca antes haviam possuído. De imediato, na presença do Buddha elas falaram em verso, dizendo:
Honrado Pelo Mundo, líder e mestre, tu trazes tranquilidade aos seres celestiais e humanos.Nós ouvimos estas profecias e as nossas mentes estão pacificadas e satisfeitas.
As monjas, tendo recitado estes versos, disseram ao Buddha, “Honrado Pelo Mundo, também nós estamos prontas para ir para outras terras e propagar largamente este sutra.
Nessa altura o Honrado Pelo Mundo olhou os oitocentos mil milhões de nayutas de bodhisattvas e mahasattvas. Estes bodhisattvas haviam todos chegado ao estado de avivartika, girado a irreversível roda da Lei e ganho dharanis. Eles levantaram-se dos seus lugares, avançaram perante o Buddha e, juntando as palmas das mãos com uma só mente, pensaram para si mesmos, se o Honrado Pelo Mundo nos mandar abraçar e pregar este sutra, nós cumpriremos as instruções do Buddha e pregaremos largamente esta Lei. E então pensaram, mas o Buddha agora está silencioso e não nos dá essa ordem. Que devemos fazer?
Nessa altura, os bodhisattvas, acatando respeitosamente a vontade do Buddha e ao mesmo tempo, desejando cumprir os seus votos originais, prosseguiram até à presença do Buddha para rugir o rugido do leão e fazer um voto, dizendo: “Honrado Pelo Mundo, após o Tathagata ter entrado em extinção, nós viajaremos por aqui e por ali, para trás e para a frente através de mundos pelas dez direcções para permitir aos seres copiarem este sutra, o receberem, abraçarem, lerem e recitarem, entendendo e pregando os seus princípios, praticando-o de acordo com a Lei, e mantendo-o apropriadamente nos seus pensamentos. Tudo isto será feito mediante o poder e a autoridade do Buddha. Rogamos ao Honrado Pelo Mundo, ainda que noutra região, que olhe por nós, nos guarde e proteja.
Nessa altura os bodhisattvas juntaram as suas vozes e falaram em verso, dizendo:
Rogamo-te que não te preocupes.Após o Buddha ter passado à extinção, numa era de medo e maldade nós pregaremos largamente por toda a parte.Existirão então muitas pessoas ignorantes que nos amaldiçoarão e caluniarão, que nos atacarão com espadas e paus, mas nós suportaremos todas essas coisas.Nessa era maligna existirão monges de sabedoria perversa e corações bajuladores e enganosos, que suporão ter alcançado o que não alcançaram, sendo orgulhosos e gabarolas nos seus corações.Ou existirão monges residentes na floresta, usando roupas de remendos e vivendo em reclusão, que pretenderão estarem a praticar a verdadeira via, desprezando e olhando com superioridade a humanidade.Gananciosos por lucro e apoio, pregarão a lei do leigo de roupa branca e serão respeitados e reverenciados pelo mundo como se fossem arhats possuidores dos seis poderes transcendentais.Estes homens com o mal nos seus corações, pensarão constantemente em assuntos mundanos, usurparão o nome dos monges residentes na floresta e terão prazer em proclamar as nossas faltas, dizendo coisas como esta:“Estes monges são gananciosos por lucro e apoio e por isso pregam doutrinas não budistas e fabricam as suas próprias escrituras para iludir as pessoas do mundo.Por esperarem ganhar fama e renome eles fazem distinções ao pregar este sutra.”Porque no meio da assembleia eles tentarão constantemente difamar-nos, dirigir-se-ão aos governantes, ministros, Brahmans e proprietários, bem como aos outros monges, caluniando-nos e difamando-nos, dizendo, “Estes homens de visões perversas pregam doutrinas não budistas!Mas porque nós veneramos o Buddha suportaremos todos estes males.Mesmo que eles nos tratem com desprezo, dizendo,“Vocês são sem dúvida Buddhas!”todas essas palavras de arrogância e desprezo nós iremos suportar e aceitar.Num kalpa enlameado, numa era malévola existirão muitas coisas temíveis.Demónios malignos tomarão possessão de outros e através deles irão amaldiçoar-nos, insultar-nos e tentar envergonhar-nos.Mas nós, confiando reverentemente no Buddha, envergaremos a armadura da perseverança.De modo a pregar este sutra nós suportaremos estas dificuldades.Não nos preocupamos com os nossos corpos ou vidas mas estamos ansiosos apenas pela via insuperável.Em idades vindouras nós sustentaremos e protegeremos o que o Buddha nos confiou.Os monges malignos dessa era enlameada, falhando o entendimento dos meios expeditos do Buddha, como ele prega a Lei de acordo com o que é apropriado, confrontar-nos-ão com linguagem obscena e expressões iradas; seremos banidos consecutivamente para lugares afastados das torres e templos.Todos esses diversos males, por mantermos em mente as ordens de Buddha, nós iremos suportar.Às povoações e cidades daqueles que buscam a Lei, nós iremos onde quer que eles estejam e pregaremos a Lei confiada pelo Buddha.Seremos os enviados do Honrado Pelo Mundo, enfrentando sem medo a assembleia.Pregaremos a Lei com habilidade, pois desejamos que o Buddha descanse tranquilo.Na presença do Honrado Pelo Mundo e de Buddhas reunidos desde as dez direcções, proclamamos este voto.O Buddha deve saber o que vai nos nossos corações.
Capítulo Quatorze: Práticas Pacíficas
Nessa altura, o príncipe do Dharma, Manjushri, bodhisattva e mahasattva, disse ao Buddha: “Honrado Pelo Mundo, estes bodhisattvas empreenderam algo que é muito difícil. Porque eles reverenciam e honram o Buddha, eles fizeram este grande voto de que nas eras malignas vindouras irão guardar, abrigar, ler, recitar e pregar este Sutra do Lótus. Honrado Pelo Mundo, nas eras malignas vindouras, como devem estes bodhisattvas, mahasattvas pregar este sutra?”
O Buddha disse a Manjushri: “Se estes bodhisattvas e mahasattvas nas eras malignas vindouras desejarem pregar este sutra devem regular-se por quatro regras. Primeiro devem acatar as praticas e associações próprias dos bodhisattvas de modo a que possam expor este sutra em prol dos seres viventes. Manjushri, o que é que quero dizer com as praticas de um bodhisattva ou mahasattva? Se um bodhisattva ou mahasattva é perseverante, gentil e dócil, nunca violento e sem se alarmar; e se em relação aos fenómenos ele não actua mas observa a verdadeira entidade dos fenómenos sem agir nem fazer qualquer distinção, então pode dizer serem estas as práticas de um bodhisattva e mahasattva.
“Quanto às associações próprias para eles, bodhisattvas e mahasattvas não devem relacionar-se proximamente com governantes, príncipes, ministros ou altos secretários. Não devem relacionar-se proximamente com não budistas, Brahmans ou jains, ou com aqueles que compõe literatura secular ou livros elogiando os heréticos, nem devem associar-se de perto com Lokayatas ou anti-Lokayatas4. Eles não devem associar-se de perto a divertimentos arriscados, boxe ou luta, ou com actores ou outros empenhados em vários tipos de entretenimentos ilusórios, ou com chandalas, criadores de porcos, carneiros, galinhas ou cães, ou ainda com praticantes da caça, da pesca ou de outras actividades malévolas. Se tais pessoas de tempos a tempos vierem ter com os bodhisattvas e mahasattvas, estes devem pregar a Lei para eles, mas não devem esperar nada deles. Além disso, não se devem associar com monges, monjas, leigos ou leigos que procurem tornar-se ouvintes, nem devem debater com eles ou visitá-los. Não devem ficar na mesma sala que eles, ou no local onde se pratica ou na sala de leitura. Não devem juntar-se a eles nas suas actividades. Se eles vierem ter com os bodhisattvas e mahasattvas, estes devem pregar a Lei para eles de acordo com o que é apropriado, mas não devem esperar nada deles.
“Manjushri, o bodhisatva ou mahasattva não deve, ao pregar a Lei às mulheres, comportar-se de maneira que possa despertar nelas pensamentos de desejo, nem deve deleitar-se ao vê-las. Se ele entra na casa de outra pessoa, não deve envolver-se em conversas com as raparigas jovens, mulheres solteiras ou viuvas. Nem deve aproximar-se dos cinco tipos de homens não masculinos nem ter qualquer relacionamento próximo com eles5. Ele não deve entrar na casa de outra pessoa sozinho. Se por qualquer razão se impõe que entre sozinho, ele deve concentrar a sua mente exclusivamente em pensamentos sobre o Buddha. Se ele tiver que pregar a Lei para uma mulher, ele não deve mostrar os seus dentes rindo nem deve deixar o seu peito ficar exposto. Ele não deve ter qualquer relacionamento íntimo com ela, mesmo que em prol da Lei, muito menos por qualquer outro propósito.
“Ele não deve deleitar-se na educação dos discípulos menores de idade, shramaneras ou crianças, e não deve deleitar-se em compartilhar o mesmo mestre com eles. Ele deve ter prazer em se sentar constantemente em meditação, ficando em lugares socegados e aprendendo a aquietar a sua mente. Manjushri, estas são o que eu chamo as coisas a que ele, antes de mais, se deve associar.
“Depois, os bodhisattvas ou mahasattvas devem ver todos os fenómenos como vazios, sendo essa a sua verdadeira entidade. Eles não se invertem, não se movem, não regridem nem se revolvem. Eles são como espaço vazio, sem natureza inata, para além do alcance de todas as palavras. Eles não são nascidos, não emergem, não surgem. Eles são sem nome, sem forma, sem verdadeiro ser. Eles são sem volume, sem limites, sem impedimentos, sem barreiras. É apenas devido a causas e condições que eles existem, e vêm a ser virados de cima para baixo, a nascer. Daí que eu digo que devem constantemente ver assim as formas dos fenómenos. Isto é o que eu chamo as segundas coisas a que um bodhisattva ou mahasattva se deve associar.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Se existirem bodhisattvas que numa era maligna vindoura desejarem com corações destemidos pregar este sutra, estes são os locais onde eles não devem entrar e as pessoas com quem não devem ter relacionamentos próximos.Em nenhum momento devem relacionar-se com governantes e príncipes de reinos, ministros ou chefes de gabinete, com quem estiver envolvido em entretenimentos perigosos bem como com chandalas, não-Buddhistas ou Brahmans.Não devem associar-se com pessoas arrogantes nem com os que aderem obstinadamente ao Veículo Menor e são versadas nos seus três repositórios.Monges que violam os preceitos, falsos arhats, monjas que gostam de brincar e rir, ou mulheres leigas que são profundamente apegadas aos cinco desejos ou que buscam a entrada imediata na extinção - com todos esses não se devem associar.Se existirem pessoas que venham com bons corações ter com o bodhisattva para ouvirem a via do Buddha, então o bodhisattva com um coração destemido mas sem dar lugar a expectativas deve pregar-lhes a Lei.Mas viúvas e mulheres solteiras e os diferentes tipos de homens não masculinos - com todos estes ele não se deve associar ou lidar com intimidade.Também não deve associar-se a carniceiros ou cortadores, nem com os que caçam animais ou apanham peixe, ou matam e ferem por lucro.Com esses que trabalham na venda de carne ou que oferecem mulheres e vendem os seus favores - com pessoas destas não se deve associar.Com quem esteja envolvido em desportos perigosos, lutas ou outros tipos de divertimentos, ou com mulheres de natureza lasciva - que nunca se associe com nenhuma destas pessoas.Que nunca vá sozinho a lugares fechados para pregar a Lei a uma mulher.Quando pregar a Lei, que não haja brincadeiras ou risos.Quando entrar numa povoação para pedir comida,deve levar outro monge consigo; se não existir nenhum outro monge por perto, com uma mente sem distracções concentre-se no Buddha.A isto é que eu chamo as práticas e associações apropriadas.Sendo cuidadoso em relação a estas duas, pode-se pregar de forma tranquila.Não se deve falar em termos de doutrinas médias ou inferiores, ou doutrinas do condicionado ou do incondicionado, do real ou do irreal.Além disso, não devem ser feitas distinções dizendo, “Isto é um homem, isto é uma mulher.”Não tentem apreender os fenómenos, entendê-los ou vê-los.A isto é que eu chamoas práticas do Bodhisattva.Todos os fenómenos são vazios, sem ser, sem qualquer constância eterna, sem aparecimento nem extinção.Isto é o que eu chamo a posição adoptada pelo sábio.Da inversão desta Lei resultam distinções, de que os fenómenos existem, não existem, são reais ou irreais, nascidos ou não nascidos.Devem procurar locais socegados, aprender a aquietar a mente, fazendo-a permanecer tranquila, imóvel como o monte Sumeru.Todos os fenómenos devem ser vistos como sendo desprovidos de existência, como espaço vazio, sem firmeza ou consistência, sem nascimento, sem aparecimento, sem movimento ou regressão, mantendo-se constantemente numa forma única - a isto é que eu chamo o local onde se deve residir.Se após eu entrar em extinção existirem monges que levem a cabo estas práticas e estas associações, então, quando pregarem este sutra serão livres de medo ou timidez.Se um bodhisattva entrar regularmente num local socegado e com a correcta atitude mental vir os fenómenos de acordo com a doutrina, e então, levantando-se da sua meditação, pelo bem do governante, dos príncipes, ministros e demais pessoas,brahmans e outros, expuser, propagar, explicar e pregar este sutra, então a sua mente será tranquila, livre de medo ou timidez.Manjushri, a isto eu chamo o primeiro conjunto de regras que o bodhisattva deve manter por forma a poder, em eras vindouras, pregar o Sutra do Lótus.
Além disso, Manjushri, após o Tathagata ter passado à extinção, nos Últimos Dias da Lei, se alguém desejar pregar este sutra, deve ater-se a estas práticas pacíficas. Quando ele abrir a boca para expor ou quando ele ler este sutra, não deve deleitar-se em falar das faltas das outras pessoas ou escrituras. Ele não deve mostrar desprezo pelos outros mestres ou falar dos gostos ou imperfeições das outras pessoas. Em relação aos ouvintes ele não deve nomeá-los ou falar das suas faltas, nem nomeá-los e louvar as suas qualidades. Não deve também deixar a sua mente encher-se de ressentimento ou ódio. Porque ele é bom ao cultivar este tipo de mente pacífica, os seus ouvintes não se oporão às suas ideias. Se lhe forem colocadas perguntas difíceis, ele não deve responder em termos de um Veículo Menor. Deve explicar as coisas unicamente em termos do Grande Veículo por forma a que as pessoas possam adquirir a sabedoria que abarca todas as espécies.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
O bodhisattva deve deleitar-se constantemente em pregar a Lei de forma tranquila.Num local puro e limpo ele deve estender a sua esteira, untar o seu corpo com óleo, limpar o pó e as impurezas, vestir um manto novo e limpo e purificar-se exterior e interiormente.Sentado confortávelmente no assento do Dharma, deve pregar a Lei conforme as perguntas.Se existirem monges ou monjas, homens ou mulheres leigos, governantes e príncipes, oficiais, cavalheiros e pessoas comuns, com uma expressão serena deve pregar para eles as doutrinas maravilhosas e subtis.Se houverem questões difíceis deve responder de acordo com as doutrinas, empregando causas e condições, metáforas e parábolas para expor e fazer distinções, e através destes meios expeditos levar todos os que o escutam a aspirarem à iluminação, a aumentarem pouco a pouco os seus méritos e a entrarem na via do Buddhado.Deve pôr de parte quaisquer ideias indolentes, todos os pensamentos de negligência ou facilidade, subtrair-se a preocupações e cuidados e com uma mente compassiva pregar a Lei.Dia e noite, constantemente, ele deve expor os ensinamentos da via insuperável, empregando causas e condições, imensuráveis metáforas e parábolas para instruir os seres viventes e fazer com que se alegrem.Vestuário e dormida, comida, bebida e medicação - em relação a estas coisas ele não deve ter expectativas, deve concentrar a sua mente nas razões para pregar a Lei, desejando completar a via do Buddha e fazer com que outros na assembleia o façam também.Isso trará grande proveito para eles, constituindo uma oferta de paz.Após eu ter passado à extinção se existirem monges capazes de expor este Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa as suas mentes serão livres de inveja, raiva e de todas as preocupações e impedimentos.Ninguém os incomodará, amaldiçoará ou insultará.Eles não conhecerão o medo, não serão atacados por espadas ou paus, nem serão nunca banidos, porque eles praticam a paciência.As pessoas sábias serão capazes de cultivarem assim as suas mentes e encontrarão a paz tal como eu expus anteriormente.As bênçãos dessas pessoas estão para lá de qualquer cálculo , metáfora ou parábola; milhares, dezenas de milhar, milhões de kalpas não seriam suficientes para os descrever.
“Além disso, Manjushri, se um bodhisattva ou mahasattva em idades vindouras, no último período, quando a Lei estiver quase a perecer, aceitar e abraçar, ler e recitar este sutra, ele não deve dar lugar a uma mente marcada pela inveja, a bajulação ou o engano. Ele não deve desprezar ou insultar aqueles que estudam o caminho do Buddha nem procurar os seus defeitos.
“Se existirem monges, monjas, leigos ou leigas que procurem tornar-se ouvintes ou pratyekabuddhas, ou que procurem a via do boddhisattva, não se deve perturbá-los causando-lhes dúvidas ou remorsos, dizendo-lhes, “Estais muito afastados do caminho e no final nunca sereis aptos para alcançar a sabedoria que abarca todas as espécies. Porquê? Porque sois pessoas auto indulgentes que negligenciam o caminho!”
“Também nunca devem envolver-se em debates frívolos sobre as várias doutrinas ou disputar ou discutir por causa delas. Em relação a todos os seres viventes, devem pensar neles com grande compaixão. Em relação ao Tathagata, pensem nele como um pai bondoso; em relação aos bodhisattvas, pensem neles como grandes mestres. Para com os grandes bodhisattvas das dez direcções, mantenham uma mente séria, prestando-lhes a devida obediência e respeito. Pregai a todos os seres viventes a Lei de forma equânime. Porque alguém é muito atento à Lei, isso não quer dizer que devam pregar mais ou menos. Mesmo para aqueles que demonstram um profundo amor pela Lei não se deve por isso pregar mais demoradamente.
Manjushri, se de entre estes bodhisattvas e mahasattvas existirem alguns que, no último período, quando a Lei estiver prestes a perecer, conseguirem levar a cabo este terceiro conjunto de práticas pacíficas, então quando eles pregarem esta Lei, estarão livres de ansiedade e confusão, e encontrarão bons estudantes com quem poderão ler e recitar este sutra. Atrairão uma grande assembleia de pessoas que virão escutar e aceitar. Após terem ouvido, abraçarão, após abraçarem, recitarão; após recitarem, pregarão; após pregarem, copiarão ou farão com que outros copiem, e apresentarão oferendas aos rolos dos sutras, tratando-os com reverência, respeito e louvor.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Se desejais pregar este sutra, deveis por de parte a inveja, o ódio, a arrogância, a mente bajuladora, enganosa e falsa, e praticar constantemente uma conduta honesta e recta.Não olheis os outros com desprezo nem mantenhais debates frívolos sobre as várias doutrinas.Não façais com que os outros tenham dúvidas ou remorsos dizendo, “Tu nunca te tornarás um Buddha!”Quando um filho de Buddha prega a Lei ele é em todas as ocasiões gentil e cheio de tolerância, tendo piedade e compaixão por todos, nunca dando lugar a uma mente negligente ou indolente.Os grandes bodhisattvas das dez direcções cumprem o caminho a partir da compaixão por todos.Deveis lutar para os respeitar e reverenciar, dizendo, “Estes são os grandes mestres!”Em relação aos Buddhas, os Honrados Pelo Mundo, aprendei a olhá-los como pais extremosos.Varrei a mente da vaidade e da arrogância e pregai a Lei sem impedimento.Este é o terceiro conjunto de regras; os sábios devem guardá-las e obedecê-las.Se observardes sem distracções estas práticas pacíficas, sereis respeitados por imensuráveis multidões.
Manjushri, se de entre estes bodhisattvas e mahasattvas existirem alguns que no último período, quando a Lei estiver prestes a perecer, aceitarem e abraçarem o Sutra do Lótus, devem cultivar para com os crentes que ainda não abandonaram a sua casa, ou aqueles que já abandonaram a sua casa, uma mente de grande compaixão, e devem pensar para si: Estas pessoas cometeram um erro grave. Apesar do Tathagata, recorrendo a um meio expedito, pregar a Lei de acordo com o que é apropriado, eles não ouvem, não sabem, não percebem, não perguntam, não acreditam, não entendem. Mas apesar destas pessoas não perguntarem, não acreditarem e não compreenderem este sutra, quando eu tiver alcançado annutara-samyak-sambhodi, onde quer que eu esteja, empregarei os meus poderes transcendentais e o poder da sabedoria para os atrair a mim e fazer permanecer nesta Lei.
“Manjushri, após o Tathagata ter entrado em extinção, se de entre os bodhisattvas e mahasattvas existirem alguns capazes de levar a cabo este conjunto de regras, então eles não cometerão nenhum erro ao pregarem a Lei. Monges, monjas, leigos e leigas, governantes, príncipes, ministros, pessoas comuns, brahmans e proprietários oferecer-lhes-ão constantemente esmolas e prestar-lhes-ão reverência, respeito e louvor. Os seres celestiais no céu, de modo a ouvirem a Lei, constantemente os seguirão e irão ter com eles. Se eles estiverem numa povoação, cidade, num lugar calmo e deserto ou numa floresta e as pessoas vierem e lhe colocarem questões difíceis, os seres celestiais, dia e noite pelo bem da Lei, guardá-los-ão e sustê-los-ão constantemente, fazendo com que todos os ouvintes rejubilem. Porquê? Porque este sutra está protegido pelos poderes sobrenaturais de todos os Buddhas do passado, do presente e do futuro.
“Manjushri, quanto a este Sutra do Lótus, através de imensuráveis números de terras, é impossível sequer ouvir o seu nome, quanto mais vê-lo, aceitá-lo e abraçá-lo, lê-lo e recitá-lo. Manjushri, supõe por exemplo, que existe um poderoso rei sábio que quer usar a sua força para subjugar outros países, mas os governantes mesquinhos não cumprem as suas ordens. Nessa altura o rei sábio convoca as suas várias tropas e prepara-se para atacar. Se o rei vê algum dos seus soldados que tenha ganho distinções no campo de batalha, ele fica deleitado e imediatamente recompensa a pessoa em questão de acordo com os seus méritos, doando terras, casas, povoados e cidades, ou vestes e adornos de uso pessoal, ou dando talvez objectos preciosos como ouro, prata, madrepérola, ágata, coral ou âmbar, ou elefantes, cavalos, carruagens, servos e servas e gente. Apenas a jóia brilhante que está no topo da sua cabeça ele não oferece. Porquê? Porque esta jóia existe apenas no topo da cabeça do rei, e se ele fosse a oferecê-la, os seus súbditos manifestariam grande consternação e alarme.
“Manjushri, o Tathagata é assim. Ele usa o poder da meditação e da sabedoria para conquistar territórios do Dharma e tornar-se rei do triplo mundo. Mas os reis demónios não querem obedecer e submeter-se. Os lideres militares sábios e meritórios do Tathagata envolvem-se na batalha e quando algum dos soldados do Buddha adquire distinção, o Buddha fica deleitado e entre os quatro tipos de crentes, ele prega vários sutras, alegrando os seus corações. Ele oferece-lhes meditações, emancipações, raízes e poderes livres de falhas, e outros tesouros da Lei. Ele oferece-lhes também a cidade do nirvana, dizendo-lhes que alcançaram a extinção, guiando as suas mentes e fazendo-os rejubilar. Mas ele não lhes prega o Sutra do Lótus.
“Manjushri, quando o rei sábio vê algum dos seus soldados que ganhou realmente uma grande distinção, ele fica tão deleitado que pega na jóia incrivelmente rara que há tanto tempo se encontra no topo da sua cabeça, nunca tendo sido dada, e oferece-a agora a esse homem. O Tathagata faz o mesmo. No triplo mundo ele actua como o grande rei do Dharma. Ele usa a Lei para ensinar e converter todos os seres viventes, atento aos sábios e meritórios exércitos, em luta com os demónios dos cinco componentes, os demónios dos desejos mundanos e o demónio da morte. E quando eles ganharam grandes distinções e méritos, secando os três venenos, vitoriosos sobre o triplo mundo e destruidores das redes dos demónios, o Tathagata enche-se de grande alegria. Este Sutra do Lótus é capaz de fazer com que todos os seres viventes alcancem a sabedoria. Enfrentará muita hostilidade no mundo e será difícil de acreditar. Nunca antes foi praticado mas agora eu prego-o.
“Manjushri, este Sutra do Lótus é o principal de entre todos os que o Tathagata prega. Entre todos os que são pregados é o mais profundo. E é conferido em última instância, tal como esse profundo governante fez quando pegou na jóia brilhante que tinha guardado por tanto tempo e finalmente a deu.
“Manjushri, este Sutra do Lótus é o repositório secreto dos Buddhas, os Tathagatas. Entre os sutras, detém o mais alto lugar. Através da longa noite eu guardei-o e protegi-o e nunca o propaguei imprudentemente. Mas hoje, pela primeira vez eu exponho-o para vosso benefício.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Praticai constantemente a perseverança, tende piedade de todos os seres, e fazei o vosso melhor para expor e pregar o sutra louvado pelo Buddha.Na última era vindoura aqueles que abraçam este sutra devem, quer se trate de pessoas que não deixaram as suas casas, pessoas que já as deixaram ou pessoas que não sejam bodhisattvas, cultivar a piedade e a compaixão, dizendo, “Se eles não ouvirem este sutra e não acreditarem nele, cometerão um grave erro.Se eu conquistar a via do bodhisattva, empregarei meios expeditos e pregarei a Lei para eles, fazendo com que a aceitem.Suponham que existe um poderoso rei sábio.Os seus soldados ganharam méritos na batalha e ele recompensa-os com vários artigos, elefantes, cavalos, carruagens, adornos pessoais, campos e casas, povoados e cidades, ou oferece-lhes roupas, vários tipos de objectos preciosos, servos e servas, riquezas e bens, atribuindo tudo isto alegremente.Mas se existir alguém corajoso e forte, que consiga levar a cabo feitos difíceis, o rei tira a jóia brilhante do seu toucado e oferece-a a esse homem.O Tathagata é assim.Ele procede como rei das doutrinas, possuindo o grande poder da perseverança e o precioso repositório da sabedoria, e com a sua grande piedade e compaixão converte as eras de acordo com a Lei.Ele vê todas as pessoas enquanto padecem de sofrimento e ansiedade, procurando a emancipação, lutando com os demónios, e pelo bem dos seres viventes ele prega as várias doutrinas, empregando grandes meios expeditos e pregando estes sutras.Quando ele sabe que os seres viventes alcançaram poderes através deles, então, no último momento, pelo seu bem, ele prega este Sutra do Lótus, tal como o rei que desata o seu toucado e oferece a sua jóia brilhante.Este sutra deve ser honrado como o maior de entre os sutras.Constantemente eu o guardo e protejo, e não o revelo propositadamente.Mas agora é a altura certa para eu o pregar para vós.Após eu ter entrado em extinção, se alguém procura a via do Buddha e espera ser capaz de a expor tranquilamente, então ele deve associar-se intimamente às quatro regras descritas.Qualquer um que leia este sutra estará em todas as ocasiões livre de preocupações e ansiedade; igualmente será livre de doenças ou dores, a sua expressão será fresca e brilhante.Ele não nascerá na pobreza ou necessidade, nem em circunstancias humildes ou adversas.Os seres viventes alegrar-se-ão ao vê-lo e olhá-lo-ão como a um sábio meritório.Os jovens filhos dos seres celestiais irão esperá-lo e servi-lo.Espadas e paus não o atingirão e os venenos não terão poder para o atingir.Se as pessoas o maldisserem e insultarem, as suas bocas serão fechadas e caladas.Ele passear-se-á sem medo como o rei leão.A sua sabedoria será brilhante como o sol; mesmo nos seus sonhos ele verá apenas coisas maravilhosas.Ele verá os Tathagatas sentados nos seus tronos de leão, pregando a Lei, rodeados por multidões de monges.Ele verá dragões, espíritos, asuras e outros, numerosos como as areias do Ganges, com as palmas das mãos unidas reverentemente, e pregará a Lei para eles.Verá ainda Buddhas, os seus corpos imbuídos de um brilho dourado, emitindo imensuráveis raios que brilham sobre todas as coisas, empregando os sons Brahma para exporem as doutrinas.Aos quatro tipos de crentes o Buddha pregará a Lei insuperável, e ele ver-se-á na sua presença, unindo as palmas das mãos louvando o Buddha.Ele ouvirá a Lei com deleite e oferecerá esmolas.Obterá dharanis e conhecerá a sabedoria que é sem regressão.E quando o Buddha souber que a sua mente entrou profundamente na via do Buddhado, dar-lhe-á uma profecia de que alcançará a mais alta e correcta iluminação.“Tu, bom homem, numa era vindoura obterás sabedoria imensurável, o grande caminho do Buddha.A tua terra será adornada e pura, incomparavelmente vasta e grande, com os quatro tipos de crentes que com as palmas das mãos unidas ouvirão a Lei.Ele ver-se-á ainda no meio de montanhas e florestas praticando a boa Lei, entendendo a verdadeira natureza de todos os fenómenos, profundamente imerso em meditação e vendo os Buddhas das dez direcções.Os Buddhas, com os seus corpos de um brilho dourado, adornados com as marcas de uma centena de diferentes bons auspícios, ouvir a Lei e pregá-la às pessoas -esses são os bons sonhos que ele tem constantemente.Ele sonhará ainda que é rei de um país e abandona os seus palácios e assistentes e os soberbos e maravilhosos objectos dos cinco desejos, dirige-se para o lugar da prática e sob uma árvore bodhi senta-se num assento de leão, buscando a via, e após sete dias alcança a sabedoria dos Buddhas.Tendo sido bem sucedido na via insuperável, levanta-se e faz girar a roda da Lei, pregando a Lei aos quatro tipos de crentes, durante milhares, dezenas de milhar, milhões de kalpas, pregando a maravilhosa Lei isenta de falhas, salvando imensuráveis seres viventes.Depois ele entrará no nirvana como fumo que se dissipa quando a chama se esgota.Se na época maligna vindoura alguém pregar esta suprema Lei, essa pessoa ganhará grandes benefícios, bênçãos tais como as acima descritas.
Capítulo Quinze: Emergindo da Terra
Nessa altura, os bodhisattvas e mahasattvas que se tinham reunido vindos das terras das outras direcções, numerosos como as areias de oito rios Ganges, colocaram-se no meio da grande assembleia, uniram as palmas das mãos, inclinaram-se em obediência e disseram ao Buddha: “Honrado Pelo Mundo, se nos permitires, na idade após o Buddha ter entrado em extinção, séria e diligentemente, proteger, ler, recitar copiar e oferecer esmolas a este sutra no mundo Saha, nós pregá-lo-emos largamente nesta terra!”
Nessa altura o Buddha disse aos bodhisattvas e mahasattvas: “Deixai, bons homens! Não há necessidade de vocês protegerem este sutra. Porquê? Porque neste meu mundo Saha existem bodhisattvas e mahasattvas numerosos como as areias de sessenta mil rios Ganges, e cada um destes bodhisattvas tem um séquito igual em número às areias de sessenta mil rios Ganges. Após eu ter entrado em extinção estas pessoas serão capazes de proteger, ler, recitar e largamente pregar este sutra.
Quando o Buddha disse estas palavras, a terra dos miriades países do mundo Saha estremeceu e abriu-se, e do seu seio emergiram no mesmo instante imensuráveis milhares, dezenas de milhares, milhões de bodhisattvas e mahasattvas. Os corpos destes bodhisattvas tinham um brilho de ouro, com os trinta e dois sinais distintivos e um imensurável brilho. Todos eles residiram previamente no mundo do espaço vazio sob mundo Saha. Mas quando estes bodhisattvas ouviram a voz do Buddha Shakyamuni emergiram desde baixo.
Cada um dos bodhisattvas era líder da sua grande assembleia, e trazia consigo um séquito igual às areias de cinquenta mil, quarenta, trinta, vinte ou dez mil rios Ganges. Ou um séquito de pelo menos as areias de um Ganges, meio Ganges ou um quarto de um rio Ganges, ou apenas uma parte em mil, dez mil, um milhão de nayutas de um rio Ganges. Alguns tinham um séquito de apenas mil dezenas de milhares de milhões de nayutas. Ou apenas dez mil milhões. Ou mil dezenas de milhar, cem dezenas de milhar ou apenas dez milhares. Ou apenas um milhar, uma centena ou uma dezena. Outros traziam consigo apenas cinco, quatro, três, dois ou um discípulo. Outros vinham sozinhos, preferindo levar a cabo práticas solitárias. Assim eram eles, imensuráveis, ilimitados, para lá de tudo o que possa ser conhecido através de cálculos, metáforas ou parábolas.
Após estes bodhisattvas terem emergido da terra, prosseguiu cada um até à maravilhosa torre de sete tesouros suspensa no céu onde se encontravam o Tathagata Muitos Tesouros e o Buddha Shakyamuni. Ao chegarem lá, voltaram-se para os dois Honrados Pelo Mundo, inclinaram as suas cabeças e prestaram obediência aos seus pés. Todos eles prestaram também obediência aos Buddhas sentados em tronos de leão sob as árvores de jóias. Então, circularam à sua volta para a direita três vezes, com as palmas das mãos unidas em sinal de respeito, utilizando os vários métodos dos bodhisattvas de prestar louvores, e então tomaram lugar a um lado, fitando alegremente os dois Honrados Pelo Mundo. Enquanto estes bodhisattvas e mahasattvas que tinham emergido da terra empregavam os vários métodos dos bodhisattvas para prestarem louvores, decorreu um intervalo de cinquenta pequenos kalpas.Nessa altura o Buddha Shakyamuni permaneceu silencioso e os quatro tipos de crentes permaneceram também calados durante cinquenta pequenos kalpas, mas devido aos poderes transcendentais do Buddha, pareceu aos membros da grande assembleia ter decorrido apenas meio dia.
Nessa altura os quatro tipos de crentes, também devido aos poderes sobrenaturais do Buddha, viram estes bodhisattvas encherem o céu sobre imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de terras. Entre estes bodhisattvas havia quatro líderes. O primeiro chamava-se Práticas Superiores(Visishtakâritra), o segundo Práticas ilimitadas(Anantakâritra), o Terceiro Práticas Puras(Visuddhakâritra) e o quarto Práticas Firmemente Estabelecidas(Supratishthitakâritra). Estes quatro bodhisattvas eram os líderes máximos e mestres guias entre todo o grupo. Na presença da grande assembleia, cada um deles uniu as palmas das suas mãos, fitou o Buddha Shakyamuni e perguntou: “Honrado Pelo Mundo, as vossas maleitas são poucas, poucas as vossas preocupações, as vossas práticas prosseguem confortávelmente? Aqueles a quem vos propusestes salvar recebem prontamente a instrução? O esforço não faz com que o Honrado Pelo Mundo fique fatigado ou esgotado?
Nessa altura os quatro grandes bodhisattvas falaram em verso, dizendo:
Está o Honrado Pelo Mundo confortável, com poucas doenças, poucas preocupações?Ao pregar e converter os seres viventes, podeis fazê-lo sem fadiga ou desgaste?E os seres viventes, recebem a instrução prontamente ou não?Isso não faz com que o Honrado Pelo Mundo fique fatigado ou esgotado?
Nessa altura, no meio da grande assembleia de bodhisattvas, o Honrado Pelo Mundo disse estas palavras: “Assim é, assim é, bons homens! O Tathagata está bem e satisfeito, com poucas maleitas e poucas preocupações.
Os seres viventes estão já convertidos e salvos e eu não estou fatigado nem esgotado. Porquê? Porque era após era no passado, os seres viventes receberam constantemente a minha instrução. Também ofereceram esmolas e prestaram reverência aos Buddhas do passado e plantaram várias boas raízes. Daí que quando estes seres viventes me vêem pela primeira vez e ouvem a minha pregação, todos a aceitam de imediato, entrando na sabedoria do Tathagata, com a excepção daqueles que anteriormente praticaram o Veículo Menor. E agora eu tornarei possível a estas pessoas ouvirem este sutra e entrarem na sabedoria do Buddha.”
Então os quatro grandes bodhisattvas falaram em verso dizendo:
Excelente, excelente, grande herói, Honrado Pelo Mundo!Os seres viventes estão já convertidos e salvos.Eles sabem como questionarem acerca da mais profunda sabedoria do Buddha, e tendo ouvido, acreditam e compreendem.Estamos por conseguinte radiantes.
Nessa altura o Honrado Pelo Mundo louvou os grandes bodhisattvas que lideravam o grupo, dizendo: “Excelente, excelente, bons homens! Vós sabeis rejubilar em vossos corações pelo Tathagata.”
Nessa altura o bodhisattva Maitreya e a multidão de bodhisattvas iguais em número às areias de oito mil rios Ganges pensaram todos para si: “Nunca no passado nós vimos ou ouvimos qualquer referência acerca de uma multidão de bodhisattvas e mahasattvas tão grande como esta que emergiu da terra e agora se encontra perante o Honrado Pelo Mundo, juntando as palmas das suas mãos, oferecendo esmolas e perguntando como está o Tathagata!”
Nessa altura, o bodhisattva Maitreya, conhecendo os pensamentos que iam na mente dos bodhisattvas numerosos como as areias de oito mil rios Ganges e desejando ao mesmo tempo esclarecer as suas próprias dúvidas, uniu as palmas das suas mãos, voltou-se para o Buddha e colocou a sua pergunta em verso:
Imensuráveis milhares, dezenas de milhar, milhões, uma grande multidão de bodhisattvas tal como nunca se viu no passado - rogo ao mais honrado dos seres humanos que explique de onde é que eles vieram, que causas e condições os reuniu!Com um corpo enorme,grandes poderes transcendentais, de sabedoria inconcebível, firmes de ideias e intenções, com o poder da grande perseverança, a visão da sua figura deleita os seres viventes - de onde é que eles vieram?Cada um destes bodhisattvas trás consigo um séquito imensurável em número, tal como as areias do Ganges.Alguns destes grandes bodhisattvas trazem consigo o equivalente às areias de sessenta rios Ganges.E esta grande multidão, com uma só mente, procura a via do Buddhado.Estes grandes mestres iguais em número às areias de sessenta rios Ganges, vieram em conjunto oferecer dádivas ao Buddha e guardar e sustentar este sutra.Mais numerosos são aqueles com tantos seguidores como as areias de quarenta mil, trinta mil, vinte mil, dez mil, mil, cem, ou mesmo de um rio Ganges, meio Ganges, um terço, um quarto, ou apenas uma parte em dezenas de milhares de milhões, mil, dez mil nayutas, dez mil, um milhão de discípulos, ou meio milhão - esses são ainda mais numerosos.Esses com um milhão ou dez mil seguidores, mil ou cem, cinquenta, dez, três, dois ou um, ou esses que vêem sozinhos, sem seguidores, deleitando-se na solidão, todos vêem ter com o Buddha - são ainda mais numerosos do que os acima descritos.Se alguém tentasse usar um ábaco para calcular o número desta grande multidão, ainda que despendesse tantos kalpas quantas as areias do Ganges nunca conheceria a soma total.Esta multidão de bodhisattvas com sua grande dignidade, virtude e diligência - quem pregou a Lei para eles, quem os ensinou e converteu e os trouxe até aqui?Sob os auspícios de quem conceberam eles pela primeira vez o pensamento da iluminação, que Lei Búddhica é que eles louvam e proclamam?Que sutra é que eles abraçam e seguem, que via Búddhica é que eles praticam?Estes bodhisattvas possuem poderes transcendentais e o poder da grande sabedoria.A terra nas quatro direcções treme e abre-se e eles emergiram todos do seu interior.Honrado Pelo Mundo, nunca no passado eu vi algo como isto!Rogo-te que me digas de onde eles vieram, o nome dessa terra.Tenho peregrinado constantemente de terra em terra mas nunca vi tal coisa.Em toda esta multidão não existe uma pessoa sequer que eu conheça.Subitamente surgiram da terra - rogo-te que expliques a causa.Os membros desta grande assembleia, imensuráveis centenas, milhares, milhões de bodhisattvas, todos querem saber estas coisas.Olhando as causas que governam o princípio e o fim desta multidão de bodhisattvas, possuidores de imensurável virtude, Honrado Pelo Mundo, rogamo-te que dissipes as dúvidas da assembleia!
Nessa altura, os Buddhas que eram emanações do Buddha Shakyamuni e tinham chegado de imensuráveis milhares, dezenas de milhar, milhões de terras nas outras direcções, estavam sentados com as pernas cruzadas em posição de lótus sentados em assentos de leão sob árvores de jóias nas oito direcções. Os assistentes destes Buddhas viram a grande multidão de bodhisattvas que tinham emergido da terra nas quatro direcções do universo e estavam suspensos no ar, e cada um disse ao seu respectivo Buddha: “Honrado Pelo Mundo, esta grande multidão de imensuráveis, ilimitados asamkhyas de bodhisattvas - de onde vieram eles?”
Nessa altura cada um dos Buddhas disse aos seus assistentes: “Bons homens, esperai um momento. Existe um bodhisattva e mahasattva de nome Maitreya que recebeu do Buddha Shakyamuni a profecia de que será o próximo a tornar-se um Buddha. Ele já perguntou acerca desta matéria e o Buddha está prestes a responder-lhe. Deveis aproveitar esta oportunidade para ouvir o que ele tem a dizer.”
Nessa altura o Buddha Shakyamuni disse ao bodhisattva Maitreya: “Excelente, excelente, Ajita, que tenhas questionado o Buddha acerca deste importante assunto.
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Sede diligentes e concentrados, pois eu desejo explicar este assunto.Não tenham dúvidas nem cuidados - a sabedoria do Buddha é difícil de conceber.Agora deveis recorrer ao poder da fé, atendo-se à paciência e à bondade.
Uma Lei nunca ouvida no passado ireis agora poder ouvir.Agora eu vos trarei descanso e consolação - não dêem guarida a dúvidas ou temores.O Buddha não tem senão palavras verdadeiras, a sua sabedoria é imensurável.Esta suprema Lei por ele ganha é muito profunda e não é passível de análise.Ele irá agora expo-la - devem ouvir com uma só mente.
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, tendo falado estes versos, disse ao bodhisattva Maitreya: “Em relação a esta grande multidão eu vou agora dizer-te. Ajita, estes bodhisattvas e mahasattvas que em imensuráveis e incontáveis asamkhyas emergiram da terra e que tu nunca antes tinhas visto - quando eu atingi anuttara-samyak-sambodhi no mundo Saha, converti e guiei estes bodhisattvas, treinei as suas mentes e fiz com que desenvolvessem um anseio pela via. Estes bodhisattvas residiram todos no mundo do espaço vazio sob o mundo Saha. Eles leram, recitaram, compreenderam as várias escrituras, ponderando-as, fazendo distinções e mantendo-as em mente de forma correcta.
Ajita, estes bons homens não têm qualquer deleite em estarem na assembleia nem em se entregarem a muita conversa. O seu deleite é estarem constantemente num lugar socegado, esforçando-se diligentemente e sem descanso. Nem se demoram entre seres humanos ou celestiais, mas deleitam-se constantemente na profunda sabedoria, livres de todos os impedimentos. Deleitam-se constantemente na Lei dos Buddhas, perseguindo diligentemente e sem distracções a insuperável sabedoria.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Ajita, deves compreender isto.Estes grandes bodhisattvas durante incomparáveis kalpas praticaram a sabedoria do Buddha.Todos foram convertidos por mim;eu fiz com que colocassem as suas mentes no grande caminho.
Estes são os meus filhos, residem neste mundo, levando a cabo constantemente práticas dhuta, preferindo um lugar tranquilo, rejeitando o desassossego e confusão da grande assembleia, sem se deleitarem muita conversa.Desta forma estes filhos estudam e praticam a minha via e a minha Lei.De modo a que, dia e noite, com diligencia constante, eles possam procurar a via do Buddhado neste mundo Saha eles residem na zona mais profunda do espaço vazio.Firmes no poder da vontade e da concentração, procurando a sabedoria com diligência constante, eles expõem várias doutrinas maravilhosas e as suas mentes não têem medo.Quando eu estava na cidade de Gaya, sentado sob a árvore bodhi, alcancei a mais alta e correcta iluminação e fiz girar a roda da Lei insuperável.Então eu ensinei-os e converti-os, fazendo-os pela primeira vez colocar as suas mentes no caminho.Agora todos eles se encontram no estado de não regressão e todos a seu tempo conseguirão tornar-se Buddhas.O que eu digo agora são palavras verdadeiras - com uma só mente deveis acreditar nelas!Sempre desde o remoto passado eu estive ensinando e convertendo esta multidão.
Nessa altura o bodhisattva e mahasattva Maitreya, bem como os outros incontáveis bodhisattvas, sentiram aparecer em suas mentes dúvidas e perplexidades. Estavam confusos com esse facto que nunca tinha ocorrido antes e pensavam para si: Como pôde o Honrado Pelo Mundo, em tão curto espaço de tempo, ter ensinado e convertido este número imensurável, de ilimitadas asamkhyas de bodhisattvas permitindo-lhes alcançarem anuttara-samyak-sambodhi?
Então Maitreya disse ao Buddha: “Honrado Pelo Mundo, quando o Tathagata foi coroado príncipe, deixou o palácio dos Shakyas e sentou-se no lugar da prática, não longe da cidade de Gaya, e aí atingiu anuttara-samyak-sambodhi, apenas passaram quarenta anos desde então. Honrado Pelo Mundo, como em tão curto espaço de tempo pode realizar tanto trabalho enquanto Buddha? Foi através dos poderes do Buddha, ou através das bênçãos do Buddha que foi capaz de ensinar e converter um tal número imensurável de grandes bodhisattvas - uma pessoa podia despender mil, dez mil, um milhão de kalpas contando-os sem nunca ser capaz de chegar ao fim ou de descobrir o limite! Desde o remoto passado, na presença de imensuráveis, ilimitados números de Buddhas, eles devem ter plantado boas raízes, levado a cabo a via do bodhisattva, e se empenhado constantemente em práticas brahma. Honrado Pelo Mundo, é difícil para o mundo acreditar em tal coisa!
Suponha por exemplo que um jovem de vinte e cinco anos, compleição robusta e cabelo ainda preto, apontasse para alguém com cem anos de idade e dissesse, “Este é o meu filho!” ou que o de cem anos apontasse para o jovem e dissesse, “Este é o meu pai que me gerou e criou!” Isto seria difícil de acreditar, e é isto o que o Buddha diz.
“Na verdade, não passou muito tempo desde que alcanças-te a via. Mas esta grande multidão de bodhisattvas já se aplicou diligente e esforçadamente durante imensuráveis milhares, dezenas de milhares, milhões de kalpas em prol do caminho do Buddhado. Eles aprenderam a entrar, emergir e permanecer em imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de samadhis, adquiriram grandes poderes transcendentais, levaram a cabo praticas brahma durante um longo período, e conseguiram passo a passo praticar várias boas doutrinas, tornando-se versados em perguntas e respostas, um tesouro entre as pessoas, algo raramente conhecido em todos os mundos. E hoje, Honrado Pelo Mundo, tu dizes-nos que , no tempo que decorreu desde que atingistes o Buddhado, fizes-te com que estas pessoas aspirassem pela primeira vez à iluminação, as ensinas-te, convertes-te e guiás-te, dirigindo-as até annutara-samyak-sambodhi!
“Honrado Pelo Mundo, não foi há muito que atingiste o Buddhado, e ainda assim foste capaz de levar a cabo este feito tão meritório! Nós temos fé no Buddha, acreditando que ele prega em conformidade com o que é apropriado, que as palavras ditas pelo Buddha nunca são falsas e que a sabedoria do Buddha é, em todos os casos, penetrante e vasta. No entanto, no período após o Buddha ter entrado em extinção, se alguns bodhisattvas que tenham começado a aspirar à iluminação ouvirem estas palavras, irão possivelmente não acreditar nelas e rejeitá-las, sendo assim levados a incorrer no crime de rejeitar a Lei. Assim, Honrado Pelo Mundo, rogamo-te que expliques de modo a podermos dissipar as nossas dúvidas e assim, em eras futuras, quando bons homens ouçam esta matéria, não alimentem quaisquer dúvidas!
Nessa altura, o bodhisattva Maitreya, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
No passado o Buddha deixou o clã Shakya, abandonou a sua casa, e perto de Gaya sentou-se sob a árvore bodhi.Pouco tempo passou desde então, no entanto estes filhos de Buddha são imensuráveis em número!Durante muito tempo eles praticaram já o caminho do Buddhado, praticando poderes transcendentais e o poder da sabedoria, aprendendo habilmente a via do Bodhisattva, impolutos pelas coisas mundanas como a flor do lótus sobre a água.Emergindo da terra, todos demonstram uma mente reverente e respeitadora perante o Honrado Pelo Mundo.Isto é difícil de conceber - como podemos acreditá-lo?O Buddha atingiu a via muito recentemente, ainda assim aqueles a quem ele ajudou a obter sucesso são tantos!Pedimo-te que dissipes as dúvidas da assembleia, que estabeleças distinções e expliques a verdade sobre esta matéria.É como se um homem jovem acabado de fazer vinte e cinco anos apontasse um velho centenário de cabelo branco e face enrugada e dissesse, “Eu gerei-o!” e o velho dissesse, “Este é o meu pai!”
O pai jovem, o filho velho - ninguém no mundo acreditaria nisto!Honrado Pelo Mundo, o teu caso é similar.Apenas recentemente alcançaste o Buddhado.Estes bodhisattvas são de vontade firme.de forma alguma tímidos ou imaturos.Por imensuráveis kalpas têm praticado a via do bodhisattva.Eles são sagazes nas perguntas e respostas difíceis, as suas mentes não conhecem o medo.Eles cultivaram firmemente uma mente perseverante, recta em dignidade e virtude.São louvados pelos Buddhas das dez direcções Como capazes e peritos na pregação das distinções.Eles não têm desejo de permanecer entre a multidão mas constantemente preferem o estado de meditação, e de modo a procurarem a via do Buddhado têm residido no espaço sob a terra.Isto nós ouvimos do Buddha e não temos dúvidas a esse respeito.Mas pelo bem das eras futuras nós pedimos ao Buddha que explique e torne compreensível.Se em relação a este sutra alguém levantar dúvidas e deixar de acreditar, cairá de imediato nos caminhos malignos.Assim pedimos-te que expliques.Estes imensuráveis bodhisattvas - como em tão pouco tempo os ensinaste fazendo-os ter uma mente votada à iluminação e chegarem ao estado de não regressão?
Capítulo Dezesseis: A Duração da Vida do Tathagata
Nessa altura o Buddha disse aos bodhisattvas e à grande assembleia “Bons homens, vocês devem acreditar e compreender as palavras verdadeiras do Tathagata.” E disse ainda à grande assembleia: “Deveis acreditar e compreender as palavras verdadeiras do Tathagata.” E uma vez mais disse à grande assembleia: “Deveis acreditar e compreender as palavras verdadeiras do Tathagata.”
Nessa altura os bodhisattvas e a grande assembleia, com Maitreya como líder, juntaram as palmas das mãos e dirigiram-se ao Buddha, dizendo: “Honrado Pelo Mundo, pedimo-vos que expliqueis. Nós acreditaremos e aceitaremos as palavras do Buddha.”
Nessa altura o Honrado Pelo Mundo, vendo que os bodhisattvas repetiram o seu pedido mais de três vezes, disse-lhes: “Deveis ouvir com atenção o segredo do Tathagata e os seus poderes transcendentais. Em todos os mundos os seres celestiais e humanos e os asuras acreditam que o presente Buddha Shakyamuni, após abandonar o palácio dos Shakyas, sentou-se no lugar da prática não longe da cidade de Gaya e aí alcançou anuttara-samyak-sambodhi. Mas bons homens, foi há imensuráveis, ilimitadas centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de kalpas que eu de facto atingi o Buddhado.
“Suponham que uma pessoa pegava em quinhentos, mil, dez mil, um milhão de nayutas de asamkhyas de mundos e os reduzia a pó. Então, dirigindo-se para Leste, a cada vez que passava por quinhentos, mil, dez mil, um milhão de nayutas de ashankyas de mundos ele largava uma partícula de pó. Ele continuava para Leste desta forma até acabar de largar todas as partículas. Bons homens, qual é a vossa opinião? Pode o número total de todos estes mundos ser imaginado ou calculado?
O bodhisattva Maitreya e todos os outros disseram ao Buddha: “Honrado Pelo Mundo, esses mundos são imensuráveis, ilimitados - o seu número não pode ser calculado nem a mente tem o poder de o abranger. Mesmo todos os ouvintes e pratyekabuddhas com a sua sabedoria livre de impedimentos são incapazes de imaginar ou compreender quão numerosos eles são. Ainda que estivéssemos no estado de avivartika, não poderíamos compreender tal soma. Honrado Pelo Mundo, esses mundos são imensuráveis e ilimitados.”
Nessa altura o Buddha disse à multidão de grandes bodhisattvas: “Bons homens, agora vou afirmar isto claramente. Suponham que esses mundos, quer tivessem ou não recebido uma partícula de pó eram uma vez mais reduzidos a poeira e que cada partícula representa um kalpa. O tempo que passou desde que eu atingi o Buddhado ultrapassa este número em centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de nayutas de asamkhyas de kalpas.
“Sempre desde então eu estive neste mundo Saha, pregando a Lei, ensinando e convertendo, e guiei e beneficiei os seres viventes em centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de nayutas de asamkhyas de terras.
“Bons homens, durante este tempo eu falei através do Buddha Tocha Ardente e outros, e descrevi como eles entraram no nirvana. Tudo isto eu utilizei como um meio expedito para estabelecer distinções.
“Bons homens, se os seres viventes vêem ter comigo, eu emprego a minha visão Búddhica para observar a sua fé e para ver se as suas outras faculdades são apuradas ou não, e então, dependendo de quão receptivos à salvação eles estão eu apareço em diferentes lugares e prego para eles sob diferentes nomes, e durante o período de tempo em que os meus ensinamentos serão mais eficientes. Por vezes, quando faço a minha aparição, digo que estou prestes a entrar no nirvana, e emprego também diferentes meios expeditos para pregar a subtil e maravilhosa Lei, fazendo assim os seres viventes despertarem as suas mentes radiantes.
“Bons homens, o Tathagata observa como entre os seres humanos existem aqueles que se deleitam numa Lei menor, de virtude escassa e pesados de impurezas. A essas pessoas eu descrevo como na minha juventude eu deixei a vida familiar e alcancei annutara-samyak-sambodhi. Mas na verdade, o tempo que passou desde que eu atingi o Buddhado é extremamente longo, tal como te disse. É somente um meio expedito que eu utilizo para ensinar e converter os seres viventes e levá-los a entrar na via do Buddhado. É por isto que eu falo desta forma.
“Bons homens, as escrituras expostas pelo Tathagata têm todas o propósito de salvar e emancipar os seres viventes. Por vezes falo de mim, por vezes de outros; por vezes apresento a mim, por vezes a outros; por vezes mostro as minhas próprias acções, por vezes as dos outros. Tudo quanto eu prego é verdadeiro e não falso.
Porque faço isto? O Tathagata percebe o verdadeiro aspecto do triplo mundo tal qual ele é. Não existem quaisquer marés de vida e morte e não há qualquer existência neste mundo nem posterior extinção. Não é nem substancial nem vazio, nem consistente nem diverso. Nem é aquilo que os que vivem no triplo mundo entendem que é. Todas essas coisas o Tathagata vê claramente e sem erro.
“Porque os seres viventes têm diferentes naturezas, diferentes desejos, diferentes acções e diferentes modos de pensar e fazer distinções, e porque eu quero capacitá-los a plantarem boas raízes, emprego uma variedade de causas e condições, metáforas, parábolas e frases para pregar diferentes doutrinas. Assim, nunca por um momento eu negligenciei o trabalho dos Buddhas.
“Assim, desde que eu atingi o Buddhado, um período de tempo extremamente longo passou. A minha vida tem uma duração de um imensurável número de ashamkyas de kalpas, e durante esse tempo eu residi constantemente aqui sem nunca entrar em extinção. Bons homens, originalmente eu pratiquei a via do Bodhisattva, e a duração de vida que eu adquiri aí está ainda longe de chegar ao fim e durará o dobro do número de anos que já passaram. Agora, no entanto, ainda que eu de facto não entre em extinção, eu anuncio que vou adoptar o curso da extinção. Isto é um meio expedito que o Tathagata usa para ensinar e converter os seres viventes.
“Porque faço isto? Porque se o Buddha permanecer no mundo por um longo período de tempo, aquelas pessoas de vistas estreitas deixarão de plantar boas raízes e, vivendo na pobreza e na solidão, ficarão apegadas aos cinco desejos e acabarão presas na rede dos pensamentos e imaginações ilusórios. Se eles virem que o Tathagata está constantemente no mundo e nunca entra em extinção, eles tornar-se-ão arrogantes e egoístas, ou ficarão desencorajados e negligentes. Eles não perceberão quão difícil é encontrar o Buddha e não se aproximarão com uma mente respeitosa e reverente.
“Por isso, como um meio expedito o Tathagata diz: “Monges, deveis saber que é muito raro viver num tempo em que um Buddha apareça no mundo.” Por que age ele assim? Porque as pessoas de escassa virtude podem passar centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de Kalpas conseguindo alguns deles ver um Buddha e outros nunca vendo nenhum. Por esta razão eu lhes digo: “Monges, o Tathagata é raro de encontrar.” Quando os seres viventes ouvem estas palavras, eles percebem quão difícil é encontrar o Buddha. Nas suas mentes eles abrigarão um anseio e estarão sequiosos de verem o Buddha, e então, eles esforçar-se-ão por plantar boas raízes. Daí que o Tathagata, ainda que na verdade não entre em extinção, fala em passar à extinção.
“Bons homens, os Buddhas e Tathagatas pregam todos uma Lei como esta. Eles actuam por forma a salvar todos os seres viventes, por isso, o que eles fazem é verdadeiro e não falso.
“Suponham, por exemplo, que existia um médico hábil que, sábio e conhecedor, sabia compor remédios para todos os tipos de doenças. Ele tinha muitos filhos, talvez dez, vinte ou mesmo cem. Ele ausentou-se para outra terra muito longe para tratar de qualquer assunto. Após a sua partida, as crianças beberam um tipo de veneno que as fez desesperar de dor e caírem por terra.
“Nessa altura o pai regressou a sua casa e descobriu que as crianças tinham tomado veneno. Algumas estavam completamente fora de si, enquanto outras não. Vendo o seu pai ao longe, elas rejubilaram de alegria e ajoelharam-se e suplicaram-lhe: “Que bom que voltas-te são e salvo. Nós fomos descuidados e por engano tomamos veneno. Rogamo-te que nos cures por forma a que possamos viver!”
“O pai, vendo as suas crianças sofrerem assim, seguiu várias receitas. Juntando boas ervas medicinais que reuniam todos os requisitos de cor, fragrância e sabor, moeu-as, agitou-as e misturou-as. Dando uma dose a cada um dos seus filhos, ele disse-lhes: “Este é um remédio muito eficaz, reunindo todos os requisitos de cor, fragrância e sabor. Tomai-o e rapidamente ficareis aliviados dos vossos sofrimentos e livres de todas as doenças.”
“As crianças que não tinham perdido o seu juízo podiam ver que esta era um bom remédio, excelente em cor e fragrância, de modo que o tomaram imediatamente e ficaram curados de toda a doença. Aqueles que estavam fora de si ficaram igualmente encantados por ver o seu pai regressar e rogaram-lhe que curasse a sua doença, mas quando receberam o remédio recusaram-se a tomá-lo. Porquê? Porque o veneno tinha penetrado profundamente e as suas mentes já não funcionavam como antes. Por isso, ainda que o remédio fosse de cor e fragrância excelentes, eles não perceberam a sua qualidade.
“O pai pensou para si: minhas pobres crianças! Devido ao veneno que tomaram, as suas mentes estão completamente confusas. Apesar de estarem alegres por me verem e me peçam que as cure recusam-se a tomar este excelente remédio. Tenho de recorrer a qualquer meio expedito para os levar a tomar o remédio. Então ele disse-lhes: “Vós deveis saber que eu estou velho e acabado, e a hora da minha morte chegou. Vou deixar este bom remédio aqui. Deveis tomá-lo sem se preocuparem se ele vos vai curar ou não” Tendo dado estas instruções, retirou-se para outra terra de onde mandou um mensageiro aos seus filhos com a notícia da sua morte.
“Nessa altura as crianças, ouvindo dizer que o seu pai as tinha deixado e morrido, ficaram cheias de dor e consternação e pensaram para si: se o nosso pai estivesse vivo ele compadecer-se-ia de nós e estaríamos protegidos. Mas agora ele abandonou-nos e morreu num qualquer país distante. Somos órfãos desprotegidos sem ninguém em quem confiar!
“Constantemente imbuídos destes sentimentos de dor, recuperaram finalmente os sentidos e viram que o remédio era de facto excelente em cor, fragrância e sabor, e assim eles tomaram-no e ficaram curados dos efeitos do veneno. O pai, ouvindo dizer que as suas crianças estavam curadas, regressou de imediato a casa e apareceu-lhes novamente.
“Bons homens, qual é a vossa opinião? Pode alguém dizer que este hábil médico é culpado de mentir?”
“Não, Honrado Pelo Mundo.”
O Buddha disse: “É o mesmo comigo. Passaram imensuráveis, ilimitadas centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de nayutas de ashamkyas de kalpas desde que eu atingi o Buddhado. Mas pelo bem dos seres viventes eu emprego o poder dos meios espeditos e digo que estou em vias de passar à extinção. Em vista das circunstâncias, no entanto, ninguém pode dizer que sou culpado de mentiras ou falsidades.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Desde que alcancei o Buddhado o número de kalpas que passaram é de imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões, triliões, ashamkyas.Preguei constantemente a Lei, ensinando, convertendo incontáveis milhões de seres viventes, fazendo-os entrar na via do Buddhado, tudo isto por kalpas imensuráveis.De modo a salvar os seres viventes, como um meio expedito eu aparento entrar no nirvana mas na verdade não entro em extinção.Estou sempre aqui pregando a Lei.Estou sempre aqui, mas através dos meus poderes transcendentais faço com que os seres viventes na sua confusão não me vejam mesmo estando por perto.Quando a multidão vê que eu passei à extinção, por toda a parte oferecem esmolas às minhas relíquias.
Todos abrigam sentimentos de ansiedade e nas suas mentes estão sequiosos por me ver.Quando os seres viventes se tornaram realmente fieis, honestos e rectos, de intenção branda, desejando concentradamente ver o Buddha,sem hesitarem mesmo que lhes custe a vida, então eu e a assembleia de monges, aparecemos no Pico da Águia Sagrada.Nessa altura eu digo aos seres viventes que estou sempre aqui, sem nunca entrar em extinção, mas devido ao poder dos meios expeditos umas vezes pareço estar extinto, outras não, e se noutras terras existirem seres viventes que sejam reverentes e sinceros no seu desejo de acreditar,então também entre eles eu prego a Lei insuperável.Mas vocês não ouviram nada disto,por isso julgam que eu entrei em extinção.Quando eu olho para os seres viventes, vejo-os afogados num mar de sofrimento; por isso eu não apareço, fazendo-os ansiar por mim.Então, quando as suas mentes estão cheias de ansiedade, eu apareço por fim e prego-lhes a Lei.Assim são os meus poderes transcendentais.Durante ashamkyas de kalpas, residi constantemente no Pico da Águia Sagrada e em vários outros lugares.Quando os seres viventes presenciam o final de um kalpa e tudo é consumido num grande fogo, a minha terra permanece segura e tranquila, repleta constantemente de seres celestiais e humanos.Os vestíbulos e pavilhões dos seus jardins e bosques são adornados com vários tipos de jóias.Árvores de jóias , abundantes de flores e frutos, onde os seres viventes se comprazem ávontade.Os deuses batem os tambores celestiais produzindo vários tipos de músicas.Chovem flores de mandarava, espalhando-se sobre o Buddha e a grande assembleia.A minha terra pura não é destruída, no entanto a multidão vê-a consumida pelo fogo, cheia em toda a parte de ansiedade, medo e outros tormentos.Estes seres viventes, com as suas várias faltas, através de causas originadas pelas suas más acções, passam ashamkyas de kalpas sem ouvirem o nome das Três Jóias.Mas aqueles que praticam acções meritórias, que são brandos, pacíficos, honestos e rectos, todos eles me verão aqui em pessoa, pregando a Lei.Por vezes, eu descrevo a esta multidão a duração da vida do Tathagata como imensurável, e àqueles que apenas vêem o Buddha após um longo período de tempo eu explico como é difícil encontrar o Buddha.Tal é o poder da minha sabedoria cujos raios sagazes brilham sem medida.Esta duração de vida de incontáveis kalpas obtive-a mediante uma longa prática.Vós que sois dotados de sabedoria, não deveis manter quaisquer dúvidas sobre este ponto!Libertai-vos delas, dai-lhes um fim para sempre, porque as palavras do Buddha são verdadeiras e não falsas.Ele é como um hábil médico que usa um meio expedito para curar os seus filhos transtornados.Apesar de estar vivo, ele faz constar a sua morte, no entanto ninguém pode dizer que ele falou com falsidade.Eu sou o pai deste mundo, salvando aqueles que sofrem e estão aflitos.Devido à confusão das pessoas comuns, apesar de estar vivo, eu anuncio que entrei em extinção.Porque se elas me vissem constantemente, a arrogância e o egoísmo apareceriam nas suas mentes.Abandonando a contenção, entregar-se-iam aos cinco desejos e cairiam nos caminhos malignos da existência.Estou constantemente consciente dos seres viventes que praticam a via e daqueles que o não fazem, e em resposta às suas necessidades de salvação prego para eles várias doutrinas.Em todas as ocasiões penso para mim mesmo:Como posso fazer os seres viventes entrarem na via insuperável e obterem rapidamente o corpo de um Buddha?
Capítulo Dezessete: Distinção de Benefícios
Nessa altura, quando a grande assembleia ouviu o Buddha contar como a sua vida durou um tão grande número de kalpas, imensuráveis, ilimitadas ashamkyas de seres viventes obtiveram uma grande variedade de benefícios.
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo disse ao bodhisattva e mahasattva Maitreya: “Ajita, quando eu descrevi como a vida do Tathagata dura por tal longuíssimo tempo, seres viventes numerosos como as areias de seiscentos e oitenta dezenas de milhares, milhões, nayutas de Ganges alcançaram a verdade do não-nascimento. Bodhisattvas e mahasattvas mil vezes mais numerosos obtiveram o ensinamento do dharani que lhes permite reterem tudo quanto ouçam. Bodhisattvas e mahasattvas numerosos como as partículas de pó de um mundo obtiveram a eloquência que lhes permite falar agradavelmente e sem impedimentos. Bodhisattvas e mahasattvas numerosos como as partículas de pó de um mundo obtiveram dharanis que lhes permitem memorizar centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões, imensuráveis repetições dos ensinamentos. Bodhisattvas e mahasattvas numerosos como as partículas de pó de um universo foram capazes de fazer girar a irregressível roda da Lei. Bodhisattvas e mahasattvas numerosos como as partículas de pó de duzentas terras de tamanho médio foram capazes de fazer girar a pura roda da Lei. Bodhisattvas e mahasattvas numerosos como as partículas de pó de cem pequenas terras tiveram a garantia de que alcançariam annutara-samyak-sambodhi ao fim de oito renascimentos. Bodhisattvas e mahasattvas numerosos como as partículas de pó de quatro mundos tetracontinentais tiveram a garantia de que alcançariam annutara-samyak-sambodhi ao fim de quatro renascimentos. Bodhisattvas e mahasattvas numerosos como as partículas de pó de três mundos tetracontinentais tiveram a garantia de que alcançariam annutara-samyak-sambodhi ao fim de dois renascimentos. Bodhisattvas e mahasattvas numerosos como as partículas de pó de dois mundos tetracontinentais tiveram a garantia de que alcançariam annutara-samyak-sambodhi ao fim de dois renascimentos. Bodhisattvas e mahasattvas numerosos como as partículas de pó de um mundo tetracontinental tiveram a garantia de que alcançariam annutara-samyak-sambodhi ao fim de um renascimento. Seres viventes numerosos como as partículas de pó de oito mundos foram levados a estabelecer as suas mentes em anuttara-samyak-sambodhi.
Quando o Buddha anunciou que estes bodhisattvas e mahasattvas tinham obtido os grandes benefícios da Lei, do ar choveram flores de mandarava e grandes flores de mandarava, espalhando-se sobre imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de Buddhas que estavam sentados em tronos de leão sob as árvores de jóias, e espalharam-se também sobre o Buddha Shakyamuni e sobre o Tathagata Muitos Tesouros, que há muito entrou em extinção, ambos sentados em tronos de leão na torre de sete tesouros. Espalharam-se também sobre todos os grandes bodhisattvas e sobre os quatro tipos de crentes. Além disso, choveu um pó fino de sândalo e aloés e em pleno ar soaram tambores celestiais com notas maravilhosas, profundas e de grande alcance. Choveu também uma grande variedade de mantos celestiais, engalanados com fiadas de pérolas e de várias jóias, espalhando-se por toda a parte pelas dez direcções. Em incensórios encrustados de jóias ardiam incensos preciosos, a sua fragrância espalhando-se por toda a parte como uma dádiva à grande assembleia. Sobre cada um dos Buddhas apareceram bodhisattvas segurando estandartes e dosséis, em fileiras que chegavam até ao paraíso de Brahma. Esses bodhisattvas empregavam as suas maravilhosas vozes cantando imensuráveis hinos de louvor aos Buddhas.
Nessa altura o bodhisattva Maitreya levantou-se do seu lugar, descobriu o ombro direito, juntou as palmas das suas mãos e, virando-se para o Buddha falou em verso, dizendo:
O Buddha prega uma Lei rara, nunca antes ouvida.O Honrado Pelo Mundo possui grandes poderes e a duração da sua vida não pode ser medida.Os incontáveis filhos de Buddha ouvindo o Honrado Pelo Mundo fazer distinções e descrever os benefícios da Lei que irão alcançar, vêm os seus corpos repletos de alegria.Uns residem no estado de não regressão, outros obtiveram dharanis, outros ainda podem falar agradavelmente e sem impedimentos ou reter dezenas de milhar, milhões de repetições dos ensinamentos.Alguns bodhisattvas numerosos como as partículas de pó de um milhar de grandes mundos são capazes de fazer girar a roda irreversível da Lei.Alguns bodhisattvas numerosos como as partículas de pó de um milhar de mundos médios são capazes de fazer girar a pura roda da Lei.Alguns bodhisattvas numerosos como as partículas de pó de um milhar de pequenos mundos têm a garantia de que após mais oito renascimentos estarão aptos a completar a via do Buddhado.Alguns bodhisattvas numerosos como as partículas de pó de quatro, três, duas vezes os quatro continentes alcançarão a sabedoria após mais um renascimento.Então, quando os seres viventes ouviram a grande duração da vida do Buddha, obtiveram puros frutos e recompensas imensuráveis e livres de falhas.Além disso, seres viventes numerosos como as partículas de pó de oito mundos, ouvindo o Buddha descrever a duração da sua vida, estabeleceram as suas mentes na via insuperável.O Honrado Pelo Mundo prega a Lei que é imensurável e não pode ser concebida e os que disso beneficiam são muitos, ilimitados como o espaço aberto.Choveram flores celestiais de mandarava e grandes flores de mandarava;Shakyas e Brahmas, incontáveis como as areias do Ganges, chegaram de inumeráveis terras Búddhicas.Choveu uma fina poeira de sândalo e aloés; como pássaros voando no céu espalharam-se como oferenda sobre os Buddhas.Em pleno ar tambores celestiais emitiram maravilhosos sons;Mantos celestiais aos milhares, dezenas de milhar, milhões, desceram esvoaçantes; incensórios maravilhosos incrustados de jóias queimaram preciosos incensos que se espalharam por toda a parte, como oferenda a todos os Honrados Pelo Mundo.A multidão de grandes bodhisattvas segurou estandartes e dosséisadornados com os sete tesouros, em dezenas de milhar, milhões de variedades, altivos, maravilhosos, em fileiras que chegavam ao paraíso Brahma.Perante cada um dos Buddhas pendiam estandartes decorados com jóias e magnificas bandeiras, enquanto em milhares, dezenas de milhares de versos os louvores ao Honrado Pelo Mundo eram entoados.Todas estas muitas coisas nunca foram conhecidas no passado.Ouvindo dizer que a duração da vida do Buddha é imensurável, todos os seres se encheram de alegria.O nome de Buddha é ouvido pelas dez direcções, beneficiando largamente os seres viventes, e todos foram dotados de boas raízes para ajudar a estabelecer as suas mentes na via insuperável.
Nessa altura o Buddha disse ao bodhisattva e mahasattva Maitreya: Ajita, se existirem seres viventes que, ao ouvirem que a duração da vida do Buddha é tão longa, forem capazes de acreditar e compreender, ainda que um momento, os benefícios que eles alcançarão serão sem limite ou medida. Supõe que existem bons homens ou boas mulheres que, em prol de anuttara-samyak-sambodhi, durante um período de oitocentos milhões de nayutas de kalpas pratica os cinco paramitas - os paramitas de dana (generosidade), shila (observância dos preceitos), kshanti (tolerância), virya (perseverança) e dhyana (meditação), estando omisso o paramita de prajna (sabedoria) - os benefícios alcançados desta forma seriam uma centésima parte, uma milésima parte, uma multiquadrilionésima parte dos benefícios mencionados previamente. De facto, está para além do poder de cálculo, metáfora ou parábola a definição dessa comparação. Para esses bons homens que alcançaram tais benefícios previamente mencionados, regredir sem alcançar anuttara-samyak-sambodhi é completamente inconcebível.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Se alguém em busca da sabedoria Búddhica por um período de oitocentos mil milhões de nayutas de kalpas praticar os cinco paramitas, durante todos esses kalpas distribuindo ofertas de esmolas aos Buddhas, aos pratyekabuddhas e discípulos, e à multidão de bodhisattvas, iguarias raras, ricos artigos de enxoval e peças de vestuário, construindo mosteiros de sândalo adornados com jardins e bosques, se ele distribuir esmolas de muitas variedades, todas elas refinadas e maravilhosas, e repetir isto por todos esses kalpas para exprimir a sua devoção ao caminho do Buddhado; e se além disso ele cumprir os preceitos, com pureza e sem omissão ou falha, procurando a via insuperável, louvada pelos Buddhas; e se ele praticar a tolerância, permanecendo numa posição submissa e dócil, mesmo quando assolado por vários males, não se deixando agitar ou influenciar quando outros, convencidos de que alcançaram a Lei se entregarem a pensamentos arrogantes, tratando-o com desprezo e vexando-o, se ele suportar isso com paciência; e se ele for diligente e perseverante, sempre firme de intenção e pensamento, concentrado durante imensuráveis milhões de kalpas, nunca negligente ou descuidado, residindo num lugar deserto e socegado por kalpas incontáveis; e se ele praticar exercícios sentado ou em andamento, eliminando a sonolência, regulando constantemente a sua mente, e em resultado dessas acções for capaz de produzir estados meditativos, permanecendo calmo durante oitenta dezenas de milhares de milhões de kalpas, a sua mente sempre clara e sem confusão;e se ele, com base nas bênçãos desta concentração procurar a via insuperável, dizendo, “Eu alcançarei a sabedoria e esgotarei todos os estados de meditação!”; se esta pessoa levar a cabo as práticas acima descritas durante cem, mil, dez mil, um milhão de kalpas, as bênçãos obtidas desta forma serão ainda assim menores do que as dos bons homens e boas mulheres que me ouçam descrever a duração da minha vida e acreditem ainda que por um momento.Se uma pessoa é completamente livre de quaisquer dúvidas ou hesitações, se no fundo da sua mente acreditar por um instante, as suas bênçãos serão como disse.Estes bodhisattvas que praticaram a via durante imensuráveis kalpas, quando me ouvem descrever a duração da minha vida são capazes de acreditar e aceitar o que eu digo.Estas pessoas aceitarão este sutra com gratidão, dizendo, “O nosso desejo é que em eras futuras possamos usar as nossas longas vidas para salvar os seres viventes.Tal como hoje o Honrado Pelo Mundo, rei dos Shakyas, ruge como um leão no lugar da prática, pregando sem medo a Lei, possamos nós também em eras vindouras, honrados e venerados por todos, quando nos sentarmos no lugar da prática, descrever a duração da nossa vida da mesma forma.”Se existir alguém, de mente profunda, puro, honesto e recto, que ouvindo muito, possa reter tudo, compreendendo as palavras do Buddha, essa pessoa não terá dúvidas [acerca da duração da minha vida].
“Além disso, Ajita, se existir alguém que, ouvindo acerca da longa duração da vida do Tathagata, possa entender o alcance dessas palavras, os benefícios que essa pessoa alcança serão sem limite ou medida, capazes de despertar nele a sabedoria insuperável do Tathagata. Quanto mais se, então, a pessoa escuta largamente este sutra ou faz com que outros o escutem, o abraça ou leva outros a abraçá-lo, o copia ou faz com que outros o copiem, ou apresenta flores, incenso, colares, estandartes, bandeiras, dosséis de seda, óleos fragrantes ou lamparinas de óleo de manteiga como oferendas aos rolos do sutra. Os benefícios de uma tal pessoa serão imensuráveis, ilimitados, capazes de inspirar nele a sabedoria que abarca todas as espécies.
“Ajita, se bons homens ou boas mulheres, ouvindo-me descrever a grande duração da minha vida, no fundo das suas mentes acreditarem e compreenderem, verão então o Buddha residindo constantemente no Monte Gridhakuta, com os grandes bodhisattvas e a multidão de ouvintes rodeando-o enquanto prega a Lei. Verão também este mundo Saha, o seu chão de lápiz-lázuli nivelado e bem ordenado, o ouro Jambunava bordejando as suas oito avenidas, os renques de árvores cravejadas de jóias, os terraços, torres e observatórios todos feitos de jóias, e toda a multidão de bodhisattvas que aí vive. Se existir alguém capaz de ver tais coisas, deveis saber que isso é um sinal da sua fé e compreensão profundas.
“Além disso, se após o Tathagata entrar em extinção existir alguém que ouça este sutra e não o calunie ou insulte mas mostre profunda fé e compreensão e ainda mais no caso de alguém que leia, recite e abrace este sutra, essas pessoas estão na verdade a receber o Tathagata na coroa de suas cabeças.
“Ajita, estes bons homens e boas mulheres não precisam de em meu nome erigir torres e templos ou construir aposentos de monges ou fazer os quatro tipos de oferendas à comunidade de monges. Porquê? Porque estes bons homens e boas mulheres, ao receberem, abraçarem, lerem e recitarem este sutra, erigiram já torres, construíram os aposentos de monges e deram ofertas de esmolas à comunidade de monges. Deve considerar-se que eles erigiram torres adornadas com os sete tesouros para as relíquias do Buddha, largas na base e finas no topo, chegando ao paraíso de Brahma engalanadas de bandeiras, dosséis e uma miriade de sinos de jóias, com flores, incenso em pó ou em pasta, colares, muitos tipos de tambores e vários tipos de danças e diversões, com maravilhosas vozes que cantam e entoam hinos de louvor. É como se tivessem já oferecido esmolas durante imensuráveis milhares, dezenas de milhar, milhões de kalpas.
“Ajita, se após eu ter entrado em extinção existir quem ouça este sutra e possa aceitá-lo e promovê-lo, copiando-o ou fazendo outros copiá-lo, então deve ser considerado que erigiram já aposentos de monges, ou usaram sândalo vermelho para construir trinta e dois salões, altos como árvores tala, elevados, espaçosos e belamente adornados para acomodarem centenas de milhares de monges. Jardins, parques, tanques, lagos, pátios de recreio, caves para meditação, vestuário, comida, bebida, camas, tapetes, remédios e todo o tipo de utensílios para o seu conforto, e esses aposentos de monges e salões contam-se em centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões, e são na verdade imensuráveis em número. Tudo isto é apresentado perante mim como oferta de esmolas para mim e para a comunidade de monges.
“Assim eu digo, se após o Tathagata se extinguir existir alguém que aceite, promova, leia e recite este sutra ou o pregue para outros, que o copie ou faça com que outros o copiem, ou que ofereça esmolas aos rolos do sutra, então não necessitam erigir torres ou templos nem construir aposentos para monges ou oferecer esmolas à comunidade de monges. E muito mais é isto verdade para aqueles que forem capazes de abraçar este sutra e ao mesmo tempo de oferecer esmolas, manter os preceitos, praticar a tolerância e a diligência, a concentração e a sabedoria! As suas virtudes são superiores, imensuráveis e ilimitadas, tal como o céu aberto, nas direcções Este, Oeste, Norte e Sul, nas quatro direcções intermédias, acima e abaixo, é imensurável e ilimitado. As bênçãos dessa pessoa serão igualmente imensuráveis e ilimitadas, e ela atingirá rapidamente a sabedoria que abarca todas as espécies.
“Se uma pessoa lê, recita, aceita e promove este sutra ou o prega para outros; se o copia ou faz com que outros o copiem; e se pode erigir torres, construir aposentos para monges, oferecer esmolas e louvores à comunidade de ouvintes; se pode empregar centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de modos de louvor para louvar os méritos dos bodhisattvas; e se pelo bem de outros ele emprega várias causas e condições, de acordo com a regra, para explicar este Sutra do Lótus; e se observa os preceitos com pureza, procura a companhia dos que são brandos e pacíficos, é tolerante e sem raiva, firme de intenção e pensamento, favorecendo constantemente a prática da meditação sentada, atinge vários estados meditativos profundos, dominando todas as boas doutrinas, apurado nas faculdades e na sabedoria, bom a responder a perguntas difíceis - Ajita, se após eu entrar em extinção existirem bons homens e boas mulheres que aceitem, promovam, leiam e recitem este sutra e tenham bons méritos como estes, deves saber que eles prosseguiram já para o lugar da prática e estão perto de anuttara-samyak-sambodhi ao sentarem-se sob a árvore do Buddhado. Ajita, onde quer que estes bons homens estejam, sentados, de pé ou circulando em exercício espiritual, aí deveria erigir-se uma torre memorial e todos os seres celestiais e humanos deviam oferecer esmolas da mesma forma que ofereceriam à torre do Buddha.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Se após eu entrar em extinção Alguém puder honrar e eleger este sutra, as suas bênçãos serão imensuráveis, tal como acima descrevi.É como se tivesse oferecido todo o tipo de esmolas, erigindo uma torre memorial às relíquias do Buddha adornada com os sete tesouros e com o centro largo e alto que se estreita gradualmente á medida que alcança o paraíso Brahma.Sinos de jóias aos milhares, dezenas de milhar, milhões, movem-se no vento, emitindo um som maravilhoso.E por imensuráveis kalpas ele oferece esmolas a esta torre, flores, incenso, vários tipos de colares, mantos celestiais e instrumentos musicais variados, queima óleos fragrantes e lâmpadas de óleo de manteiga que iluminam constantemente as cercanias.Na era maligna dos Últimos Dias da Lei se existir alguém capaz de promover este sutra, será como se tivesse oferecido todas as esmolas acima descritas.Se alguém puder promover este sutra, será como se na presença do Buddha ele tivesse usado sândalo para construir como oferta aposentos de monges, de trinta e dois salões altos como árvores tala, ou tivesse fornecido roupas e enxovais, residências para assembleias de centenas, milhares, jardins, bosques, tanques e lagos, pátios de exercício e caves para meditação tudo com vários tipos de delicados adornos.Se alguém com uma mente crente e esclarecida aceitar, promover, ler, recitar e copiar este sutra ou fazer com que outros o copiem ou oferecer esmolas aos rolos do sutra, espalhando flores e incenso ou queimar constantemente óleo fragrante extraído de flores de sumana, champaka ou atimuktatka, se ele oferecer esmolas como estas ganhará imensuráveis méritos, ilimitados como o céu aberto, e assim serão as suas bênçãos.Quanto mais se ele promover este sutra e ao mesmo tempo oferecer esmolas, mantiver os preceitos, for tolerante, deleitar-se com a meditação e nunca se entregar a qualquer linguagem malévola ou irada.Se alguém prestar reverência às torres memoriais, se comportar humildemente perante os monges, não der lugar a uma mente arrogante, ponderar constantemente sobre a sabedoria e nunca se enfurecer quando questionado com perguntas difíceis mas responder com uma explicação conforme - se alguém levar a cabo estas práticas, os seus méritos estarão além de qualquer medida.
Se virdes um mestre da Lei que tenha cultivado virtudes como estas, deveis espalhar sobre ele flores celestiais, envolver o seu corpo em mantos celestiais, saudá-lo inclinando a vossa cabeça perante os seus pés e na vossa mente imaginar que estais a ver um Buddha.Deveis também pensar desta forma: “Não tardará que ele prossiga para o lugar da prática e alcance o estado sem falhas da não-acção, trazendo largos benefícios para os seres celestiais e humanos!”No local onde essa pessoa residir, onde ela caminhar, se sentar ou deitar, ou recitar ainda que um verso de uma escritura, aí devereis erigir uma torre adornada de uma forma apropriada e maravilhosa e oferecer-lhe variadas esmolas.Quando um filho de Buddha reside em tais lugares, o Buddha servir-se-á deles e neles irá constantemente caminhar, sentar-se ou reclinar-se.
Capítulo Dezoito: Os Benefícios da Alegre Aceitação
Nessa altura o bodhisattva e mahasattva Maitreya disse a Buddha: Honrado Pelo Mundo, se existirem bons homens e boas mulheres que, ao ouvirem este Sutra do Lótus, respondam com alegria, que tipo de bênçãos é que adquirem?”
Então ele falou em verso, dizendo:
Após o Honrado Pelo Mundo ter passado à extinção, se aqueles que ouvirem este sutra forem capazes de responder com alegria, que tipo de bênçãos é que adquirem?
Nessa altura o Buddha disse ao bodhisattva e mahasattva Maitreya: “Ajita, após o Tathagata ter entrado em extinção, supõe que existem monges, monjas, irmãos e irmãs leigos, ou outras pessoas sábias, quer sejam novas ou velhas, que, ao ouvirem este sutra, respondem com alegria e, deixando a assembleia do Dharma, vão para qualquer outro lugar, talvez um aposento monástico, um lugar deserto e sossegado, uma cidade, uma localidade, um povoado ou aldeia, e aí, de acordo com o que ouviram, se esforçam pregando e explicando pelo bem dos seus parentes, amigos e conhecidos. Estas pessoas, depois de ouvirem, respondem com alegria e também espalham os ensinamentos, e os ensinamentos continuam desta forma a ser transmitidos de um para outro até chegarem a uma quinquagésima pessoa.
“Ajita, os benefícios recebidos por este quinquagésimo bom homem ou boa mulher que responda com alegria eu os descreverei agora para ti - ouve com atenção. Imagina todos os seres dos seis reinos de existência de dez mil milhões de asamkhyas de mundos, dos quatro tipos de seres viventes, os nascidos de um ovo, de um útero, de humidade ou por transformação, quer com forma quer sem forma, dotados de pensamento ou destituídos de pensamento, nem dotados nem destituídos de pensamento, sem pernas, com duas pernas, com quatro ou mais pernas. E imagina que, entre todo este vasto número de seres viventes, aparece alguém em busca de bênçãos e, respondendo aos seus variados desejos, oferece objectos espantosos e admiráveis a todos esses seres viventes. A cada um destes seres viventes é dado ouro, prata, lápiz-lázuli, madrepérola, ágata, coral, âmbar e outras maravilhosas e preciosas jóias, bem como elefantes, cavalos, carruagens, palácios e torres feitas com os sete tesouros, suficientes para encher todo o Jambudvipa. Este grande agente da caridade, tendo oferecido presentes desta forma durante oitenta anos, pensa então para si mesmo: Doei já todos estes objectos espantosos e admiráveis a estes seres viventes, respondendo aos seus vários desejos. Mas estes seres viventes estão agora velhos e decrépitos, com mais de oitenta anos, o seu cabelo branco, as faces enrugadas, não faltará muito para que morram. Devo agora empregar a Lei de Buddha para os instruir e guiar.
“Ele então junta de imediato todos os seres viventes e propaga a Lei entre eles, ensinando, beneficiando e deleitando-os. Num momento todos estão capazes de atingir o estado de srota-apanna, o estado de sakridagamin, o estado de anagamin e o estado de arhat, esgotando as suas falhas e entrando profundamente em meditação. Todos alcançam a liberdade e ficam dotados das oito emancipações. Qual é a tua opinião? São os benefícios deste agente da caridade muitos ou não”?Maitreya disse a Buddha: “Honrado Pelo Mundo, os benefícios deste homem são realmente muitos, imensuráveis e ilimitados. Ainda que este agente da caridade tivesse apenas oferecido todos esses objectos aos seres viventes, os seus benefícios seriam imensuráveis. Quanto mais se ele fez com que alcançassem o estado de arhat!”
Buddha disse então a Maitreya: “Eu exporei agora para ti esta questão com clareza. Este homem doou todos estes objectos de recreio aos seres viventes dos seis reinos de existência de quatro mil milhares de milhões de asamkhyas de mundos e ainda tornou possível atingirem os frutos do estado de arhat. Mas os benefícios por ele alcançados não se comparam com os benefícios da quinquagésima pessoa que ouve apenas um verso do Sutra do Lótus e responde com alegria. eles não equivalem sequer uma centésima, milionésima parte, uma parte em dezenas de milhares, milhões. Na verdade está para além do poder de cálculo, metáfora ou parábola expressar uma comparação.
“Ajita, os benefícios ganhos mesmo que pela quinquagésima pessoa que ouve o Sutra do Lótus tal como lhe é transmitido e responde com alegria são maiores por um número imensurável e ilimitado, são de facto incomparáveis.
“Além disso, Ajita, supõe que uma pessoa em prol deste sutra visita os aposentos dos monges e, de pé ou sentado, e ainda que por um momento o ouve e aceita. Como resultado dos benefícios assim obtidos, quando ele renascer na sua próxima existência usufruirá dos mais luxuosos, excelentes e maravilhosos elefantes, cavalos e carruagens, palanquins repletos de tesouros raros e subirá aos palácios celestiais. Supõe que existe alguém que se senta num local onde a Lei é exposta, e quando uma outra pessoa aparece, a incita a sentar-se e a ouvir, ou se oferece para partilhar o seu lugar e a convence a sentar-se. Os benefícios ganhos desta forma serão tais que quando ele renascer o fará num local onde o senhor Shakra está sentado, onde os rei celestial Brahma se senta ou onde se senta um rei sábio.
“Ajita, supõe que uma pessoa se dirige a outra dizendo, “Existe um sutra chamado o Sutra do Lótus. Anda comigo escutá-lo”. E supõe que a outra pessoa, quando assim instado, vai e ainda que por um instante ouve o sutra. Os benefícios da primeira pessoa serão tais que quando renascer o fará no mesmo local dos bodhisattvas dos dharanis. Ele terá faculdades apuradas e sabedoria. Durante cem, mil, dez milhares de eras ele nunca será mudo. A sua boca não emitirá maus odores. A sua língua e a sua boca nunca terão doenças. Os seus dentes não serão podres ou pretos, nem serão amarelos ou muito espaçados, nem lhe cairão nem ficarão desalinhados ou tortos. Os seus lábios não serão descaídos nem contraídos, nem grosseiros nem gretados, nem atacados por infecções, nem serão tortos, nem finos ou grossos em demasiada, nem escuros ou descoloridos nem imperfeitos de forma alguma. O seu nariz não será demasiado largo ou achatado ou torto ou demasiado arqueado. A sua face não será escura nem comprida nem curta, nem contraída nem torta. Ele não terá nenhuma característica deselegante. Os seus lábios, língua e dentes serão admiravelmente proporcionados. O seu nariz será longo e elevado, a sua face redonda e cheia, as sobrancelhas longas e altas, a sua fronte larga, doce e bem torneada e ele será dotado de todas as características próprias de um ser humano. Em cada uma das suas existências ele verá o Buddha, ouvirá a sua Lei e terá fé nos seus ensinamentos.
Ajita, repara bem! Os benefícios ganhos apenas por encorajar outra pessoa a ir ouvir a Lei são tais como estes! Quanto mais se alguém ouve concentradamente, prega, lê e recita o sutra e perante a grande assembleia estabelece distinções pelo bem das pessoas e pratica conforme as instruções do sutra!”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Se alguém na assembleia do Dharma for capaz de ouvir este sutra, ainda que apenas um verso, e responda com alegria, o pregue para outros, e desta forma o ensinamento seja transmitido até chegar a uma quinquagésima pessoa, as bênçãos ganhas por esta últimaserão como eu vou agora definir.Supõe que existe um grande agente de caridade que atribui bens a imensuráveis multidões, fazendo isto durante uns oitenta anos, respondendo aos desejos de cada uma das pessoas.Vendo os sinais da decrepitude e da velhice, os cabelos brancos e a face enrugada, a falta de dentes, a forma mirrada, pensa, “A morte destes seres não está longe; tenho de os ensinar de modo a poderem colher os frutos da via!”Imediatamente em prol desses seres ele emprega um meio expedito, pregando a verdadeira Lei do nirvana:“Nada neste mundo é duradouro ou firme mas tudo é como bolhas de ar, como espuma ou como uma centelha. Por isso todos vocês devem aprender a desprezá-lo e a abandoná-lo!”Quando as pessoas ouviram esta Lei, foram todos capazes de alcançar o estado de arhat dotados com os seis poderes transcendentais, as três compreensões e as oito emancipações.Mas a quinquagésima pessoa que ouve apenas um verso [do Sutra do Lótus] e responde com alegria ganha bênçãos que são muitíssimo maiores, para além de qualquer descrição por metáfora ou parábola.E se alguém a quem o ensinamento foi transmitido recebe bênçãos imensuráveis, quanto mais não receberá alguém que está na assembleia do Dharma ouve o sutra em primeira mão e responde com alegria.Supõe que alguém encoraja outra pessoa, instando-o a ir ouvir o Lótus, dizendo, “Este sutra é profundo e maravilhoso, difícil de encontrar em milhares, dezenas de milhares de kalpas!”E supõe que a pessoa assim instada vai ouvir, ainda que ouça apenas por um momento, as bênçãos que essa pessoa recebe em recompensa eu descreverei agora com detalhe:Era após era, não terá nenhuma doença da boca, dentes em falta, ou amarelos, ou pretos, lábios grossos ou contraídos ou imperfeitos, não terá nenhumas características negativas, uma língua húmida, escura ou demasiado curta; terá um nariz elevado, longo e direito, testa larga, macia e bem formada,a face e os olhos bem alinhados e impressivos, do tipo que deleita o olhar das pessoas, o hálito será livre de maus odores, uma fragrância de flores de utpala será constantemente emitida pela boca.Supõe que alguém vai até aos aposentos dos monges expressamente para ouvir o Sutra do Lótus e o ouve com alegria ainda que por um momento - eu descreverei as suas bênçãos.Nas existências vindourasentre seres celestiais e humanos ele obterá maravilhosos elefantes, cavalos, carruagens, palanquins adornados com jóias raras, e alcançará os palácios celestiais.Se no local onde a Lei é exposta alguém encoraja outro a sentar-se e ouvir o sutra, as bênçãos que adquire permitir-lhe-ão alcançar o assento de Shakra, Brahma e do rei sábio.Quanto mais se uma pessoa o ouve concentradamente, explica e expõe o seu significado e pratica segundo o que o sutra instrui - as bênçãos dessa pessoa não têm limites!
Capítulo Dezenove: Os Benefícios do Mestre da Lei
Nessa altura o Buddha disse ao bodhisattva e mahasattva Esforço Constante(Satatasamitâbhiyukta): “Se bons homens e boas mulheres aceitarem e promoverem este Sutra do Lótus, se o lerem, recitarem, explicarem e pregarem, ou se o transcreverem, essas pessoas obterão oitocentos benefícios dos olhos, mil e duzentos benefícios dos ouvidos, oitocentos benefícios do nariz, mil e duzentos benefícios da língua, oitocentos benefícios do corpo e mil e duzentos benefícios da mente. Com estes benefícios eles serão capazes de adornar os seis órgãos dos sentidos, tornando-os puros.
“Estes bons homens e boas mulheres, com os puros olhos físicos que receberam dos seus pais no nascimento, verão tudo quanto existe no interior e no exterior do variegado mundo, as suas montanhas, florestas, rios e mares, para baixo até ao inferno de Avichi e para cima até ao Cume do Ser. E no meio verão todos os seres viventes e também verão e compreenderão as causas e condições criadas pelos actos bem como os nascimentos que os aguardam como resultado e recompensa dessas acções.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Se no meio da grande assembleia alguém com uma mente destemida pregar este Sutra do Lótus, ouçam os benefícios que receberá!Essa pessoa ganhará oitocentos benefícios de uma visão superior.Como resultado destes adornos os seus olhos tornar-se-ão extremamente puros.Com os olhos recebidos dos seus pais aquando do nascimento verá todos os três mil mundos, as suas partes exteriores e interiores, o seu Monte Meru, o seu Sumeru, o Circulo de Montanhas de Ferro e todas as outras montanhas e florestas, as águas dos seus grandes mares, rios e riachos, para baixo até ao inferno de Avichi, para cima até ao paraíso do Cume do Ser.E ele verá todos os seres viventes que existem entre eles.Apesar de ainda não ter ganho a visão celestial, será este o poder dos seus olhos físicos.
Além disso, Esforço Constante, se os bons homens e boas mulheres aceitarem e promoverem este sutra, se o lerem, recitarem, explicarem e pregarem, ou se o transcreverem, ganharão mil e duzentos benefícios auditivos, com os quais purificarão os seus ouvidos de modo a poderem ouvir todas as diferentes variedades de mundos e sons no imensamente variado mundo, para baixo até ao inferno de Avichi, para cima até ao paraíso do Cume do Ser, nas suas partes exteriores e interiores. Sons de elefantes, de cavalos, de bois, de carruagens, choros, lamentos, sons de conchas, tambores, sinos, campainhas, sons de risos. vozes de homens e de mulheres, de rapazes e de raparigas, vozes estranhas à Lei, vozes rudes, vozes animadas, vozes dos mortais comuns, vozes de sábios, vozes alegres, vozes tristes, vozes de seres celestiais, de dragões, yakshas, gandharvas, asuras, garudas, kimnaras, mahoragas, o som do fogo, o som da água, o som do vento, vozes dos habitantes dos infernos, vozes de bestas, de espíritos esfomeados, vozes de monges, de monjas, de ouvintes, de pratyekabuddhas, de bodhisattvas e vozes de Buddhas. Em resumo, apesar de a pessoa não ter ainda ganho ouvidos celestiais, purificados os ouvidos comuns que recebeu de seus pais no nascimento será capaz de ouvir e entender todas as vozes existentes nas partes interiores e exteriores do mundo de mil variedades. E ainda que desta forma possa distinguir todos os vários tipos de sons e vozes, isto não obstruirá as suas faculdades auditivas.
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Com os ouvidos recebidos dos seus pais aquando do nascimento, puros e sem mácula, com esses ouvidos vulgares, é possível ouvirem os sons de três mil mundos, elefantes, cavalos, carruagens, bois, sinos, campainhas, conchas, tambores, alaúde e harpa, flauta, o som de um cantar puro e belo, todos podem ser ouvidos sem que fiquem apegados a eles.As incontáveis variedades da voz humana - todas podem ser ouvidas e compreendidas.Podem ainda ser ouvidas as vozes dos seres celestiais, subtis e maravilhosas canções, e podem ouvir-se as vozes de homens e mulheres, as vozes de rapazes e raparigas.No seio das colinas, rios e vales a voz da kalavinka, da jivakajivaka e de outras aves - todos estes sons se podem ouvir.Desde as multidões atormentadas do inferno os sons dos vários sofrimentos e aflições, sons de espíritos esfomeados e sedentos procurando comida e bebida, ou dos asuras que vivem nas margens do grande mar quando falam entre si e emitem lamentos gritantes.Assim aquele que prega a Lei pode estar seguro entre todos estes, ouvindo todas estas vozes desde longe sem obstruir as suas faculdades auditivas.Nos mundos das dez direcções quando as bestas e pássaros chamam os seus pares esta pessoa que prega a Lei ouve a todos de onde estiver.No paraíso Brahma e mais acima, o Paraíso de Som e Luz, o Paraíso Pureza Total e acima até ao Cume do Ser, os sons das vozes que aí falam - o mestre da Lei, residindo aqui, pode ouvi-las a todas.Todas a multidões de monges e de monjas, quer estejam a ler ou a recitar as escrituras ou a pregá-las em benefício de outros - o mestre da Lei residindo aqui, pode ouvi-las a todas.E quando existirem bodhisattvas que leiam e recitem os ensinamentos dos sutras ou os preguem em prol dos outros ou seleccionem uma passagem e expliquem o seu significado, os sons das suas vozes - ele pode ouvi-los a todos.Quando os Buddhas, grandes sábios e veneráveis, ensinarem e converterem os seres viventes, no meio da grande assembleia expondo e pregando a subtil e maravilhosa Lei, aquele que promove o Sutra do Lótus pode ouvi-los a todos.Todos os sons do interior e do exterior do multi-variado mundo, para baixo até ao inferno de Avichi, para cima até ao paraíso do Cume do Ser - ele pode ouvir todos estes sons sem nunca obstruir as suas faculdades auditivas.Porque as suas faculdades auditivas são tão apuradas ele pode distinguir e compreender todos os sons. Aquele que promove o Sutra do Lótus, apesar de não ter ainda alcançado os ouvidos celestiais, pode fazer isto simplesmente com os seus ouvidos de nascimento - tais são os benefícios que ele recebe.
“Além disso, Esforço Constante, se os bons homens e boas mulheres aceitam e promovem este sutra, se eles o lêem, recitam, explicam e pregam, ou se o transcrevem, poderão alcançar oitocentos benefícios nasais com os quais purificarão as suas faculdades olfactivas de modo a poderem detectar todas as diferentes fragrâncias de alto a baixo e no interior e exterior do multi-variado mundo, a fragrância das flores sumana, jatika, malika, champaka, patala, do lótus vermelho, azul, branco, a fragrância das árvores floridas ou de fruto, do sândalo, aloés, tamalapatra e tagara, bem como de incenso extraído de milhares, dezenas de milhares de ingredientes, em pó, grão ou pasta. Aquele que promover este sutra, enquanto reside aqui, será capaz de distinguir tudo isto.
“Além disso será capaz de distinguir e identificar os odores dos seres viventes, de elefantes, cavalos, bois, ovelhas e outros animais, o odor de homem, de mulher, de rapaz, de rapariga, os odores de plantas, árvores, bosques e florestas. Quer estejam próximos ou longínquos ele será capaz de detectar todos estes odores e distingui-los uns dos outros sem erro.
“Aquele que promove este sutra, ainda que resida aqui, será capaz de detectar odores de vários paraísos no céu acima. O perfume das árvores parijira e kovidara, das flores de mandarava, grande mandarava e grande manjuchaka, de sândalo e aloés, de vários tipos de pó de incenso, incenso feito de sortidos de flores - de perfumes celestiais dos quais eles são extraídos ou misturados, nenhum existe que ele não possa detectar e identificar.
“Ele será também capaz de detectar o aroma dos corpos dos seres celestiais. O perfume de quando Indra Shakra Devanam no seu soberbo palácio se recreia e satisfaz os cinco desejos, ou o perfume de quando está no Salão da Lei Maravilhosa pregando a Lei para os seres celestiais de Trayastrimsha, ou o perfume de quando está passeando pelos seus jardins, bem como o perfume dos corpos dos outros seres celestiais masculinos e femininos - tudo isto ele pode detectar desde longe.
“Ele será então capaz de alargar a sua percepção até acima ao paraíso de Brahma e mais alto ainda, até ao Cume do Ser, detectando o perfume de todos os corpos dos seres celestiais e o perfume do incenso por eles queimado. Além disso, o perfume dos ouvintes, dos pratyekabuddhas, dos bodhisattvas e dos corpos dos Buddhas - todos esses ele detectará desde longe e saberá onde se encontram esses seres. E apesar de detectar todos estes cheiros, as suas faculdades olfactivas não ficarão obstruídas nem desordenadas. Se ele quiser distinguir um cheiro do outro e descrevê-lo para outra pessoa, será capaz de o fazer sem erro.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
A pureza do olfacto dessa pessoa será tal que através deste mundo ele conseguirá detectar e identificar toda a sorte de odores, fragrantes ou infectos, das flores sumana e jatika, de talamapatra e de sândalo,os perfumes de aloés e cássia, de várias flores e frutos.E ele saberá o odor dos seres viventes, o odor de homens e mulheres.Ainda que este pregador da Lei se encontre longe, conseguirá detectar os odores e saber onde se encontram as pessoas.Reis sábios de grande autoridade, sábios menores e seus descendentes, os ministros e secretários palacianos - ele detectará o seu odor onde quer que estejam.Tesouros preciosos para o corpo das pessoas, armazéns de tesouros na terra, jóias das mulheres dos reis sábios - ele detectará o seu odor onde quer que estejam.Ornamentos para o corpo das pessoas, roupas e colares, todos os tipos de incenso em pasta - detectando estes odores ele saberá onde se encontram os seus proprietários.Quando os seres celestiais se sentarem ou andarem, se recrearem ou levarem a cabo transformações mágicas, tudo isto o promotor do Lótus conhecerá ao detectar os seus odores As flores e frutos de várias árvores e o aroma dos óleos de manteiga - o promotor do sutra, residindo aqui, saberá onde se encontram.Os seres sencientes que habitem no seio das montanhas, em remotos lugares onde as flores do sândalo desabrocham - ele os conhecerá detectando os seus odores.Os seres viventes no Círculo de Montanhas de Ferro, nos grandes oceanos ou em terra - o promotor deste sutra detectará o seu odor e saberá onde se encontram.Quando asuras machos e fêmeas e os seus seguidores lutarem ou brincarem uns com os outros, ele terá conhecimento disso detectando o seu odor.Nas vastas planícies, em lugares remotos, leões, elefantes, tigres, lobos, búfalos e búfalos de água - pelo seu odor ele saberá onde estão.Quando uma mulher estiver grávida e ninguém conseguir determinar se a criança é masculina ou feminina, se terá falta de faculdades ou será inumana, pelo seu odor ele saberá tudo isso.E através do seu poder de detectar cheiros ele saberá se a mulher será bem sucedida ou não, se a gravidez será bem sucedida ou não, se ela receberá em segurança uma criança saudável.Através do seu poder de detectar odores ele conhecerá os pensamentos de homens e mulheres, se as suas mentes estão poluídas pelo desejo, estupidez ou raiva, e ele saberá se eles praticam o bem.Grandes quantidades de bens escondidos na terra, ouro, prata e tesouros preciosos, objectos guardados em vasos de bronze - pelo seu odor ele saberá se são preciosos ou sem valor.Vários tipos de colares cujo valor não pode ser calculado - pelo seu odor ele saberá se são valiosos ou não, de onde vieram e onde se encontram.Flores acima nos céus, mandaravas, manjushakas, árvores parijataka - detectando o seu odor ele conhecerá todas.Os palácios acima nos céus, nos seus graus baixos, intermédios e superiores, adornados com múltiplas flores de jóias - detectando o seu odor ele conhecerá a todos.Os jardins e bosques celestiais, as soberbas mansões, os observatórios, o Salão da Lei Maravilhosa, e aqueles que aí se recreiam - detectando o seu odor ele conhece a todos.Quando os seres celestiais ouvem a Lei ou se entregam aos cinco desejos, caminhando de um lugar para outro, sentados ou deitados - detectando o seu odor ele conhece a todos.Os mantos usados pelas mulheres celestiais, adornados com adoráveis flores e perfumes,rodopiando em círculos alegremente - detectando o seu odor ele conhece-as a todas.Assim alargando a sua consciência até ao paraíso de Brahma, detectando o seu odor, ele conhece todos os que entram em meditação ou saem de meditação.Nos paraísos Som Puro e Pureza Total, e para cima até ao Cume do Ser, aqueles nascidos pela primeira vez e aqueles que partiram - detectando o seu odor ele conhece-os a todos.A multidão de monges sempre diligentes no que respeita à Lei, quer sentados quer andando, ou lendo e recitando os ensinamentos dos sutras, por vezes sob as árvores da floresta concentrando as suas energias, sentados em meditação - o promotor do sutra detecta o seu odor e sabe onde estão todos eles.Bodhisattvas de vontade firme e inquebrantável, sentados em meditação, lendo os sutras ou pregando a Lei para outros - detectando o seu odor ele conhece-os a todos.Os Honrados Pelo Mundo de todas as direcções, reverenciados e respeitados por todos, compadecendo-se da multidão, pregando a Lei - detectando o seu odor ele conhece-os a todos.Os seres viventes que na presença dos Buddhas ouvem os sutras e rejubilam, que praticam conforme o que a Lei prescreve - detectando o seu odor ele conhece-os a todos.Apesar de ele não ter ainda alcançado o olfacto possuído pelo bodhisattva da Lei sem falhas, o promotor do sutra adquirirá um olfacto com as características aqui descritas.
Além disso, Esforço Constante, se bons homens ou boas mulheres aceitarem e promoverem este sutra, se o lerem, recitarem, explicarem e pregarem, ou se o transcreverem, ganharão vinte mil benefícios do paladar. Quer uma coisa seja agradável ou não, saborosa ou não, ou mesmo coisas amargas e adstringentes, quando saboreadas pelas faculdades da língua dessa pessoa serão transformadas em sabores deliciosos e refinados como o doce orvalho celestial, e nenhuma será desagradável.
“Se com estas faculdades da língua ele começar a pregar no meio da grande assembleia, produzirá uma voz profunda e maravilhosa capaz de penetrar a mente e causar deleite e júbilo em todos os que a ouçam. Quando os homens e mulheres do paraíso, Shakra, Brahma e outros seres celestiais, ouvirem o som desta voz profunda e maravilhosa, expondo e pregando, progredindo e argumentando ponto por ponto, reunir-se-ão todos para ouvir. Dragões e filhas de dragões, yakshas e filhas de yakshas, gandarvas e filhas de gandarvas, asuras e filhas de asuras, garudas e filhas de garudas, kimnaras e filhas de kimnaras, mahoragas e filhas de mahoragas, juntar-se-ão bem perto ao redor do possuidor dessa voz de modo a ouvirem a Lei, e vão reverenciá-lo e oferecer-lhe esmolas. Monges, monjas, leigos e leigas, monarcas, príncipes, ministros e seus assistentes, reis sábios menores e grandes reis sábios com seus sete tesouros e milhares de filhos com os seus secretários e camareiros e demais séquito virão dos seus palácios para ouvirem a Lei.
“Porque este bodhisattva é tão hábil a pregar a Lei, os Brahmans, proprietários e outras pessoas por todo o país irão até ao fim das suas vidas segui-lo e escutá-lo e oferecer-lhe esmolas. Ouvintes, pratyekabuddhas, bodhisattvas e Buddhas irão deleitar-se constantemente ao vê-lo. Onde quer que ele esteja, os Buddhas virar-se-ão na sua direcção quando pregarem a Lei, e ele será capaz de aceitar e abraçar todas as doutrinas dos Buddhas. E ademais será capaz de emitir o profundo e maravilhoso som da Lei.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
As faculdades da língua desta pessoa serão tão puras que ela nunca experimentará maus sabores, mas tudo o que comer se tornará como doce orvalho.Com a sua voz profunda e maravilhosa pregará a Lei na grande assembleia, empregando causas, condições e parábolas para guiar as mentes dos seres viventes.Todos os que o ouvirem rejubilarão e oferecer-lhe-ão as melhores esmolas.Seres celestiais, dragões, yakshas, bem como asuras e outros, aproximar-se-ão dele com reverência e virão juntos escutar a Lei.Se este pregador da Lei quiser usar a sua voz maravilhosa para encher os três mil mundos poderá fazê-lo à sua vontade.Reis sábios grandes e pequenos com os seus milhares de filhos e os seus séquitos juntarão as palmas das mãos reverentemente e virão constantemente ouvir e aceitar a Lei.Seres celestiais, dragões, yakshas, rakshasas e pishachas com igual júbilo, deleitar-se-ão constantemente a trazer esmolas.Os reis celestiais Brahma, o rei demónio, as divindades Liberdade(Îsvara) e grande Liberdade(Mahesvara), toda a multidão de seres celestiais irão constantemente onde ele estiver.Os Buddhas e os seus discípulos, ouvindo o som dele a pregar a Lei, mantê-lo-ão constantemente em seus pensamentos e guardá-lo-ão e mostrar-se-ão de tempos a tempos pelo seu benefício.
“Além disso, Esforço Constante, se bons homens ou boas mulheres aceitarem e promoverem este sutra, se o lerem, recitarem, explicarem e pregarem, ou se o transcreverem, ganharão oitocentos benefícios corporais. Eles obterão corpos puros, como puro lápiz-lázuli, que deleitarão a vista de todos os seres viventes. Devido à pureza dos seus corpos, quando os seres viventes do mundo de mil variedades nascerem ou morrerem, quando nascerem nas regiões superiores ou inferiores, em circunstâncias favoráveis ou desfavoráveis, em sítios bons ou maus, estarão todos reflectidos [nestes corpos]. Os reis das montanhas, do Círculo das Montanhas de Ferro, do Grande Círculo das Montanhas de Ferro, do Monte Meru e Mahameru, bem como dos seres viventes que aí habitam, estarão todos reflectidos nesses corpos. Para baixo até ao inferno de Avichi, para cima até ao Cume do Ser, todas as regiões e os seus seres viventes estarão reflectidos. Ouvintes, pratyekabuddhas, bodhisattvas, Buddhas pregando a Lei - as formas e contornos de todos estes estarão reflectidos nos seus corpos.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Se alguém promover o Sutra do Lótus o seu corpo será muito puro, como puro lápiz-lázuli - todos os seres viventes se deleitarão ao vê-lo.E será como um espelho de puro brilho no qual todas as formas e contornos estarão reflectidos.O bodhisattva no seu corpo puro verá tudo o que existe no mundo; ele verá claramente o que não é visível para os outros.Dentro dos três mil mundos toda a mole de criaturas em crescimento, seres celestiais e humanos, asuras, residentes infernais, espíritos, bestas - as suas formas e contornos estarão todas reflectidas no seu corpo.Os palácios dos vários paraísos para cima até ao Cume do Ser, do Círculo de Montanhas de Ferro, dos Montes Meru e Mahameru, os grandes mares e outras águas - todos serão reflectidos no seu corpo.Os Buddhas e ouvintes, filhos de Buddhas e bodhisattvas, quer sozinhos quer na assembleia pregando a Lei - todos serão reflectidos. Apesar desta pessoa não ter ainda adquirido o maravilhoso corpo da natureza do Dharma, livre de falhas, o seu corpo normal terá tal pureza que reflectirá em si todas as coisas.
Além disso, Esforço Constante, se bons homens e boas mulheres aceitarem e apoiarem este sutra após o Tathagata ter entrado em extinção, se o lerem, recitarem, explicarem, pregarem ou transcreverem, ganharão mil e duzentos benefícios mentais. Devido à pureza das suas faculdades mentais, quando eles ouvirem não mais do que um verso ou uma frase [do sutra], serão capazes de dominar um número imensurável e ilimitado de princípios. E uma vez compreendidos esses princípios, serão capazes de explicar e pregar acerca dessa única frase ou desse verso durante um mês, quatro meses ou mesmo por todo um ano e as doutrinas por eles pregadas durante esse tempo estarão de acordo com a essência dos princípios e nunca serão contrárias à verdadeira realidade.
“Se eles expuserem algum texto mundano ou falarem de assuntos da governação ou relacionados com questões patrimoniais ou laborais, estarão em todos os casos conformes com a correcta Lei. Em relação aos seres viventes dos seis reinos de existência do mundo de mil variedades, compreenderão como funcionam as mentes desses seres viventes, como se movem, que vãs teorias mantêm.
“Assim, ainda que não tenham alcançado a sabedoria sem falhas, a pureza das suas mentes será tal que os seus pensamentos, cálculos e conjecturas e as palavras que proferem, representarão em todos os casos a Lei do Buddha, sem se desviarem da verdade e conformes com o que foi pregado nos sutras dos Buddhas anteriores.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
As mentes dessas pessoas serão puras, brilhantes, argutas, sem mácula ou impureza.Com essas maravilhosas faculdades mentais entenderão a Lei superior, a média e a inferior.Ouvindo não mais do que um verso, dominarão imensuráveis princípios e serão capazes de os pregar, ponto por ponto, de acordo com a Lei, durante um mês, quatro meses ou um ano.Todos os seres viventes nas partes interiores e exteriores deste mundo, seres celestiais, dragões, humanos, yakshas, espíritos, todos os que habitam os seis reinos de existência e todos os vários pensamentos que eles têm - tudo isso os promotores do Sutra do Lótus, como retribuição, conhecerão num instante!Os incontáveis Buddhas das dez direcções, adornados com as marcas de uma centena de bênçãos, pelo bem dos seres viventes pregam a Lei, e essas pessoas, ouvindo-a, serão capazes de a aceitar e promover.Eles irão ponderar imensuráveis princípios, pregar a Lei de imensuráveis maneiras, no entanto, do princípio ao fim nunca terão um esquecimento ou um erro, porque eles são promotores do Sutra do Lótus.Eles entenderão as características de todos os fenómenos, conformes com os princípios, reconhecendo a sua ordem correcta, serão mestres de nomes e palavras, expondo e pregando as coisas segundo o seu entendimento.O que essas pessoas pregam é em todos os casos a Lei dos Buddhas pretéritos, e porque eles expõem esta Lei, não terão medo perante a assembleia.Esta é a pureza das faculdades mentais destes promotores do Sutra do Lótus.Apesar de não estarem ainda livres de falhas manifestarão antes disso as marcas aqui descritas.Enquanto essas pessoas promovem este sutra encontrar-se-ão sempre em solo seguro, apreciadas, amadas e respeitadas por todos os seres viventes, capazes de empregar mil, dez mil variedades de palavras hábeis e capazes fazendo distinções, expondo e pregando - porque eles promovem o Sutra do Lótus.
Capítulo Vinte: O Bodhisattva Nunca Desprezando
Nessa altura o Buddha disse ao Bodhisattva e mahasattva Ganhador de Grande Autoridade : “Deves entender isto. Quando os monges, monjas, leigos e leigas promovem o Sutra do Lótus, se alguém falar mal deles, os insultar ou caluniar, sofrerá uma retribuição severa pelo seu crime, tal como anteriormente expliquei. Expliquei também os benefícios ganhos por aqueles que promovem o sutra, nomeadamente, purificações dos seus olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e mente.
“Ganhador de Grande Autoridade, Há muito tempo atrás, há um imensurável, ilimitado, inconcebível número de asamkhyas de kalpas no passado, existiu um Buddha chamado Tathagata Rei Assombroso Som, merecedor de ofertas, de conhecimento recto e universal, clarividência e conduta perfeitas, bem sucedido, compreendendo o mundo, inexcedivelmente meritório, instrutor de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo. O seu kalpa chamava-se Isento de Decadência e a sua terra Feito Grandioso.
“Este Buddha Rei Assombroso Som, durante a época em que viveu, pregou a Lei para os seres celestiais, humanos e asuras. Para aqueles que procuravam tornar-se ouvintes ele respondia pregando a Lei das Quatro Nobres Verdades de modo a que pudessem transcender o nascimento, a velhice, a doença e a morte e eventualmente alcançarem o nirvana. Para aqueles que procuravam tornar-se pratyekabuddhas ele respondia pregando a Lei dos Doze Elos Interligados de Causalidade. Para os bodhisattvas, como meio de os conduzir a anuttara-samyak-sambodhi, respondia pregando a Lei dos seis paramitas de modo a que pudessem eventualmente ganhar a sabedoria Búddhica.
“Ganhador de Grande Autoridade, este Buddha Rei Assombroso Som teve uma duração de vida de kalpas iguais em número a quatrocentos mil milhões de nayutas de grãos de areia do Ganges. A sua Lei Correcta permaneceu no mundo por tantos kalpas quantas as partículas de pó existentes num jambudvipa. A sua Lei Adulterada permaneceu no mundo por tantos kalpas quantas as partículas de pó existentes nos quatro continentes. Após este Buddha ter terminado de conferir grandes benefícios aos seres viventes, passou à extinção.
“Após a sua Lei Correcta e a sua Lei Adulterada terem chegado ao fim, um outro Buddha apareceu na mesma terra. Também ele foi chamado Tathagata Rei Assombroso Som, merecedor de ofertas, de conhecimento recto e universal, clarividência e conduta perfeitas, bem sucedido, compreendendo o mundo, inexcedivelmente meritório, instrutor de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo. Este processo continuou até vinte mil milhões de Buddhas terem surgido um após o outro, todos com o mesmo nome.
“Após o original Tathagata Rei Assombroso Som ter passado à extinção e ter passado também a sua Lei Correcta, no período da sua Lei Adulterada, monges de grande arrogância detinham grande poder e autoridade. Existia então um monge bodhisattva chamado Nunca Desprezando. Ganhador de Grande Autoridade, porque razão era ele chamado Nunca Desprezando? Este monge, perante quaisquer pessoas que encontrasse, quer se tratasse de monges, monjas, leigos ou leigas, prostrava-se reverentemente e dirigia-lhes palavras de louvor, dizendo, “Tenho por vocês profunda reverência, nunca vos tratarei com desprezo ou arrogância. Porquê? Porque estão todos a praticar a via do bodhisattva e seguramente alcançarão o Buddhado.”
“Este monge não devotava o seu tempo à leitura ou recitação de escrituras, mas simplesmente fazia vénias perante as pessoas. E se calhasse de ver algum dos quatro tipos de crentes à distância, dirigia-se a ele propositadamente, curvava-se reverentemente e proferia palavras de louvor, dizendo, “Nunca me atreveria a depreciar-vos porque decerto alcançareis o Buddhado!”
Entre os quatro tipos de crentes existiam alguns que se enfureciam pois as suas mentes eram impuras, e falavam mal dele e amaldiçoavam-no, dizendo, “Este monge ignorante - de onde vem ele, atrevendo-se a declarar que não nos desprezaria e conferindo-nos profecias de que alcançaremos o Buddhado? Não nos interessam estas profecias vãs e irresponsáveis!”
“Muitos anos passaram desta forma, durante os quais este monge era constantemente sujeito a ofensas e insultos. Ele não se enfurecia, antes dizia sempre as mesmas palavras, “Certamente alcançareis o Buddhado.” Quando falava desta forma, alguns de entre o grupo pegavam em paus e pedras e batiam-lhe e apedrejavam-no. Mas mesmo quando fugia e ficava a alguma distância, continuava a falar-lhes em voz alta, “Nunca me atreveria a depreciar-vos, pois certamente alcançareis o Buddhado!” e por ele dizer sempre estas palavras, monges, monjas, leigos e leigas arrogantes deram-lhe o nome de Nunca Desprezando.
“Quando este monge estava a ponto de morrer, ouviu no céu dez mil, vinte mil, um milhão de versos do Sutra do Lótus que havia sido pregado anteriormente pelo Buddha Rei Assombroso Som, e foi capaz de aceitar e abraçar todos esses versos. Imediatamente ele obteve o tipo de purificações das faculdades da vista, nariz, língua, corpo e mente acima descritas. Tendo obtido esta pureza das seis faculdades, a duração da sua vida foi aumentada em dois mil nayutas de anos, e ele foi então pregar o Sutra do Lótus às pessoas.
“Então, quando os quatro tipos de crentes que eram arrogantes, os monges, monjas, leigos e leigas que tinham despreciado este monge e lhe dado o nome de Nunca Desprezando - quando viram que ele tinha ganho grandes poderes transcendentais, o poder de pregar com agradável eloquência e o poder da grande benignidade e tranquilidade, e quando ouviram o que ele pregava, tiveram todos fé nele e tornaram-se seus seguidores.
“Este bodhisattva converteu uma multidão de milhares, dezenas de milhar, milhões, fazendo com que alcançassem anuttara-samyak-sambodhi. Após a sua vida ter chegado ao fim, foi capaz de encontrar dois mil milhões de Buddhas, todos com o nome Brilho do Sol e da Lua, e sob a égide da Lei destes Buddhas pregou o Sutra do Lótus. Através das causas e condições assim criadas, foi capaz de encontrar dois mil milhões de Buddhas, todos com o nome Rei Lâmpada da Nuvem da Liberdade. Sob a égide da Lei destes Buddhas ele aceitou, promoveu, leu, recitou e pregou este sutra para os quatro tipos de crentes. Por esta razão obteve a perfeição dos seus olhos comuns e as faculdades dos seus ouvidos, nariz, língua, corpo e mente foram igualmente purificadas. Entre os quatro tipos de crentes ele pregava a Lei com a mente livre de temor.
“Ganhador de Grande Autoridade, este Bodhisattva e mahasattva fez desta forma ofertas a um vasto número de Buddhas, tratando-os com reverência, honrando-os e louvando-os. Tendo plantado estas boas raízes, foi capaz de encontrar posteriormente mil, dez mil, um milhão de Buddhas e sob a égide da Lei destes Buddhas pregou este sutra, obtendo benefícios conducentes ao Buddhado.
“Ganhador de Grande Autoridade, o que pensais? O bodhisattva Nunca Desprezando que viveu nesse tempo - será ele desconhecido para ti? De facto, esse bodhisattva era eu! Se nas minhas prévias existências eu não tivesse aceitado, promovido, lido e recitado este sutra e o pregado para outros, nunca teria sido capaz de alcançar anuttara-samyak-sambodhi tão depressa. Porque na presença desses Buddhas pretéritos eu aceitei, promovi, li e recitei este sutra e o preguei para outros , fui capaz de alcançar anuttara-samyak-sambodhi tão prontamente.
“Ganhador de Grande Autoridade, nessa altura os quatro tipos de crentes, monges, monjas, leigos e leigas, porque a raiva surgiu em suas mentes e me trataram com desprezo, foram por duzentos milhões de kalpas incapacitados de encontrarem um Buddha, de ouvirem a Lei ou de verem a comunidade de monges. Durante cem kalpas padeceram grandes sofrimentos no inferno de Avichi. Quando terminaram a expiação das suas ofensas, encontraram uma vez mais o bodhisattva Nunca Desprezando, que os instruiu em relação a anuttara-samyak-sambodhi.
“Ganhador de Grande Autoridade, o que pensais? Os quatro tipos de crentes que nessa altura desprezaram constantemente o esse bodhisattva - serão eles desconhecidos para ti? Eles estão agora nesta assembleia, Bhadrapala e o seu grupo, quinhentos bodhisattvas; Leão da Lua e o seu grupo, quinhentos leigos, todos chegados ao estágio em que nunca regredirão na sua procura por anuttara-samyak-sambodhi!
“Ganhador de Grande Autoridade, deves compreender que este Sutra do Lótus beneficia largamente os bodhisattavas e mahasattvas, pois pode levá-los a alcançar anuttara-samyak-sambodhi. Por esta razão, após a extinção do Tathagata, os bodhisattvas e mahasattvas devem, em todas as ocasiões, aceitar, promover, recitar, explicar, pregar e transcrever este sutra.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Existiu no passado um Buddha chamado Rei Assombroso Som, de poderes sobrenaturais e sabedoria imensuráveis, liderando e conduzindo todos sem excepção.Seres celestiais e humanos, dragões e espíritos, juntavam-se para lhe darem oferendas.Após a extinção deste Buddha, quando a sua Lei estava prestes a extinguir-se, existiu um bodhisattva chamado Nunca Desprezando.Onde quer que se encontrassem os quatro tipos de crentes, o bodhisattva Nunca Desprezando ia ter com eles dizendo-lhes,“Nunca vos desprezarei, pois estais praticando a via e todos vocês se tornarão Buddhas!”Quando as pessoas ouviam isto, zombavam dele, insultavam-no e amaldiçoavam-no, mas o bodhisattva Nunca Desprezando suportava tudo isto com paciência.Depois de todas estas ofensas, quando estava prestes a morrer, foi capaz de ouvir este sutra e as suas seis faculdades foram purificadas.Devido aos seus poderes transcendentais a duração da sua vida foi prolongada, e pelo bem dos demais pregou este sutra por toda a parte.Todas as muitas pessoas que aderiram à Lei foram ensinadas e convertidas por este bodhisattva, que os fez fixarem-se na via do Buddha.Quando a vida de Nunca Desprezando chegou ao fim, encontrou numerosos Buddhas e por ter pregado este sutra obteve imensuráveis bênçãos.Pouco a pouco alcançou benefícios e depressa completou a via do Buddhado.Nunca Desprezando, que viveu nessa altura,não era senão eu.E os quatro tipos de crentes que então aderiram à Lei, que ouviram Nunca Desprezando dizer, “Vocês tornar-se-ão Buddhas”, e que mediante as causas assim criadas encontraram numerosos Buddhas - estão hoje aqui nesta assembleia, um grupo de quinhentos bodhisattvas e os quatro tipos de crentes, homens e mulheres de pura fé, que agora na minha presença ouvem a Lei.Em anteriores existências eu encorajei estas pessoas a ouvirem e aceitarem este sutra, o supremo perante a Lei, expondo-o, ensinando-o às pessoas, e fazendo-as alcançar o nirvana.Assim, em era após era, eles aceitaram e promoveram escrituras deste tipo.Múltiplos milhares de milhões de kalpas, um período de tempo inconcebível, passou antes que se pudesse finalmente ouvir este Sutra do Lótus.Múltiplos milhares de milhões de kalpas, um período de tempo inconcebível, passou antes que os Buddhas, Honrados Pelo Mundo, pregassem este sutra.Por isso os seus praticantes após o Buddha se ter extinguido, quando ouvem um sutra como este não devem dar lugar a dúvidas ou perplexidades mas devem com uma mente concentrada, pregar este sutra por toda a parte, era após era encontrando Buddhas e completando rapidamente a via do Buddhado.
Capítulo Vinte e um: Os Poderes Místicos do Tathagata
Nessa altura os bodhisattvas e mahasattvas que haviam emergido da terra, numerosos como as partículas de pó de um milhar de mundos, todos na presença do Buddha, juntaram as palmas das mãos concentradamente, e fitaram o rosto do Honrado Pelo Mundo com reverência, dizendo assim ao Buddha: “Honrado Pelo Mundo, após o Buddha entrar em extinção, nas terras onde estão presentes as emanações do Honrado Pelo Mundo, e no lugar em que o Buddha se extinguiu, nós pregaremos largamente este sutra. Porquê? Porque queremos ganhar esta grande Lei, verdadeira e pura, aceitá-la, promovê-la, lê-la, recitá-la, explicá-la, pregá-la, transcrevê-la e oferecer-lhe esmolas.”
Nessa altura o Honrado Pelo Mundo, na presença de Manjushri e das imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de outros bodhisattvas e mahasattvas que desde há muito residiam no mundo Saha, bem como dos monges, monjas, leigas, leigos, seres celestiais, dragões, yakshas, gandharvas, asuras, garudas, kimnaras, mahoragas, seres humanos e não humanos - perante todos estes ele expôs os seus poderes sobrenaturais. Ele estendeu a sua longa língua para cima até alcançar o paraíso Brahma, e de todos os seus poros emitiu imensuráveis, incontáveis raios de luz que iluminaram todos os mundos pelas dez direcções.
Os outros Buddhas, sentados em tronos de leão sob as numerosas árvores de jóias, fizeram o mesmo, estendendo as suas longas línguas e emitindo imensuráveis raios de luz. Quando Shakyamuni e os outros Buddhas sob as árvores de jóias expuseram assim os seus poderes sobrenaturais, fizeram-no durante um período de cem mil anos, após o que recolheram de novo as suas longas línguas, tossiram em uníssono e em conjunto estalaram os dedos. O som produzido por estas duas acções encheu todas as terras Búddhicas nas dez direcções, e a terra em todas elas tremeu de seis modos diferentes.
Todos os seres viventes que aí habitavam, os seres celestiais, dragões, yakshas, gandarvas, asuras, garudas, kimnaras, mahoragas, seres humanos e não humanos, graças aos poderes sobrenaturais dos Buddhas, viram neste mundo Saha imensuráveis, ilimitadas centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de Buddhas sentados em tronos de leão sob as numerosas árvores de jóias, e viram também o Buddha Shakyamuni e o Tathagata Muitos Tesouros sentados juntos num trono de leão na torre do tesouro. Além disso, viram imensuráveis, ilimitadas centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de bodhisattvas e mahasattvas e os quatro tipos de crentes que reverentemente rodeavam o Buddha Shakyamuni.
Quando viram estas coisas, ficaram repletos de grande alegria, tendo ganho o que nunca haviam possuído antes. Então os seres celestiais em pleno ar gritaram em altas vozes, dizendo: “Para lá destas imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de ashamkyas de mundos existe um mundo chamada Saha, e nele um Buddha chamado Shakyamuni. Está agora, em prol dos bodhisattvas e mahasattvas, a pregar o sutra do Grande Veículo chamado Lótus da Lei Maravilhosa, uma Lei destinada a instruir os bodhisattvas, uma Lei que é guardada e mantida em mente pelos Buddhas. Deveis responder com alegria do fundo dos vossos corações, e também prestar obediência e oferecer esmolas ao Buddha Shakyamuni!”
Quando os vários seres viventes ouviram as vozes no céu, juntaram as palmas das mãos, fitaram o mundo Saha e disseram estas palavras: “Salve, Buddha Shakyamuni! Salve, Buddha Shakyamuni!”
Então pegaram em diferentes tipos de flores, incenso, colares, bandeiras e dosséis, bem como em ornamentos, jóias raras e outros artigos maravilhosos com que se adornavam, e espalharam-nos para longe na direcção do mundo Saha. Os objectos assim espalhados vieram das dez direcções como nuvens que se juntam. Então, transformaram-se numa cortina de jóias que cobriu completamente a área onde se encontravam os Buddhas. Nessa altura os mundos nas dez direcções estavam abertos de modo que as passagens de uns para os outros estavam abertas e eles eram como uma única terra Búddhica.
Nessa altura o Buddha falou a Práticas Superiores(Visishtakâritra) e aos outros na grande assembleia de bodhisattvas, dizendo: “Os poderes sobrenaturais dos Buddhas, como viram, são imensuráveis, ilimitados, inconcebíveis. Se no processo de confiar este sutra a outros eu empregasse estes poderes sobrenaturais durante imensuráveis, ilimitadas centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de ashamkyas de kalpas para descrever os benefícios deste sutra, nunca poderia acabar de fazê-lo. Em resumo, todas as doutrinas possuídas pelo Tathagata, o repositório de todas as essências secretas do Tathagata - tudo isto é proclamado, revelado e claramente exposto neste sutra.
Por esta razão, após o Tathagata ter entrado em extinção, deveis concentradamente aceitar, promover, ler, recitar, explicar, pregar, transcrever e praticar segundo o que está determinado. Em qualquer das várias terras, onde quer que haja quem aceite, promova, leia, recite, explique, pregue, transcreva e pratique segundo o que está determinado, ou onde quer os rolos dos sutras sejam preservados, quer seja num jardim, numa floresta, sob uma árvore, em aposentos de monges, nas casas dos leigos de manto branco, em palácios ou em vales montanhosos ou em vastos desertos, em todos estes lugares devem ser erigidas torres e oferecidas esmolas. Porquê? Porque deveis compreender que eles são locais de prática religiosa. Nesses locais os Buddhas alcançaram anuttara-samyak-sambodhi, nesses locais os Buddhas giraram a roda da Lei, nesses locais os Buddhas entraram no parinirvana.”
Nessa altura, o Honrado Pelo Mundo, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falou em verso, dizendo:
Os Buddhas, salvadores do mundo, detém grandes poderes transcendentais, e por forma a agradarem aos seres viventes fazem uso dos seus imensuráveis poderes sobrenaturais.As suas línguas alcançam o paraíso Brahma, os seus corpos emitem incontáveis raios de luz.Em prol daqueles que buscam a via do Buddhado eles manifestam estes fenómenos raramente vistos.O som da tosse dos Buddhas, o som do estalar dos seus dedos, é ouvido através de mundos nas dez direcções e a terra nesses mundos estremece em seis modos diferentes.Porque depois de o Buddha se ter extinguido haverá quem promova este sutra, os Buddhas estão radiantese manifestam imensuráveis poderes sobrenaturais.Porque eles desejam confiar este sutra, eles louvam e elogiam a pessoa que o aceita e promove, e ainda que o fizessem durante imensuráveis kalpas não poderiam nunca esgotar os seus louvores.Os benefícios ganhos por tal pessoa são ilimitados e inesgotáveis, como o vasto céu pelas dez direcções do qual ninguém pode definir um limite.Quem quer que possa promover este sutra na verdade já me viu e viu igualmente o Buddha Muitos Tesouros e os Buddhas que são emanações do meu corpo.Da mesma forma vê-me aqui hoje enquanto ensino e converto os bodhisattvas.Aquele que promove este sutra faz com que eu e as minhas emanações bem como o Buddha Muitos Tesouros, que já entrou em extinção,fiquemos cheios de alegria.Os Buddhas que estão presentes nas dez direcções e os Buddhas de eras passadas e futuras - ele os verá também, oferecer-lhes-á esmolas e fará com que fiquem cheios de alegria.Os segredos essenciais da Lei ganhos pelos Buddhas que se sentam no lugar da prática - aquele que promove este sutra acabará também por os obter.Aquele que promove este sutra deleitar-se-á a expor interminavelmente os princípios das várias doutrinas e os seus nomes e frases como um vento no espaço aberto movendo-se para toda a parte sem qualquer impedimento ou obstáculo.Após o Tathagata ter entrado em extinção, esta pessoa conhecerá os sutras pregados pelo Buddha, as suas causas e condições e a sua sequência correcta, e pregá-las-á com verdade de acordo com os princípios.Tal como a luz do sol e da lua dissipam toda a obscuridade e penumbra, assim esta pessoa na sua passagem pelo mundo consegue limpar toda a escuridão dos seres viventes,fazendo com que imensuráveis números de bodhisattvas acabem por se fixar no veículo único.Por isso uma pessoa sábia, ao ouvir quão vastos são os benefícios a obter, após eu ter entrado em extinção deve aceitar e promover este sutra. Tal pessoa, garantidamente e sem qualquer dúvida, alcançará a via do Buddhado.
Capítulo Vinte e Dois: Transmissão
Nessa altura o Buddha Shakyamuni levantou-se do lugar do Dharma e, manifestando os seus grandes poderes sobrenaturais, com a sua mão direita afagou as cabeças dos incontáveis bodhisattvas e mahasattvas e disse estas palavras: "Durante imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de ashamkyas de kalpas eu pratiquei esta Lei difícil de obter, a Lei de anuttara-samyak-sambodhi. Agora eu vou confiá-la a vocês. Deveis concentradamente propagar esta Lei por toda a parte, fazendo com que os seus benefícios se espalhem largamente.
Três vezes ele afagou a cabeça dos bodhisattvas e mahasattvas, dizendo estas palavras: "Durante imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de ashamkyas de kalpas eu preguei esta Lei difícil de obter, a lei de anuttara-samyak-sambodhi. Agora eu a confio a vocês. Deveis aceitá-la, promovê-la, recitá-la e propagar largamente esta Lei, fazendo com que todos os seres viventes, em toda a parte, a escutem e compreendam. Porquê? Porque o Tathagata tem grande piedade e compaixão. Ele de modo algum é avaro ou invejoso nem tem qualquer receio. Ele é capaz de conferir aos seres viventes a sabedoria do Buddha, a sabedoria do Tathagata, a sabedoria que vem por si mesma. O Tathagata é um grande rio de dádivas para todos os seres viventes. Cabe a vós estudar esta Lei do Tathagata. Não deveis ser avarentos ou invejosos.
"Em eras vindouras, se existirem bons homens e boas mulheres que tenham fé na sabedoria do Tathagata, deveis pregar e expor o Sutra do Lótus para eles, de modo a que outros o possam ouvir e compreender, pois desta forma podeis fazê-los ganhar a sabedoria do Buddha. Se existirem seres viventes que não o acreditem nem aceitem, deveis usar uma das outras profundas doutrinas do Tathagata para os ensinar, beneficiar e alegrar. Se fizerdes tudo isto tereis então pago a dívida de gratidão que deveis ao Buddha."
Quando os bodhisattvas e mahasattvas ouviram o Buddha dizer estas palavras, experimentaram todos uma grande alegria que encheu os seus corpos. Com ainda mais reverência do que anteriormente, curvaram os seus corpos, inclinaram as suas cabeças, juntaram as palmas das mãos e, fitando o Buddha, elevaram as suas vozes em uníssono, dizendo: "Nós levaremos a cabo respeitosamente todas estas tarefas tal como o Honrado Pelo Mundo ordenou. Rogamos ao Honrado Pelo Mundo que não tenha preocupações quanto a este assunto!"
A multidão de bodhisattvas e mahasattvas repetiram estas palavras três vezes, elevando as suas vozes em uníssono e dizendo: "Nós levaremos a cabo respeitosamente todas estas tarefas tal como o Honrado Pelo Mundo ordenou. Rogamos ao Honrado Pelo Mundo que não tenha preocupações quanto a este assunto!"
Nessa altura o Buddha Shakyamuni fez os Buddhas que eram emanações do seu corpo e que tinham vindo das dez direcções voltarem cada um para a sua terra de origem, dizendo: "Cada um destes Buddhas pode proceder segundo a sua vontade. A torre do Buddha Muitos Tesouros pode também regressar à sua anterior posição."
Quando ele disse estas palavras, os imensuráveis Buddhas emanações das dez direcções que estavam sentados em tronos de leão sob as árvores de jóias, bem como o Buddha Muitos Tesouros, Práticas Superiores e os outros da grande multidão de ilimitadas ashamkyas de bodhisattvas, Shariputra e os outros ouvintes, os quatro tipos de crentes, os seres celestiais e humanos, asuras e outros em todos os mundos, ouvindo o que o Buddha dissera, ficaram repletos de grande alegria.
Capítulo Vinte e Três: Os Feitos Passados do Bodhisattva Rei da Medicina (Bhaishagyarâga)
Nessa altura o bodhisattva Rei da Constelação Flor (Nakshatrararâgasankusumitâbhigña) falou ao Buddha dizendo: “Honrado Pelo Mundo, como é que o bodhisattva Rei da Medicina(Bhaishagyarâga) se movimenta no mundo Saha, ciente das muitas centenas de milhares de dificuldades que tem de enfrentar? Honrado Pelo Mundo, este bodhisattva Rei da Medicina levou a cabo centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de nayutas de difíceis e árduas práticas. Honrado Pelo Mundo, posso pedir-te que nos dês algumas explicações? Os seres celestiais, dragões, deuses, yakshas, gandarvas, asuras, garudas, kimnaras, mahoragas, seres humanos e não humanos e os bodhisattvas que vieram de outras terras bem como a multidão de ouvintes, todos se deleitarão a ouvir-te.”
“Então o Buddha dirigiu-se ao bodhisattva Rei da Constelação Flor, dizendo: “Há muitos kalpas atrás, imensuráveis como as areias do Ganges, existiu um Buddha chamado Tathagata Pura e Brilhante Virtude do Sol e da Lua (Kandravimalasûryaprabhâsasrî), merecedor de ofertas, de conhecimento recto e universal, clarividência e conduta perfeitas, bem sucedido, compreendendo o mundo, inexcedivelmente meritório, instrutor de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo. Este Buddha tinha oitenta milhões de grandes bodhisattvas e mahasattvas e uma multidão de grandes ouvintes igual em número às areias de setenta e dois rios Ganges. A duração da vida desse Buddha era de quarenta e dois mil kalpas, e a duração da vida dos bodhisattvas era a mesma. Na sua terra não existiam mulheres, residentes infernais, espíritos esfomeados, bestas ou asuras e nenhum tipo de adversidade. O chão era nivelado como a palma de uma mão, feito de lápiz-lázuli e adornado com árvores de jóias. Estava coberta por cortinas de jóias com bandeiras de flores de jóias penduradas; urnas de jóias e incensórios cobriam a terra por toda a parte. Havia palanques feitos com os sete tesouros, cada um com uma árvore situada à distância de um tiro com arco. Sob essas árvores de jóias sentavam-se bodhisattvas e ouvintes e em cada um dos palanques centenas de milhões de seres celestiais tocavam instrumentos celestes e ofereciam hinos de louvor ao Buddha
“Nessa altura, pelo bem do bodhisattva Alegremente Visto Por Todos os Seres(Sarvasattvapriyadarsana) e outros numerosos bodhisattvas e ouvintes, o Buddha pregou o Sutra do Lótus. Este bodhisattva Alegremente Visto Por Todos os Seres deleitava-se com árduas práticas. Sob a Lei pregada pelo Buddha Rei da Constelação Flor ele aplicou-se diligentemente e viajou por toda a parte concentrado na procura do Buddhado por um período de doze mil anos, após o que foi capaz de alcançar o samadhi em que se pode manifestar quaisquer formas físicas. Tendo ganho este samadhi, o seu coração encheu-se de grande alegria e ele pensou para si: a minha obtenção do samadhi em que se pode manifestar todas as formas físicas é inteiramente devido ao facto de ter ouvido o Sutra do Lótus. Devo agora fazer uma oferenda ao Buddha Rei da Constelação Flor e ao Sutra do Lótus!
“Imediatamente, ele entrou em samadhi e do céu choveram flores de mandarava, grandes flores de mandarava e partículas pretas de sândalo finamente moídas enchendo o céu como nuvens. Ele também fez chover incenso do sândalo que cresce nos litorais do Sul. Seis medidas deste sândalo valem tanto quanto o mundo Saha. Tudo isto ele usou como uma oferta ao Buddha.
“Quando terminou de fazer esta oferta, despertou deste samadhi e pensou para si mesmo: apesar de ter empregue os meus poderes sobrenaturais para fazer esta oferta ao Buddha, não tem o valor de uma oferta do meu próprio corpo.
“Então, ele bebeu vários perfumes, sândalo, kunduruka, turushka, prikka e aloés. Bebeu também o fragrante óleo da flor champaka e óleos de outras flores, fazendo isto por um período de doze mil anos. Ungindo o seu corpo com um óleo fragrante, apareceu perante o Buddha Pura e Brilhante Virtude do Sol e da Lua, embrulhou o seu corpo com mantos celestiais de jóias, deitou óleo fragrante sobre a sua cabeça e, recorrendo aos seus poderes transcendentais, pegou fogo ao seu corpo. O brilho que irradiou iluminou mundos iguais em número às areias de oitenta milhões de rios Ganges. Os Buddhas nestes mundos imediatamente o louvaram, dizendo: “Excelente, excelente, bom homem! Isto é verdadeira diligência. A isto é que se pode chamar uma verdadeira oferta do Dharma ao Tathagata. Mesmo que se ofereça flores, incenso, em pó ou em pasta, estandartes de sedas celestiais, dosséis, incenso do sândalo que cresce nos litorais do Sul, nada se pode comparar com isto! Mesmo que alguém ofereça os seus reinos e cidades, mulher e filhos, não poderá igualar isto! Bom homem, entre todas as oferendas, esta é a suprema. Entre todas as oferendas, esta é a mais estimada, pois oferece-se o Dharma ao Tathagata.”
“Após o bodhisattva Alegremente Visto Por Todos os Seres ter feito esta oferta do Dharma e a sua vida ter chegado ao fim, ele renasceu na terra do mesmo Buddha Pura e Brilhante Virtude do Sol e da Lua, na casa do Rei Pura Virtude(Vimaladatta). Sentado na posição de lótus, nasceu subitamente por transformação, e de imediato, em benefício do seu pai, falou em verso dizendo:
Grande Rei, deveis entender isto.Tendo andado por um certo lugar, obtive de imediato o samadhi que permite a manifestação de todas as formas físicas.Levei a cabo os meus esforços com grande diligência e pus de parte o meu precioso corpo.
“Quando ele recitou estes versos, disse ao seu pai: “O Buddha Pura e Brilhante Virtude do Sol e da Lua está ainda presente neste tempo. Previamente eu fiz uma oferta a este Buddha e obtive o dharani que me permite compreender as palavras de todos os seres viventes. Além disso, ouvi o Sutra do Lótus com os seus oitocentos, mil, dez mil, milhões de nayutas, kankaras, vivaras, akshobhyas de versos6. Grande Rei, eu devo agora uma vez mais fazer uma oferta a este Buddha.
“Tendo dito isto, sentou-se num palanque feito com os sete tesouros, elevou-se no ar à altura de sete árvores tala e, dirigindo-se até ao local onde estava o Buddha, inclinou a sua cabeça até ao chão em reverência aos pés do Buddha, juntou os seus dez dedos e disse estes versos em louvor dos Buddhas:
O semblante tão raro e maravilhoso, os seus raios brilhantes iluminando as dez direcções!Já anteriormente eu fiz uma oferta e agora uma vez mais me encontro aqui.
“Então, após ter falado estes versos, o bodhisattva Alegremente Visto Por Todos os Seres disse ao Buddha: “Honrado Pelo Mundo, está o Honrado Pelo Mundo ainda presente no mundo?”
“Ao que o Buddha Pura e Brilhante Virtude do Sol e da Lua respondeu: “Bom homem, chegou a hora do meu nirvana. Chegou a hora da extinção. Podes preparar-me um leito confortável pois esta noite ocorrerá o meu parinirvana.”
“Ele também instruiu o bodhisattva Alegremente Visto Por Todos os Seres dizendo: “Bom homem, eu tomo esta Lei dos Buddhas e confio-ta. Além disso, os bodhisattvas e grandes discípulos, bem como a Lei de anuttara-samyak-sambodhi e o mundo de milhares de variadas jóias, com as suas árvores de jóias e os palanques de jóias e os seres celestiais que o frequentam - tudo isto eu te transmito. Também te confio as relíquias do meu corpo que restem depois de eu passar à extinção. Deves distribui-las largamente e preparar oferendas para elas em toda a parte. Deves erigir muitos milhares de torres [para as acolher].”
“O Buddha Pura e Brilhante Virtude do Sol e da Lua, tendo dado estas instruções ao bodhisattva Alegremente Visto Por Todos os Seres, nessa noite, na última vigília, entrou no Nirvana.
“Nessa altura o bodhisattva Alegremente Visto Por Todos os Seres, vendo que o Buddha passara à extinção, ficou amargurado e aflito. Com o seu grande amor pelo Buddha preparou de imediato uma pira de sândalo do litoral como oferenda ao corpo do Buddha e cremou o corpo. Após o fogo se extinguir ele juntou as relíquias, preparou oitenta e quatro mil urnas de jóias e construiu oitenta e quatro mil torres, altas como os três mundos, adornadas com mastros centrais, repletos de estandartes e dosséis pendurados com imensos sinos de jóias.
“Nessa altura o bodhisattva Alegremente Visto Por Todos os Seres pensou uma vez mais para si: “Ainda que eu tenha feito estas ofertas, a minha mente não está ainda satisfeita. Devo fazer mais algumas ofertas às relíquias.
“Então ele falou aos outros bodhisattvas e grandes discípulos e aos seres celestiais, dragões, yakshas e demais membros da grande assembleia, dizendo, “Deveis prestar toda a vossa atenção. Eu vou agora fazer uma oferta às relíquias do Buddha Pura e Brilhante Virtude do Sol e da Lua.”
“Tendo dito estas palavras, imediatamente na presença dos oitenta e quatro mil torres ele queimou os seus braços como oferta, adornados com cem bênçãos, por um período de setenta e dois mil anos. Isto levou as inumeráveis multidões que procuravam tornar-se ouvintes, em conjunto com uma imensurável asamkhya de pessoas a conceber o desejo por anuttara-samyak-sambodhi, e todos eles foram capazes de alcançar o samadhi em que se pode manifestar qualquer forma física.”
“Nessa altura os bodhisattvas, seres celestiais e humanos, asuras e outros, vendo que o bodhisattva tinha destruído os seus braços, ficaram alarmados e entristecidos e disseram: “Este bodhisattva Alegremente Visto Por Todos os Seres é o nosso mestre, intruindo-nos e convertendo-nos. Agora ele queimou os braços e o seu corpo já não está completo!”
“Nessa altura, no meio da grande assembleia, o bodhisattva Alegremente Visto Por Todos os Seres fez o seguinte voto: “Eu destrui os meus braços. Estou certo de que obterei o corpo dourado de um Buddha. Se isto for verdadeiro e não falso, que os meus dois braços voltem a ser como eram!”
“Quando ele acabou de pronunciar este voto, os seus braços reapareceram por si mesmos com a forma que tinham antes. Isto aconteceu devido à sabedoria e aos muitos e profundos méritos deste bodhisattva. Nessa altura o mundo de milhares de formas foi abalado e tremeu de seis maneiras diferentes, do céu choveram flores de jóias e todos os seres celestiais e humanos ganharam o que nunca antes haviam possuído.”
O Buddha disse ao bodhisattva Rei da Constelação Flor: “O que pensais? Será este Bodhisattva Alegremente Visto Por Todos os Seres desconhecido para ti? Ele é de facto o presente bodhisattva Rei da Medicina! Ele desfez-se do seu corpo deste modo por imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de nayutas de vezes.
Rei da Constelação Flor, se alguém se tiver decidido e quiser obter anuttara-samyak-sambhodi, fariam bem em queimar um dedo da mão ou do pé como oferenda às torres votivas do Buddha. É melhor do que oferecer reinos, cidades, mulher e filhos, ou as montanhas, florestas, rios e lagos das terras de um universo, e todos os seus tesouros preciosos. Ainda que alguém enchesse três mil galáxias de mundos com os sete tesouros e os desse em oferta ao Buddha e aos grandes bodhisattvas, pratyekabuddhas e arhats, os benefícios ganhos por essa pessoa não poderiam igualar os benefícios ganhos por aceitar e promover este Sutra do Lótus, mesmo se apenas quatro linhas! Este Sutra confere os mais abundantes de todos os benefícios.
“Rei da Constelação Flor, entre ribeiros, rios e outros cursos de água, o oceano é o principal. Este Sutra do Lótus é igual, sendo o mais profundo e grandioso dos sutras pregados pelos Tathagatas. Igualmente, tal como de entre as Montanhas Sujas, as Montanhas Negras, as Pequenas Montanhas do Círculo de Ferro, as Grandes Montanhas do Círculo de Ferro, as Montanhas dos Dez Tesouros e todas as outras montanhas, o Monte Sumeru é o principal, assim é o Sutra do Lótus. Entre todos os sutras ele ocupa a mais elevada posição. E tal como entre as estrelas e afins, a Lua, filha do Sol, é a principal, assim é este Sutra Lótus. Pois entre todas as centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de tipos de sutras, ele é o mais brilhante. Tal como o Sol, filho dos Deuses, consegue banir toda a escuridão, assim este sutra é capaz de destruir a escuridão de tudo o que não é bom.
“Tal como entre os pequenos reis os reis sábios são os principais, assim este sutra é o mais honrado de entre todos os muitos sutras. Tal como o senhor Shakra é o rei entre todos os trinta e três tipos de seres celestiais, assim este sutra é o rei entre todos os sutras. Tal como o rei celestial, o grande Brahma, é o pai de todos os seres viventes, da mesma forma este sutra é o pai de todos os sábios e meritórios, os que ainda estão a aprender, os que completaram o seu aprendizado e os que se decidiram a tornar-se bodhisattvas. Tal como de entre todos os comuns mortais, o srotaapanna, sakridagamin, anagamin, os arhats e pratyekabuddhas são os principais, assim este sutra é o principal entre todos os sutras pregados por todos os Tathagatas, pregado por todos os bodhisattvas ou pregado por todos os ouvintes e pratiekabuddas, e da mesma forma este sutra é o principal entre todos os sutras. Tal como o Buddha é o rei das doutrinas, assim este sutra é o rei dos sutras.
“Rei da Constelação Flor, este sutra pode salvar todos os seres viventes. Este sutra pode levar todos os seres a libertarem-se do sofrimento e da angústia. Este sutra pode trazer grandes benefícios aos seres viventes e cumprir os seus desejos, tal como um lago límpido pode saciar todos os que têm sede. É como um fogo para quem tem frio, um manto para quem está nu. Como um grupo de mercadores encontrando um guia, uma criança encontrando a sua mãe, alguém encontrando um barco para atravessar o rio, um homem doente encontrando um médico, alguém no escuro que encontra uma lanterna, um pobre encontrando um tesouro, as pessoas encontrando um governante, um mercador viajante que encontra o seu caminho para o mar. É como uma tocha que dissipa a escuridão, como tudo isto é o Sutra do Lótus. Pode levar os seres a libertarem-se de toda a aflição, doença e dor. Pode abrir todas as cadeias do nascimento e da morte.
Se uma pessoa é capaz de ouvir este sutra, se o copia ou faz com que outros o copiem, os benefícios que obtém dessa forma são tais que mesmo a sabedoria do Buddha nunca poderá acabar de calcular a sua extensão. Se alguém copia este sutra e usa flores, incenso em pó ou em pasta, colares, estandartes, dosséis, mantos, vários tipos de lâmpadas, tais como lâmpadas de manteiga, de óleo, lâmpadas com vários óleos fragrantes, com óleo de chanpaka ou de navamalika para fazer ofertas a este sutra, os benefícios que adquire serão igualmente imensuráveis.
“Constellation King Flower, se houver uma pessoa que ouça este capítulo acerca dos feitos passados do Bodhisattva Rei da Medicina, também ele obterá imensuráveis e ilimitados benefícios. Se houver uma mulher que ouça este capítulo acerca dos feitos passados do Bodhisattva Rei da Medicina e seja capaz de o aceitar e promover, essa será a sua última encarnação como mulher e ela não voltará a nascer sob essa forma.
“Se no último período de quinhentos anos após o Tathagata ter entrado em extinção existir uma mulher que ouça este sutra e leve a cabo as práticas que este sutra prescreve, quando a sua vida aqui na terra chegar ao fim, ela irá imediatamente para o mundo Paz e Deleite(Sukhâvatî) onde reside o Buddha Amitayus rodeado por uma assembleia de grandes bodhisattvas e aí nascerá num assento de jóias no centro de uma flor de lótus. Ele7 não mais conhecerá os tormentos da cobiça, desejo, raiva, estupidez ou ignorância, ou os tormentos derivados da arrogância, inveja ou outras impurezas. Obterá os poderes transcendentais de um bodhisattva e perceberá a verdade do não nascimento de todos os fenómenos. Tendo obtido esta verdade, a sua faculdade da visão será clara e pura, e com esta visão clara e pura ele verá Buddhas e Tathagatas iguais em número às areias de setenta e dois mil milhões de nayutas de rios Ganges.
“Nessa altura juntar-se-ão a ele Buddhas dizendo palavras de louvor: “Excelente, excelente bom homem! Sob os auspícios da Lei do Buddha Shakyamuni foste capaz de aceitar, promover, ler, recitar, e ponderar este sutra e foste capaz de o pregar para outros. A boa fortuna que obtives-te desta forma é imensurável e ilimitada. Não pode ser queimada pelo fogo ou apagada pela água. Os teus benefícios são tais que um milhar de Buddhas falando em conjunto não poderiam acabar de os descrever. Agora foste capaz de destruir todos os demónios e ladrões, de aniquilar o exército do nascimento e da morte e todos os outros que trazem inimizades ou malícia foram igualmente afastados.
“Bom homem, uma centena, um milhar de Buddhas empregará os seus poderes transcendentais para em conjunto te guardarem e protegerem. Entre os seres celestiais e humanos de todos os mundos, não existirá nenhum como tu. Com a única excepção do Tathagata, não existirá ninguém entre os ouvintes, pratyekabuddhas ou bodhisattvas capaz de te igualar em sabedoria e habilidade na meditação!”
“Rei da Constelação Flor, tais serão os benefícios e o poder da sabedoria adquiridos por este bodhisattva.
“Se existir alguém, que ao ouvir este capítulo sobre os actos passados do Bodhisattva Rei da Medicina, seja capaz de o receber com alegria e louvar a sua excelência, então nesta presente existência a boca dessa pessoa exalará constantemente a fragrância do lótus azul e os poros do seu corpo exalarão constantemente a fragrância do sândalo. Os seus benefícios serão como acima se decreve.
“Por esta razão, Rei da Constelação Flor, eu confio-te este capítulo sobre os actos passados do Bodhisattva Rei da Medicina. Após eu ter passado à extinção, no último período de quinhentos anos, deves espalhá-lo largamente através de Jambudvipa e nunca permitir que seja suprimido, nem deves permitir que demónios malignos, pessoas diabólicas, seres celestiais, dragões, yakshas ou demónios kumbhanda o corrompam ou destruam!
“Rei da Constelação Flor, deves usar os teus poderes transcendentais para guardar e proteger este sutra. Porquê? Porque este sutra oferece um bom medicamento para os males das pessoas de Jambudvipa. Se alguém que tenha uma doença for capaz de ouvir este sutra, a sua doença será curada e essa pessoa não conhecerá a velhice ou a morte.
“Rei da Constelação Flor, se vires alguém que aceite e promova este sutra, deves pegar em flores de lótus azuis, polvilhá-las com incenso e espalhá-las sobre essa pessoa como oferenda. E quando tiveres feito isso, deves pensar para ti: Não tardará muito, esta pessoa colherá ervas para fazer um assento no lugar da prática e conquistará os exércitos de Mara. Então fará soar a concha da Lei, baterá o tambor da grande Lei e libertará todos os seres viventes da velhice, da doença e da morte!
“Por esta razão quando aqueles que procuram a via do Buddha virem alguém que aceita e promove este sutra, devem aproximar-se com este tipo de respeito e reverência.”
Quando o Buddha pregou este capítulo sobre os actos passados do Bodhisattva Rei da Medicina, oitenta e quatro mil bodhisattvas obtiveram o darhani que lhes permite compreender as palavras de todos os seres viventes. O Tathagata Muitos Tesouros no interior da sua torre do tesouro louvou o bodhisattva Rei da Constelação Flor, dizendo: “Excelente, excelente, Rei da Constelação Flor. Conseguiste adquirir inconcebíveis benefícios e assim foste capaz de questionar o Buddha Shakyamuni acerca deste assunto, beneficiando um número imensurável de seres viventes.”
Capítulo Vinte e Quatro: O Bodhisattva Miozon (Gadvadasgara)
Nessa altura, o Buddha Shakyamuni emitiu um raio de luz brilhante desde a protuberância [no alto da sua cabeça], um dos sinais distintivos de um grande homem, e também emitiu um raio de luz desde o tufo de cabelo branco entre as suas sobrancelhas, iluminando terras Búddhicas na direcção Leste iguais em número às areias de cento e oitenta mil milhões de nayutas de rios Ganges. Para lá destes numerosos mundos, estava uma terra chamada Adornada Com Luz Pura (Vairokanarasmipratimandita). Neste plano existencial existia um Buddha chamado Rei da Sabedoria da Constelação Pura Flor (Kamaladalavimalanakshatrarâgasankusumitâbhigña), Tathagata, merecedor de ofertas, de conhecimento recto e universal, clarividência e conduta perfeitas, bem sucedido, compreendendo o mundo, inexcedivelmente meritório, instrutor de pessoas, mestre de seres celestiais e humanos, Buddha, Honrado Pelo Mundo. Um imensurável e ilimitado número de bodhisattvas rodeava-o e prestava-lhe reverência e para todos estes ele pregava a Lei. O raio de luz desde o tufo branco do Buddha Shakyamuni iluminava toda essa terra.
Nessa altura na terra Adornada Com Luz Pura existia um bodhisattva chamado Som Maravilhoso (Gadgadasvara), que há muito havia plantado numerosas raízes de virtude, oferecendo esmolas atendendo a imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de Buddhas. Ele conseguira adquirir todos os tipos de sabedoria profunda, obtendo o samadhi Dhvagâgrakeyûra (Embrace do Estandarte Maravilhoso), o samadhi Saddharma-Pundarîka (Lótus da Verdadeira Lei), o samadhi Vimaladatta (Concedido por Vimala), Nakshatraragâvikrîdita (Exercício do Rei das Constelações, o Deus Lua), Anilambha [De Significado Incerto], Gñânamudrâ (Selo da Sabedoria), Kandrapradîpa (Luar), Sarvarutakausalya (Entendedor de Todos os Sons, que permite compreender as linguagens de todos os seres vivos), Sarvapunyasamukkaya (Compêndio de Piedade), Prasâdavatî (Donzela Favorável), Riddhivikrîdita (Exercício de Poderes Transcendentais), Gñanolkâ (Tocha da Sabedoria), Vyûharâga (Rei das Especulações), Vimalaprabhâ (Lustre Imaculado), Vimalagarbha (Puro Repositório), Apkritsna [Pertencente ao ritual místico chamado Âpokasina em Pali], Sûryâvarta (Sóis em Rotação). Ele obteve todos estes grandes samadhis iguais em número às areias de centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de rios Ganges.
Quando a luz emitida pelo Buddha Shakyamuni iluminou o seu corpo, ele imediatamente falou ao Buddha Rei da Sabedoria da Constelação Pura Flor, dizendo: "Honrado Pelo Mundo, devo viajar ao mundo Saha para prestar obediência, atender e oferecer esmolas ao Buddha Shakyamuni e para ver o Bodhisattva Manjushri, Príncipe do Dharma, o Bodhisattva Rei da Medicina, o Bodhisattva Dador Intrépido, o Bodhisattva Rei da Constelação Flor, o Bodhisattva Intenção das Práticas Superiores, o Bodhisattva Rei Adornado e o Bodhisattva Superior em Medicina."
Nessa altura o Buddha Rei da Sabedoria da Constelação Pura Flor disse ao Bodhisattva Som Maravilhoso: "Não deves olhar com desprezo para essa terra ou pensar nela como inferior. Bom homem, o mundo Saha é acidentado, alto em alguns lugares e baixo noutros, cheio de lixo, pedras, montanhas, escória e impureza. O Buddha é de baixa estatura e os numerosos bodhisattvas são igualmente pequenos, enquanto o teu corpo tem quarenta e duas mil yojanas de altura e a minha seis milhões e oitocentos mil yojanas. O teu corpo tem uma forma perfeita, com centenas, milhares, dezenas de milhares de bênçãos e um brilho particularmente maravilhoso. Por isso, quando viajares até lá, não deves olhar com desprezo para essa terra ou pensar que o Buddha e os bodhisattvas são mesquinhos ou inferiores!"
O Bodhisattva Som Maravilhoso disse ao Buddha: "Honrado Pelo Mundo, a minha viagem até ao mundo Saha é inteiramente devida ao poder do Tathagata, um efeito produzido pelos poderes transcendentais do Tathagata, um adorno para a sabedoria e virtudes do Tathagata."
Então o Bodhisattva Som Maravilhoso, sem se levantar do seu lugar ou sequer mexer o seu corpo, entrou em samadhi e através do poder desse samadhi, num lugar muito afastado do lugar do Dharma no Monte Gridhrakuta, criou um monte de oitenta e quatro mil flores de lótus feitos de jóias. Os seus caules eram feitos de ouro jambunada, as folhas de prata, os estames de diamantes e os cálices de jóias kimshuka.
Nessa altura Manjushri, Príncipe do Dharma, vendo as flores de lótus, falou com o Buddha dizendo: "Honrado Pelo Mundo, que causas provocaram o aparecimento destes auspiciosos sinais? Aqui estão várias dezenas de milhares de flores de lótus, os seus caules são feitos de ouro jambunada, as folhas de prata, os estames de diamantes e os cálices de jóias kimshuka!"
Nessa altura o Buddha Shakyamuni disse a Manjushri: "Este bodhisattva e mahasattva Som Maravilhoso quer partir da terra do Buddha Rei da Sabedoria da Constelação Pura Flor e, acompanhado por oitenta e quatro mil bodhisattvas, vir até ao mundo Saha visitar-me, oferecer-me esmolas e prestar-me obediência. Ele também deseja oferecer esmolas ao Sutra do Lótus e ouvi-lo."
Manjushri disse ao Buddha: "Honrado Pelo Mundo, que boas raízes plantou este bodhisattva, que benefícios cultivou ele para poder agora exercer tão grandes poderes transcendentais? Que samadhi é que ele pratica? Peço-te que nos expliques o nome desse samadhi, pois nós gostaríamos de nos aplicar diligentemente na sua prática. Se levarmos a cabo este samadhi, seremos então capazes de observar o aspecto e tamanho deste bodhisattva e o seu porte e conduta. Pedimos ao Honrado Pelo Mundo que empregue os seus poderes transcendentais para trazer aqui esse bodhisattva de modo a que possamos vê-lo!"
Nessa altura o Buddha Shakyamuni disse a Manjushri, "O Tathagata Muitos Tesouros, que há muito entrou em extinção, manifestará a sua forma para vocês.
Então o Tathagata Muitos Tesouros disse ao bodhisattva [Som Maravilhoso], "Vem, bom homem. O Príncipe do Dharma Manjushri quer ver o teu corpo."
Com isso, o Bodhisattva Som Maravilhoso desapareceu da sua terra e, acompanhado por oitenta e quatro mil bodhisattvas, apareceu aqui[neste mundo Saha]. As terras por onde ele passou no seu caminho estremeceram e abanaram de seis formas diferentes, e em todas elas choveram flores de lótus de jóias e centenas de milhares de instrumentos soaram por si mesmos, sem que tivessem sido tocados.
Os olhos deste bodhisattva eram tão grandes e largos quanto as folhas do lótus azul e uma centena, um milhar, dez milhares de luas conjugadas não poderiam superar a perfeição das suas faces. O seu corpo era da cor do ouro puro, adornado com imensuráveis centenas de milhares de bênçãos. A sua dignidade e virtude eram esplendidas, a sua luz brilhava intensamente, era dotado de muitas marcas especiais e o seu corpo era tão forte como Narayana.
Tomando o seu lugar no estrado feito com os sete tesouros, ele elevou-se no ar até atingir a altura de oito árvores tala. Então, com um séquito de bodhisattvas rodeando-o e prestando reverência, viajou para o monte Gridhrakuta neste mundo Saha. Quando aqui chegou desceu do estrado de sete tesouros. Trazendo um colar no valor de centenas de milhares, dirigiu-se ao lugar onde estava o Buddha Shakyamuni, inclinou a sua cabeça até ao chão, prestou obediência aos pés do Buddha e apresentou o colar, dirigindo-se ao Buddha nestes termos: "Honrado Pelo Mundo, o Buddha Rei da Sabedoria da Constelação Pura Flor deseja informar-se sobre o estado do Honrado Pelo Mundo. São poucas as suas doenças, poucas as suas preocupações? Pode deslocar-se de forma fácil e conveniente, movimentando-se de forma confortável? Estão os quatro elementos harmonizados de forma correcta em vós? Podeis suportar os afazeres mundanos? São os seres viventes fáceis de salvar? Não são eles excessivamente dominados pela ganância, ódio, estupidez, inveja, impureza e arrogância? Não estão em falta quanto à conduta filial para com os seus pais? Não são eles pouco respeitosos para com os shramanas e dados a doutrinas heterodoxas e outros males? Não têm falhas quanto ao controle das suas cinco emoções? Honrado Pelo Mundo, existem seres viventes capazes de subjugar os demónios? O Tathagata Muitos Tesouros, que há tanto tempo entrou em extinção, veio na sua torre de sete tesouros para ouvir a Lei? O Buddha também deseja perguntar se o Tathagata Muitos Tesouros está tranquilo e sem problemas, com poucas preocupações , paciente e disposto a permanecer aqui. Honrado Pelo Mundo, eu gostaria de ver o corpo do Buddha Muitos Tesouros. Rogo ao Honrado Pelo Mundo que me permita vê-lo!"
Nessa altura o Buddha Shakyamuni disse ao Buddha Muitos Tesouros, "Este bodhisattva Som Maravilhoso deseja ver-te."
Então o Buddha Muitos Tesouros dirigiu-se a Som Maravilhoso, dizendo, "Excelente, excelente! Tu vieste até aqui por forma a poderes oferecer esmolas ao Buddha Shakyamuni, ouvir o Sutra do Lótus e ver Manjushri e os outros."
Nessa altura o Bodhisattva Virtude da Flor(Padmasrî) disse ao Buddha, "Honrado Pelo Mundo, este bodhisattva Som Maravilhoso - que boas raízes plantou ele, que benefícios é que cultivou para possuir estes poderes transcendentais?"
O Buddha respondeu a Virtude da Flor: "Em tempos passados existiu um Buddha chamado Rei do Som das Nuvens de Trovões (Meghadundubhisvararâga), Tathagata, arhat, samyak-sambuddha. A sua terra era chamada Manifestação[ou Visão] de Todos os Buddhas(Sarvabuddhasandarsana), e o seu kalpa chamava-se Visto Alegremente (Priyadarsana). Durante doze mil anos o Bodhisattva Som Maravilhoso utilizou centenas de milhares de instrumentos musicais para presentear o Buddha Rei do Som das Nuvens de Trovões, e presenteou-o também com oitenta e quatro mil tigelas mendicantes feitas com os sete tesouros. Como recompensa por estas acções ele nasceu agora na terra do Buddha Rei da Sabedoria da Constelação Pura Flor e possui estes poderes sobrenaturais.
"Virtude da Flor, qual é a tua opinião? O bodhisattva Som Maravilhoso que nesse tempo passado compôs oferendas musicais para o Buddha Rei do Som das Nuvens de Trovões e o presenteou com esses vasos de jóias - pode ele ser desconhecido para ti? De facto, ele não é senão o bodhisattva e mahasattva Som Maravilhoso que agora está aqui!
"Virtude da Flor, este bodhisattva Som Maravilhoso já serviu e fez oferendas a um imensurável número de Buddhas. Há muito que ele plantou raízes de virtude e encontrou centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de nayutas de Buddhas iguais em número às areias do rio Ganges.
"Virtude da Flor, tu vês apenas o corpo do bodhisattva Som Maravilhoso aqui presente. Mas este bodhisattva manifesta-se através de vários corpos diferentes e prega este sutra pelo bem dos seres viventes em numerosos locais. Por vezes aparece como Rei Brahma, ou como Lord Shakra, ou como o ser celestial Liberdade, ou como um grande general celeste, ou como o Rei Celestial Vaishravana, ou como um Rei Sábio, ou como um Rei Piedoso, ou como um homem rico, ou como um proprietário, ou como um ministro, ou como um Brahman, como um monge ou uma monja, um leigo ou uma leiga, como mulher de um homem rico ou de um proprietário, de um ministro ou de um Brahman, como um rapaz ou rapariga, como um ser celestial, um dragão ou um yaksha, gandarva, asura, garuda, kimnara, mahoraga, como um ser humano ou não humano. Ele aprece com estas formas para pregar este sutra.
"Virtude da Flor, este bodhisattva Som Maravilhoso pode salvar e proteger os vários seres viventes do mundo Saha. Este bodhisattva Som Maravilhoso leva a cabo várias transformações, manifestando-se de diferentes formas neste mundo Saha e prega este sutra em prol dos seres viventes, e ainda assim os seus poderes transcendentais, as suas transformações e a sua sabedoria não sofrem dano ou diminuição. Este bodhisattva emprega vários tipos de sabedoria para iluminar este mundo Saha, fazendo com que cada um dos seres viventes obtenha a compreensão apropriada e faz o mesmo em todos os outros mundos das dez direcções que são numerosos como as areias do Ganges.
"Se for necessário tomar a forma de um ouvinte para libertar os seres, ele manifesta-se como tal para pregar a Lei. Se a forma do pratiekabuddha é a indicada para libertar os seres, ele adopta essa forma para pregar a Lei. Se a forma do bodhisattva trouxer a libertação, ele manifesta-se como um bodhisattva e prega a Lei. Se a forma de um Buddha trouxer a salvação, ele manifesta-se de imediato sob a forma de um Buddha e prega a Lei. Assim ele manifesta-se de diferentes formas, conforme o que seja apropriado para a salvação. E se for apropriado entrar em extinção para trazer a salvação ele manifesta-se como estando a entrar em extinção.
"Virtude da Flor, o bodhisattva Som Maravilhoso adquiriu grandes poderes transcendentais e o poder da sabedoria que lhe permitem fazer tudo isto!"
Nessa altura o bodhisattva Virtude da Flor disse ao Buddha, "Honrado Pelo Mundo, este bodhisattva Som Maravilhoso plantou profundamente as raízes de virtude. Honrado Pelo Mundo, qual é o samadhi que permite a este bodhisattva levar a cabo todas estas transformações e manifestações para salvar os seres viventes?
O Buddha disse ao bodhisattva Virtude da flor, "Bom homem, este samadhi chama-se Manifestando Todos os Tipos de Corpos. O Bodhisattva Som Maravilhoso, praticando este samadhi, consegue desta forma enriquecer e beneficiar imensuráveis seres viventes."
Quando o Buddha pregou este capítulo sobre o Bodhisattva Som maravilhoso, as oitenta e quatro mil pessoas que vieram com o bodhisattva Som Maravilhoso adquiriram o samadhi que lhes permite manifestar todos os tipos de corpos, e os imensuráveis bodhisattvas deste mundo Saha também adquiriram este samadhi e dharani.
Nessa altura o bodhisattva e mahasattva Som Maravilhoso, tendo acabado de oferecer esmolas ao Buddha Shakyamuni e à torre do Buddha Muitos Tesouros, regressou à sua terra de origem. As terras que ele atravessou no seu caminho estremeceram e abanaram de seis formas diferentes, choveram flores de lótus de jóias e soaram centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de diferentes tipos de música.
Após ele ter chegado à sua terra original rodeado pelos seus oitenta e quatro mil bodhisattvas, prosseguiu para o local onde se encontrava o Buddha Rei da Sabedoria da Constelação Pura Flor e dirigiu-se ao Buddha dizendo, "Honrado Pelo Mundo, visitei o mundo Saha, enriqueci e beneficiei os seres viventes, vi o Buddha Shakyamuni e a torre do Buddha Muitos Tesouros, ofereci-lhes obediência e esmolas. Vi também o bodhisattva Manjushri, príncipe do Dharma, bem como o Bodhisattva Rei da Medicina, o Bodhisattva Obtendo o Poder do Esforço Diligente, o Bodhisattva Dador Intrépido e outros e tornei possível a estes oitenta e quatro mil bodhisattvas obterem o samadhi que lhes permite manifestarem todos os tipos de corpos."
Quando[o Buddha] pregou este capítulo sobre as idas e vindas do Bodhisattva Som Maravilhoso, quarenta e dois mil filhos de deuses obtiveram a verdade do não-nascimento de todos os fenómenos e o Bodhisattva Virtude da Flor obteve o samadhi chamado Lótus da Verdadeira Lei.
Capítulo Vinte e Cinco: A Passagem Universal do Bodhisattva Kanzeon (Avalokitesvara)
Nessa altura, o Bodhisattva Intenção Inesgotável (Akshayamati) levantou-se do seu lugar, descobriu o ombro direito, juntou as palmas das mãos e, fitando o Buddha, disse estas palavras: “Honrado Pelo Mundo, este Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo - porque é ele chamado Contemplador dos Sons do Mundo?”
O Buddha disse ao Bodhisattva Intenção Inesgotável: “Bom homem, supõe que existem imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de seres viventes que padecem vários sofrimentos e provações. Se eles ouvirem o nome do Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo e concentradamente invocarem o seu nome, ele perceberá o som das suas vozes e serão libertados das suas provações.
Se alguém cair num grande fogo e se concentrar no nome do Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo, o fogo não o conseguirá queimar. Isto acontece devido à autoridade e aos poderes sobrenaturais deste bodhisattva. Se alguém tiver sido arrastado por uma grande cheia e chamar pelo seu nome, encontrar-se-á de imediato num lugar seco.
“Supõe que existiam cem, mil, dez mil, um milhão de seres viventes que se faziam ao mar em busca de ouro, prata, lápiz-lázuli, madrepérola, ágata, coral, âmbar, pérolas e outros tesouros. Supõe também que um vento forte arrastasse o barco para fora do seu curso e o levasse para a terra dos demónios rakshasas. Se entre essas pessoas houvesse ainda que apenas um que invocasse o nome do Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo, todas as pessoas estariam livres de problemas com os rakshasas. É por isto que esse Bodhisattva se chama Contemplador dos Sons do Mundo.
“Se uma pessoa enfrenta uma ameaça de ataque eminente deve invocar o nome do Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo, então as espadas e paus desses atacantes serão de imediato reduzidas a pedaços e ela será salva.
Ainda que yakshas e rakshasas em número suficiente para encher um universo tentassem atormentar uma pessoa, se eles ouvissem esta pessoa a invocar o nome do Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo, não seriam sequer capazes de olhar para ela com os seus olhos malignos, muito menos de lhe fazer mal.
“Supõe que num lugar cheio com todos os bandidos impiedosos do mundo, existe um guia que conduz uma caravana de mercadores carregando valiosos tesouros por uma estrada acidentada e perigosa e que alguém diz estas palavras: “Bons homens, não tenham medo! Devem concentradamente chamar o nome do Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo. Este bodhisattva pode libertar os seres viventes do medo. Se invocarem o seu nome, ficareis livres destes bandidos maldosos!”. Quando o grupo de mercadores ouve isto, levantam as suas vozes em conjunto, dizendo, “Salve o Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo! Por terem invocado o seu nome, eles estão desde logo capazes de se salvarem. Intenção Inesgotável, a autoridade e o poder sobrenatural do Bodhisattva e Mahasattva Contemplador dos Sons do Mundo são tão poderosos quanto isto!
“Se existirem seres viventes possuídos por numerosos desejos ou apegos, pensem com reverência constante no Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo e então poderão libertar-se dos seus desejos. Se eles sentirem raiva e ódio, devem pensar com reverência constante no Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo e então poderão libertar-se da sua ira. Se forem ignorantes e estúpidos, pensem com reverência constante no Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo e poderão libertar-se da estupidez.
“Intenção Inesgotável, o Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo, tal como descrevi, possui grande autoridade e poderes sobrenaturais e pode conferir muitos benefícios. Por esta razão, os seres viventes devem constantemente pensar nele.
“Se uma mulher deseja ter um filho varão, deve oferecer obediência e esmolas ao Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo e então terá um filho abençoado com mérito, virtude e sabedoria. E se ela quiser ter uma filha, ela trará todas as marcas da beleza e será alguém que no passado plantou as raízes da virtude e é amada e respeitada por muitas pessoas.
Intenção Inesgotável, o Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo tem o poder de fazer tudo isto. Se existirem seres viventes que prestem respeito e obediência ao Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo, a sua boa fortuna não será passageira ou vã. Por isso, todos os seres viventes devem aceitar e promover o nome do Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo.
“Intenção Inesgotável, supõe que existe uma pessoa que aceita e promove os nomes de tantos bodhisattvas quantos os grãos de areia existentes no rio Ganges e por toda a duração do seu corpo, oferece esmolas sob a forma de comidas e bebida, roupa, alojamento e medicamentos. Qual é a tua opinião? Ganharia esta pessoa grandes benefícios?
“Intenção Inesgotável respondeu, “Os benefícios seriam muitos, Honrado Pelo Mundo.”
O Buddha disse: “Supõe também que uma pessoa aceitava e promovia o nome do Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo e ainda que apenas uma vez lhe oferecia obediência e esmolas. A boa fortuna obtida por essas duas pessoas seria exactamente igual. Durante cem, mil, dez mil, um milhão de kalpas nunca se esgotaria nem conheceria um fim. Intenção Inesgotável, se alguém aceita e promove o nome do Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo, obterá benefícios de méritos e virtudes assim imensuráveis e ilimitadas!”
O Bodhisattva Intenção Inesgotável disse ao Buddha, “Honrado Pelo Mundo, como é que o Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo se movimenta neste mundo Saha? Como é que ele prega a Lei em prol dos seres viventes? Como é que o poder dos meios expeditos se aplica neste caso?”
O Buddha disse ao Bodhisattva Intenção Inesgotável: “Bom homem, se existirem seres viventes na terra que precisem de alguém sob a forma de um Buddha de modo a serem salvos, o Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo manifesta-se imediatamente no corpo de um Buddha e prega a Lei para eles. Se precisarem de alguém sob a forma de um pratyekabuddha para serem salvos, imediatamente ele manifesta um corpo de pratyekabuddha e prega a Lei para eles. Se precisarem de um ouvinte para serem salvos, imediatamente ele se torna um ouvinte e prega a Lei para eles. Se precisarem de um Rei Brahma para serem salvos, imediatamente ele se torna um Rei Brahma e prega a Lei para eles. Se precisarem de um Senhor Shakra para serem salvos, imediatamente ele se torna um Senhor Shakra e prega a Lei para eles. Se precisarem de um do ser celestial Liberdade para serem salvos, imediatamente ele se torna um ser celestial Liberdade e prega a Lei para eles. Se precisarem de um grande general celestial para serem salvos, imediatamente ele se torna um grande general celestial e prega a Lei para eles. Se precisarem de um Vaishravana para serem salvos, imediatamente ele se torna um Vaishravana e prega a Lei para eles. Se precisarem de um rei piedoso para serem salvos, imediatamente ele se torna um rei piedoso e prega a Lei para eles.
Se precisarem de um homem rico para serem salvos, imediatamente ele se torna um homem rico e prega a Lei para eles. Se precisarem de um proprietário para serem salvos, imediatamente ele se torna um proprietário e prega a Lei para eles. Se precisarem de um ministro para serem salvos, imediatamente ele se torna um ministro e prega a Lei para eles. Se precisarem de um Brahman para serem salvos, imediatamente ele se torna um Brahman e prega a Lei para eles. Se precisarem de um monge ou de uma monja, de um leigo ou de uma leiga para serem salvos, imediatamente ele se torna um monge ou uma monja, um leigo ou uma leiga e prega a Lei para eles. Se precisarem da mulher de um homem rico, de um proprietário, de um ministro ou de um Brahman para serem salvos, imediatamente ele se torna qualquer uma dessas mulheres e prega a Lei para eles. Se precisarem de um rapaz ou de uma rapariga para serem salvos, imediatamente ele se torna um rapaz ou uma rapariga e prega a Lei para eles. Se precisarem de um ser celestial, um dragão, um yaksha, um gandarva, um asura, um garuda, um mahoraga, um ser humano ou não humano para serem salvos, imediatamente ele se torna qualquer um desses e prega a Lei para eles. Se precisarem de um Deus Vajra para serem salvos, imediatamente ele se torna um Deus Vajra e prega a Lei para eles.
“Intenção Inesgotável, este Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo conseguiu realizar estes benefícios e, adoptando uma variedade de formas, percorre os mundos salvando os seres viventes. Por esta razão, tu e os outros deveis concentradamente oferecer dádivas ao Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo, pois ele pode dar segurança àqueles que estão em situações perigosas, adversas e difíceis. Por isso é que neste mundo Saha todos lhe chamam “Aquele Que Dá Segurança”(Abhayandada).”
O Bodhisattva Intenção Inesgotável disse ao Buddha, “Honrado Pelo Mundo, agora vou oferecer esmolas ao Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo.”
Então ele pegou no seu colar adornado com numerosas pedras preciosas, no valor de centenas de milhares de peças de ouro e apresentou-o ao bodhisattva, dizendo, “Senhor, aceita por favor este colar de preciosas jóias como oferta no Doaram.”
Nessa altura o Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo não quis aceitar a oferta.
Intenção Inesgotável falou uma vez mais ao Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo, “Senhor, por compaixão para connosco, por favor aceita este colar.”
Então o Buddha disse ao Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo, “Por compaixão para com este Bodhisattva Intenção Inesgotável e pelos quatro tipos de crentes, pelos reis celestiais, dragões, yakshas, gandharvas, asuras, garudas, kimnaras, mahoragas, seres humanos e não humanos, deveis aceitar esse colar.”
Então o Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo, por compaixão para com os quatro tipos de crentes, os reis celestiais, dragões, seres humanos e não humanos e outros, aceitou o colar e, dividindo-o em duas partes, ofereceu uma parte ao Buddha Shakyamuni e a outra à torre do Buddha Muitos Tesouros.
[O Buddha disse,] intenção Inesgotável, estes são os poderes sobrenaturais exercidos livremente pelo Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo nas suas movimentações pelo mundo Saha.”
Nessa altura, o Bodhisattva Intenção Inesgotável colocou a questão em verso:
Honrado Pelo Mundo, dotado de maravilhosas características, pergunto-te agora uma outra vez por que razão é este filho de Buddha chamado Bodhisattva Contemplador dos Sons do Mundo?
O Honrado Pelo Mundo, dotado de maravilhosas características, respondeu também em verso ao Bodhisattva Intenção Inesgotável:
Escuta as acções do Contemplador dos Sons do Mundo, quão prontamente ele responde nas várias direcções.O seu juramento é vasto como o oceano; passam os kalpas mas ele permanece além da compreensão.Ele serviu muitos milhares de milhões de Buddhas, afirmando o seu grande e puro voto.Eu descrevê-lo-ei resumidamente para ti - ouve o seu nome, observa o seu corpo, conserva-o em mente, não deixando passar o tempo em vão, pois ele pode varrer as penas da existência.Supõe que alguém concebe o desejo de te magoar e te empurra para um grande poço de chamas.Pensa no poder do Contemplador dos Sons do Mundo e o poço de chamas transformar-se-á num lago!Se fores arrastado à deriva no vasto oceano, ameaçado por dragões, peixes e vários demónios, pensa no poder do Contemplador dos Sons do Mundo, e as ondas não te poderão afogar!Supõe que estás no pico do Monte Sumeru e alguém te empurra.Pensa no poder do Contemplador dos Sons do Mundo e ficarás suspenso no ar como o sol!Supõe que és perseguido por homens mal intencionados, que te querem atirar desde uma montanha de diamante.Pensa no poder do Contemplador dos Sons do Mundo e não poderão sequer destruir um dos teus cabelos!Supõe que estás rodeado de bandidos impiedosos, cada um brandindo uma faca para te ferir.Pensa no poder do Contemplador dos Sons do Mundo e de imediato serão tomados de compaixão!Supõe que tens problemas com as leis de um reino, enfrentas uma punição e estás prestes a perder a vida.Pensa no poder do Contemplador dos Sons do Mundo e a espada do executor quebrar-se-á em pedaços!Supõe que estás preso com cangas e correntes, os pés e as mãos presos com grilhões e algemas.Pensa no poder do Contemplador dos Sons do Mundo e essas cadeias cairão, deixando-te livre!Supõe que com pragas e ervas venenosas alguém tenta fazer-te mal.Pensa no poder do Contemplador dos Sons do Mundo e o mal recairá sobre o seu causador.Supõe que encontras rakshasas malignas, dragões venenosos e vários demónios. Pensa no poder do Contemplador dos Sons do Mundo e nenhum se atreverá a fazer-te mal!Se fores cercado por feras, com as suas assustadoras presas e garras, pensa no poder do Contemplador dos Sons do Mundo e elas fugirão a correr amedrontadas.Se fores ameaçado por lagartos, cobras, víboras, escorpiões, com o seu veneno que queima como fogo, pensa no poder do Contemplador dos Sons do Mundo e elas ao ouvirem a tua voz desaparecerão por si mesmas.Se as nuvens trouxerem tempestade e caírem relâmpagos, granizo e chuvas copiosas, pensa no poder do Contemplador dos Sons do Mundo e nesse momento as nuvens dissipar-se-ãoSe os seres viventes ficarem fatigados ou em perigo, abatidos por imensuráveis sofrimentos, o poder do Contemplador dos Sons do Mundo pode salva-los dos sofrimentos do mundo.Ele é dotado de poderes transcendentais e pratica largamente os meios expeditos da sabedoria.Através das terras nas dez direcções, não existe região onde ele não se manifeste.Em muitos tipos diferentes de circunstâncias adversas, nos reinos do inferno, dos espíritos esfomeados ou das bestas, os sofrimentos do nascimento, da velhice e da morte - todos estes ele limpa pouco a pouco.
[Então, Intenção Inesgotável, com o coração repleto de alegria, entoou estes versos:]
Tu que possuis o olhar verdadeiro, o olhar puro, o olhar da grande e abrangente sabedoria, o olhar da piedade, o olhar da compaixão - constantemente te imploramos e olhamos com reverência.A sua pura luz, livre de impureza, é um sol de sabedoria que dissipa todas as trevas.Ele pode extinguir o vento e o fogo da desgraça e trazer em toda a parte luz ao mundo.Os preceitos do seu corpo compassivo abalam-nos como a tempestade, a maravilha da sua mente piedosa é como uma grande nuvem. Ela faz chover o doce orvalho, a chuva do Dharma, para apagar as chamas dos desejos mundanos. Quando estiveres preso ou aterrorizado no meio de um exército, pensa no poder do Contemplador dos Sons do Mundo e o ódio em todas as suas formas será dissipado.O Contemplador dos Sons do Mundo tem um som maravilhoso, um som puro, como o som de Brahma ou o som da vaga do oceano, superior aos sons do mundo; daí que se deva pensar nele constantemente, sem nunca dar lugar à duvida!Contemplador dos Sons do Mundo, sábio puro, para os que sofrem, em perigo de morte, ele pode oferecer ajuda e conforto.Dotado de todos os benefícios, ele vê os seres viventes com olhos compassivos.O oceano de bênçãos por ele acumulado é imensurável; por isso se deve inclinar a cabeça perante ele!
Nessa altura o Bodhisattva Suporte da Terra (Dharanindhara) levantou-se de imediato do seu lugar, avançou e disse ao Buddha, “Honrado Pelo Mundo, se existirem seres viventes que ouçam este capítulo sobre o Bodhisattva Comtemplador dos Sons do Mundo, sobre a liberdade das suas acções, sobre a sua manifestação de uma Passagem Universal e sobre os seus poderes transcendentais, deve saber-se que os benefícios ganhos por essas pessoas não serão poucos!”
Quando o Buddha pregou este capítulo sobre a Passagem Universal, uma multidão de oitenta e quatro mil pessoas na assembleia conceberam a determinação de atingir o estado incomparável de anuttara-samyak-sambodhi.
Capítulo Vinte e Seis: Dharani
Nessa altura o Bodhisattva Rei da Medicina levantou-se do seu lugar, descobriu o ombro direito, juntou as palmas das mãos e, fitando o Buddha, dirigiu-se a ele, dizendo, “Honrado Pelo Mundo, se existirem bons homens ou boas mulheres que aceitem e promovam o Sutra do Lótus, se o lerem e recitarem, penetrarem o seu significado ou copiarem os rolos do sutra, quanto mérito é que obterão?”
O Buddha disse a Rei da Medicina, “Se existirem bons homens ou boas mulheres que ofereçam esmolas a Buddhas iguais em número às areias de oitocentas dezenas de milhares de milhões de nayutas de rios Ganges, qual é a tua opinião? Os méritos por eles alcançados seriam seguramente muitos, não seriam?”
“Muitíssimos realmente, Honrado Pelo Mundo.”
O Buddha disse, “Se existirem bons homens ou boas mulheres que, em relação a este sutra, o aceitem e promovam, ainda que apenas quatro linhas de verso, se o lerem e recitarem, entenderem o seu princípio e o praticarem conforme o que o sutra diz, os seus benefícios serão muitos mais.”
Nessa altura o Bodhisattva Rei da Medicina disse ao Buddha, “Honrado Pelo Mundo, eu darei agora àqueles que pregam a Lei encantamentos dharani, que os guardarão e protegerão.” Então ele pronunciou estes encantamentos:
anye manye mane mamane chitte harite shame shamitavishante mukte muktatame same avashame sama same kshayeakshaye akshine shante shame dharani alokabhashe-pratyavekshani nivshte abhyantaranivishte atyantaparishuddhiukkule mukkule arade parade shukakashi asamasamebuddhavilokite dharmaparikshite samghanirghoshanibhayabhayashodhani mantre mantrakshayate ruterutakaushalye akshaye akshayavanataya abalo amanyanataya.
“Honrado Pelo Mundo, estes dharanis, estes encantamentos sobrenaturais, são pronunciados por Buddhas iguais em número às areias de sessenta e dois milhões de rios Ganges. Se alguém atacar ou ferir estes mestres da Lei, terá então atacado e ferido todos esses Buddhas!”
Nessa altura o Buddha Shakyamuni louvou o Bodhisattva Rei da Medicina, dizendo, “Excelente, excelente, Rei da Medicina! Tu dedicas a estes mestres da Lei os teus pensamentos compassivos e por isso pronuncias estes dharanis. Eles trarão grandes benefícios aos seres viventes.”
Nessa altura o Bodhisattva Dador Intrépido disse ao Buddha, “Honrado Pelo Mundo, também eu vou recitar dharanis para proteger e guardar aqueles que leiam, recitem, aceitem e promovam o Sutra do Lótus. Se um mestre da Lei adquirir estes dharanis, mesmo que yakshas, rakshasas, putanas, krityas, kumbhandas ou espíritos esfomeados o vigiem e tentem aproveitar-se dele, serão incapazes de o fazer.” Então em presença do Buddha ele recitou estes encantamentos:
jvale mahajvale ukke mukke ade adavati nritye nrityavati ittinivittini chittini nrityani nrityakati
“Honrado Pelo Mundo, estes dharanis, estes encantamentos sobrenaturais, são pronunciados por Buddhas iguais em número às areias do Ganges. Se alguém atacar ou ferir estes mestres da Lei, terá então atacado e ferido todos esses Buddhas!”
Nessa altura o rei celestial Vaishravana, protector do mundo, disse ao Buddha, “Honrado Pelo Mundo, também eu penso com compaixão nos seres viventes e defendo e protejo estes mestres da Lei, por isso vou recitar estes dharanis.” Então ele recitou estes encantamentos:
atte natte nunatte anada nade kunadi
Honrado Pelo Mundo, com estes encantamentos sobrenaturais eu guardo e protejo os mestres da Lei. E guardarei também aqueles que promovam este sutra, garantindo que eles não sofram dano ou declínio numa área de cem yojanas.”
Nessa altura o rei celestial Defensor da Nação, que estava na assembleia com um séquito de milhares, dezenas de milhar, milhões de nayutas de gandharvas que o rodeavam e lhe prestavam reverência, avançou até ao lugar onde estava o Buddha, juntou as palmas das mãos e disse ao Buddha, Honrado Pelo Mundo, também eu empregarei dharanis, encantamentos sobrenaturais, para proteger e guardar aqueles que promovem o Sutra do Lótus.” Então recitou estes encantamentos:
agane gane gauri gandhari chandali matangi janguly vrusaniagashti
“Honrado Pelo Mundo, estes dharanis, estes encantamentos sobrenaturais, são recitados por quarenta e dois milhões de Buddhas. Se alguém atacar ou ferir os mestres da Lei, terá atacado e ferido todos estes Buddhas!”
Nessa altura estavam presentes as filhas dos demónios rakshasa, a primeira chamada Lamba, a segunda Vilamba, a terceira Dente Torto, a quarta Dente Florido, a quinta Dente Negro, a sexta Cabelo Abundante, a sétima Insaciável, a oitava Portadora do Colar, a nona Kunti e a décima Aquela que Rouba o Espírito Vital de Todos os Seres Vivos. Estas dez filhas de rakshasas, em conjunto com a Mãe da Criança Demónio, o seu filho e os seus seguidores, prosseguiram até ao local onde estava o Buddha e falaram-lhe em uníssono, dizendo, “Honrado Pelo Mundo, também nós desejamos proteger e guardar aqueles que lêem, recitam, aceitam, e promovem o Sutra do Lótus e o poupam de qualquer declínio ou deturpação. Se alguém espiar as acções destes mestres da Lei e tentar aproveitar-se deles, nós tornaremos impossíveis os seus propósitos.” Então, na presença do Buddha pronunciaram estes encantamentos:
itime itime itime atime itime nime nime nime nime nime ruheruhe ruhe ruhe stahe stahe stahe stuhe shuhe
Ainda que passem sobre as nossas cabeças, nunca perturbarão os mestres da Lei! Quer sejam yakshas, pakshasas, espíritos esfomeados, putanas, krityas, vetadas, skandas(8), umarakas, apasmarakas, yakshas krityas ou humanas, ou uma febre, quer seja de um dia, de dois, três, quatro ou até sete dias, ou mesmo uma febre constante, seja na forma de um homem, de uma mulher, de um rapaz ou rapariga, ainda que apenas num sonho, nunca os perturbará!”
Então, na presença do Buddha elas falaram em verso, dizendo:
Se houver alguém que não preste atenção aos nossos encantamentos e perturbe e prejudique os pregadores da Lei, as suas cabeças serão desfeitas em sete pedaços como os ramos da árvore arjaka. O seu crime será igual ao de alguém que mate pai e mãe, ou de alguém que adultere o óleo ou que engane os outros com medidas e escalas, ou que, como Devadatta, cause dissensões na Ordem de monges.Se alguém cometer um crime contra os mestres da Lei fará recair sobre si uma culpa igual a estas!”
Depois de terem recitado estes versos, as filhas de rakshasa disseram ao Buddha, “Honrado Pelo Mundo, nós usaremos os nossos próprios corpos para proteger e guardar aqueles que aceitam, lêem, recitam e praticam este sutra. Nós velaremos para que eles tenham paz e tranquilidade, livrando-os do declínio e do mal e anulando os efeitos de todas as ervas venenosas.”
O Buddha disse às filhas de rakshasas, “Excelente, excelente! Se vocês guardarem e protegerem aqueles que aceitam e promovem simplesmente o nome do Sutra do Lótus, o vosso mérito será imensurável. Quanto mais se defenderem e guardarem aqueles que o aceitam e promovem na integra, que oferecem esmolas aos rolos do sutra, flores, incenso em pó ou em pasta, colares, estandartes, dosséis, música, que queimam várias lamparinas, de manteiga, de óleo, de óleos fragrantes, de óleo da flor utpala, e que desta forma oferecem centenas de milhares de variedades de esmolas? Kunti, tu e os teus seguidores devem proteger e guardar estes mestres da Lei!”
Quando o Buddha pregou este capítulo sobre os Dharani, sessenta e duas mil pessoas alcançaram a verdade do não-nascimento.
Capítulo Vinte e Sete: Os Actos Passados do Rei Adorno Maravilhoso
Nessa altura o Buddha dirigiu-se à grande assembleia, dizendo: “Numa era longínqua, há um imensurável, ilimitado, inconcebível número de kalpas no passado, existiu um Buddha chamado Rei da Flor da Sabedoria da Constelação Som da Nuvem de Tempestade(Galadharagargitaghoshasusvaranakshatrarâgasankusumitâbhigña), Tathagata, arhat, samyak-sambuddha. A sua terra chamava-se Adorno de Luz Brilhante(Vairokanarasmipratimandita) e o seu kalpa chamava-se Alegremente Visto(Priyadarsana). Nesta era da Lei Búddhica existia um rei chamado Adorno Maravilhoso(Subhavyaha). A mulher do rei chamava-se Pura Virtude(Vimaladatta), e eles tinham dois filhos, um chamava-se Repositório Puro(Vimalagarbha) e o outro Olho Puro(Vimalanetra). Estes dois filhos possuíam grandes poderes sobrenaturais, mérito, virtude, sabedoria e durante muito tempo cultivaram a via apropriada a um Bodhisattva, levando a cabo a dana-paramita, shila-paramita, kshanti-paramita, virya-paramita, dhynana-paramita, prajna-paramita e a paramita dos meios expeditos, praticaram a piedade, a compaixão, a alegria e a indiferença, bem como os trinta e sete auxílios para a via(9). Tudo isto eles entenderam e dominaram completamente. Além disso, obtiveram os samadhis do bodhisattva, nomeadamente, o samadhi puro e os samadhis sol, lua e estrela, o samadhi constelação, o samadhi luz pura, o samadhi cor pura, o samadhi pura iluminação, o samadhi longo adorno e o samadhi da grande dignidade e virtude, eles aperfeiçoaram completamente todos estes samadhis.
“Nessa altura esse Buddha, desejando atrair e guiar o Rei Adorno Maravilhoso, e também por pensar com compaixão nos seres viventes, pregou o Sutra do Lótus. Os dois filhos do rei, Repositório Puro e Olho Puro, foram ter com sua mãe, juntaram as palmas das mãos e disseram-lhe, “Rogamos à nossa mãe que visite o lugar do Buddha Rei da Flor da Sabedoria da Constelação Som da Nuvem de Tempestade. Também nós iremos lá e, chegando próximos dele oferecer-lhe-emos esmolas e obediência. Porquê? Porque o Buddha está a pregar o Sutra do Lótus no meio da multidão de seres celestiais e humanos e é nosso dever escutá-lo e aceitá-lo.”
“A mãe anunciou aos seus filhos, “O vosso pai acredita em doutrinas não Budistas e está profundamente apegado à Lei Bramânica. Vós deveis ir ter com o vosso pai, falar-lhe acerca disto e persuadi-lo a ir convosco.”
“Repositório Puro e Olho Puro juntaram as palmas das suas mãos e disseram a sua mãe, “Nós somos filhos do Rei do Dharma, e apesar disso nascemos nesta família de ideias heréticas!”
”A mãe disse aos seus filhos, “Vós tendes razão ao falar com preocupação do vosso pai. Deveis manifestar algum poder sobrenatural para ele. Quando ele vir isso, a sua mente será decerto limpa e purificada e ele há-de deixar-nos ir até onde está o Buddha.”
“Os dois filhos, preocupados com o seu pai, elevaram-se no ar até à altura de sete árvores tala e executaram várias maravilhas sobrenaturais, andando, sentando-se e deitando-se em pleno ar; fazendo jorrar água da parte de baixo dos seus corpos, fazendo sair fogo da parte de cima dos seus corpos, manifestando corpos imensos que enchiam os céus e então tornando-se pequenos novamente, tornando-se depois outra vez enormes, desaparecendo no céu e aparecendo subitamente no chão; desaparecendo no chão como se fossem de água; andando na água como se fosse terra. Eles manifestaram todos estes vários tipos de maravilhas sobrenaturais de modo a tornarem pura a mente do seu pai, fazendo-o acreditar e compreender.”
“Nessa altura, quando o pai viu os seus filhos demonstrarem poderes sobrenaturais deste tipo, a sua mente ficou repleta de grande deleite, tal como ele nunca tinha sentido, e ele juntou as palmas das mãos, fitou os seus filhos e disse? “Quem é o vosso mestre? De quem é que vocês são discípulos?”
“Os dois filhos responderam, “Grande rei, o Buddha Rei da Flor da Sabedoria da Constelação Som da Nuvem de Tempestade está neste momento sentado no lugar do Dharma sob uma árvore bodhi de jóias, entre a multidão de seres celestiais e humanos de todo o mundo, e expõe largamente o Sutra do Lótus. Ele é o nosso mestre e nós somos seus discípulos.”
“O pai disse aos seus filhos, “Eu gostaria de ir agora ver o vosso mestre, podeis vir comigo.”
“Com isto os dois filhos desceram do ar, prosseguiram para onde se encontrava a sua mãe, juntaram as palmas das mãos e disseram-lhe, “O nosso pai já acredita e compreende, e está inteiramente capaz de conceber o desejo de anuttara-samyak-sambodhi. Nós completamos o trabalho do Buddha em prol do nosso pai. Rogamos à nossa mãe que nos permita ir ao lugar onde está o Buddha, abandonar a vida familiar e praticar a via.”
“Nessa altura os dois filhos, desejando expor uma vez mais o sentido das suas palavras, falaram em verso, dizendo a sua mãe:
Rogamos à nossa mãe que nos permita deixar a vida familiare tornarmo-nos shramanas.Os Buddhas são muito difíceis de encontrar; nós seguiremos este Buddhapara aprendermos com ele.Rara é a flor da udumbara, mais raro é encontrar um Buddha, e escapar das dificuldades é igualmente difícil - pedimos-te que nos deixes abandonar a vida familiar.
“A sua mãe disse-lhes então, “Eu permitir-vos-ei deixar a vida familiar. Porquê? Porque o Buddha é muito difícil de encontrar.”
“Os dois filhos então dirigiram-se aos seus pais, dizendo, “Excelente, pai e mãe! Pedimo-vos também que vão prontamente ao lugar onde se encontra o Buddha Rei da Flor da Sabedoria da Constelação Som da Nuvem de Tempestade, se dirijam a ele e lhe ofereçam esmolas. Porquê? Porque encontrar um Buddha é tão difícil como encontrar a flor da udumbara. Ou tão difícil como uma tartaruga com um único olho enfiar o pescoço numa tábua com um orifício a flutuar no oceano. Nós fomos abençoados com uma grande boa fortuna de vidas anteriores e assim, nascemos numa era em que podemos encontrar a Lei do Buddha. Por esta razão o nosso pai e a nossa mãe devem deixar-nos abandonar a vida de família. Porquê? Porque os Buddhas são difíceis de encontrar, e a ocasião apropriada é também difícil de encontrar.”
“Nessa altura, as oitenta e quatro mil pessoas do pavilhão das mulheres do rei Adorno Maravilhoso foram capazes de aceitar e promover o Sutra do Lótus. O bodhisattva Olho Puro já tinha há muito tempo aperfeiçoado o samadhi da flor e o bodhisattva Repositório Puro há várias centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de kalpas, tinha-se aperfeiçoado no samadhi da fuga aos reinos malignos da existência. Isto porque ele queria tornar possível a todos os seres viventes escapar dos reinos malignos. A esposa do rei adquiriu o samadhi da assembleia dos Buddhas e foi capaz de entender o repositório secreto dos Buddhas. Os seus dois filhos, tal como foi já descrito, tinham empregue o poder dos meios expeditos para melhorar e transformar o seu pai para que ele obtivesse uma mente de fé e compreensão e amor e deleite na Lei do Buddha.”
“Então, o Rei Adorno Maravilhoso, acompanhado pelo seu séquito de ministros e secretários, a sua rainha Pura Virtude e todas as residentes e servas do pavilhão das mulheres, os seus dois filhos com os seus quarenta e dois mil serviçais, foi para o lugar onde se encontrava o Buddha. Ali chegados, inclinaram as suas cabeças até ao chão em obediência aos seus pés, andaram em volta do Buddha três vezes e depois retiraram-se, ocupando um lugar na assembleia.
“Nessa altura o Buddha pregou a Lei para o bem do rei, instruindo-o e trazendo-lhe benefício e alegria. o rei estava exultante.
“Nessa altura o Rei Adorno Maravilhoso e a sua rainha tiraram dos seus pescoços colares no valor de centenas de milhares e espalharam-nos sobre o Buddha. No meio do ar os colares transformaram-se num palanquim de jóias com quatro pilares. Nesse palanquim estava uma larga almofada de jóias coberta com centenas, milhares, dezenas de milhares de mantos celestiais. Sentado com as pernas cruzadas em posição de lótus estava um Buddha que emitia uma luz brilhante.
“Nessa altura o Rei Adorno Maravilhoso pensou para si mesmo: “O corpo do Buddha é verdadeiramente raro, extraordinário em dignidade e adorno, tomando uma forma de suprema subtileza e maravilha!” Então o Buddha Rei da Flor da Sabedoria da Constelação Som da Nuvem de Tempestade falou para os quatro tipos de crentes dizendo, “Vedes este Rei Adorno Maravilhoso que está à minha frente com as palmas das mãos juntas? No seio da minha Lei este rei tornar-se-á um monge, praticando diligentemente a Lei que favorece a via do Buddha. Ele será capaz de se tornar um Buddha. O seu nome será Rei Árvore Sal, a sua terra chamar-se-á Grande Luz e o seu kalpa Rei Grande e Altivo. Este Buddha Árvore Sal terá uma multidão imensurável de bodhisattvas, bem como incontáveis ouvintes. A sua terra será nivelada e suave. Tais serão os seus benefícios.”
“O rei imediatamente entregou o seu reino ao seu irmão mais novo e ele próprio, com a sua mulher, os seus filhos e todos os seus serviçais, no seio da Lei Búddhica renunciaram à vida doméstica e praticaram a via.
“Após o rei ter deixado a vida familiar, ele aplicou-se constante e diligentemente pelo espaço de oitenta e quatro mil anos, praticando o Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa. quando este período de tempo passou, ele obteve o samadhi do adorno de todos os benefícios puros. Elevando-se no ar à altura de sete árvores tala, dirigiu-se ao Buddha dizendo: “Honrado Pelo Mundo, estes meus dois filhos levaram a cabo o trabalho do Buddha, empregando poderes transcendentais e transformações para afastar a minha mente das heresias, permitindo-me acolher-me com segurança na Lei do Buddha e fazendo com que eu visse o Honrado Pelo Mundo. Estes dois filhos foram bons amigos para mim. Eles quiseram despertar em mim as boas raízes das minhas existências passadas e enriquecer-me e beneficiar-me e por essa razão nasceram na minha casa.”
“Nessa altura o Buddha Rei da Flor da Sabedoria da Constelação Som da Nuvem de Tempestade, disse ao Rei Adorno Maravilhoso, “Assim é, assim é. É tal como disseste. Se bons homens ou boas mulheres tiverem plantado boas raízes e consequentemente, em existência após existência forem capazes de obter bons amigos, então estes bons amigos podem fazer o trabalho do Buddha, ensinando, beneficiando, deleitando e permitindo-lhes entrar em anuttara-samyak-sambodhi. Grande rei, deves compreender que um bom amigo é a grande causa e condição mediante a qual se é guiado e conduzido, e que torna possível ver o Buddha e conceber o desejo por anuttara-samyak-sambodhi. Grande rei, vês estes dois filhos? Estes dois filhos já ofereceram esmolas a Buddhas iguais em número às areias de sessenta e cinco centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de rios Ganges, aproximaram-se deles com reverência e na presença desses Buddhas aceitaram e promoveram o Sutra do Lótus, pensando com compaixão nos seres viventes que abraçam teorias heréticas e levando-os a aceitar as ideias correctas.”
“O Rei Adorno Maravilhoso desceu então do ar e disse ao Buddha, “Honrado Pelo Mundo, o Tathagata é de facto um ser raro! Devido aos seus benefícios e à sua sabedoria, o nódulo do topo da sua cabeça ilumina todos com luz brilhante. Os seus olhos são longos, largos e de cor azul escura. O tufo de cabelo entre as suas sobrancelhas, uma das suas características, é branco como uma lua de cristal. Os seus dentes são brancos, regulares, juntos e têm constantemente uma luz brilhante. Os seus lábios são vermelhos e belos como o fruto bimba.”
“Nessa altura o Rei Adorno Maravilhoso, tendo louvado desta forma as imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de benefícios, na presença do Tathagata juntou as palmas das mãos concentradamente e dirigiu-se uma vez mais ao Buddha, dizendo, “Honrado Pelo Mundo, nunca no passado se conheceu algo assim! A Lei do Tathagata é inteiramente dotada de inconcebíveis, subtis e maravilhosos benefícios. Onde os seus ensinamentos e preceitos forem observados existirá tranquilidade e sentimentos benéficos. De hoje em diante eu abandonarei as teorias heréticas e a arrogância, raiva ou qualquer outro estado mental negativo.”
“Quando acabou de dizer estas palavras, curvou-se aos pés do Buddha e partiu.”
O Buddha disse à grande assembleia: ”Qual é a vossa opinião? Será o Rei Adorno Maravilhoso desconhecido para vós? De facto ele não é senão o actual Bodhisattva Virtude da Flor. E a sua rainha Pura Virtude é o Bodhisattva Marcas do Adorno de Luz Brilhante(Vairokanarasmipratimanditarâga) que está agora na presença do Buddha. Por compaixão e piedade pelo Rei Adorno Maravilhoso e pelos seus serviçais, ele nasceu entre eles. Os filhos do Rei são os actuais Bodhisattvas Rei da Medicina e Medicina Superior.
“Estes bodhisattvas Rei da Medicina e Medicina Superior conseguiram já obter grandes benefícios como este, e na presença de imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de Buddhas plantaram numerosas raízes de virtude e adquiriram inconcebíveis benefícios. Se existirem pessoas que conheçam os nomes destes dois bodhisattvas, os seres celestiais e humanos de todo o mundo prestar-lhes-ão obediência.”
Quando o Buddha pregou este capítulo sobre os Actos Passados do Rei Adorno Maravilhoso, oitenta e quatro mil pessoas alcançaram o olho puro do Dharma, libertando-se assim da poeira e sujidade em relação aos vários fenômenos.
Capítulo Vinte e Oito: O Incentivo do Bodhisattva Universalmente Meritório (Samantabhadra)
Nessa altura o Bodhisattva Universalmente Meritório, conhecido pelos seus poderes transcendentais, dignidade e virtude, acompanhado por um imensurável, ilimitado e indescritível número de grandes bodhisattvas, chegou da região Este. As terras por onde passou tremeram e abanaram, nelas caíram chuvas de flores de lótus e soaram imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de diferentes musicas. Além disso, inúmeros seres celestiais, dragões yakshas, gandharvas, asuras, garudas, kimnaras, mahoragas, seres humanos e não humanos, rodeavam-no numa grande assembleia, cada um dando mostras da sua dignidade, virtude e poderes transcendentais.
Quando [o Bodhisattva Universalmente Meritório] chegou ao Monte Gridhrakuta no mundo Saha, inclinou a cabeça até ao chão em obediência ao Buda Shakyamuni, deu sete voltas em seu redor da esquerda para a direita e disse ao Buda: “Honrado Pelo Mundo, quando eu estava na terra do Buda Rei Acima da Jóia da Dignidade e da Virtude (Ratnategobhyudgata), desde longe ouvi o Sutra do Lótus a ser ensinado neste mundo Saha. Na companhia desta multidão de imensuráveis, ilimitadas centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de bodhisattvas vim para o ouvir e aceitar. Rogo que o Honrado Pelo Mundo o esponha para nós. Os bons homens e boas mulheres no período após o Tathagata se ter extinguido - como poderão eles ouvir o Sutra do Lótus?”
O Buda disse ao Bodhisattva Universalmente Meritório: “Se bons homens ou boas mulheres reunirem as condições necessárias após o Tathagata ter entrado em extinção, então serão capazes de obter este Sutra do Lótus. Primeiro, deverão estar protegidos e mantidos em mente pelos Budas. Segundo, deverão plantar raízes de virtude. Terceiro, devem atingir o estado em que estão seguros de alcançarem a iluminação. Quarto, devem conceber a determinação de salvarem todos os seres viventes. Se os bons homens e as boas mulheres reunirem estas quatro condições, então após a extinção do Tathagata obterão seguramente este sutra.”
Nessa altura o Bodhisattva Universalmente Meritório disse ao Buda: “Honrado Pelo Mundo, na era malévola e corrupta dos últimos quinhentos anos, se houver alguém que aceite e promova este sutra, eu o guardarei e protegerei, libertando-o do declínio e da dor, velando para que alcance paz e tranquilidade, e garantindo que ninguém o espie e se aproveite das suas acções, nenhum demónio, filho ou filha de demónio, servo do demónio, ou possuído por demónios, nenhum yaksha, rakshasa, kumdhanda, pishacha, kritya, putana, vedata ou outro ser que atormente humanos será capaz de se aproveitar dele.
“Quer essa pessoa esteja parada ou a andar, se ler e recitar este sutra, então montarei o meu elefante branco real de seis presas e com a minha multidão de grandes bodhisattvas irei até onde ela estiver. Manifestar-me-ei, oferecerei esmolas, guardando-o, protegendo-o e confortando a sua mente. Farei isto porque também eu quero oferecer esmolas ao Sutra do Lótus. Se quando essa pessoa estiver sentada pensar neste sutra, nessa altura montarei o meu elefante branco real e manifestar-me-ei na sua presença. Se essa pessoa esquecer uma única frase ou verso do Sutra do Lótus, ajudá-la-ei e juntar-me-ei a ela na leitura e recitação de modo a que compreenda. Nessa altura, a pessoa que aceitar, promover, ler e recitar o Sutra do Lótus será capaz de ver o meu corpo, ficará repleta de alegria e aplicar-se-á com mais diligência do que nunca. Por me ter visto, adquirirá imediatamente samadhis e dharanis. Estes chamam-se o dharani repetido, o dharani das cem, mil, dez mil, um milhão de repetições e o dharani expedito do som do Dharma. Essa pessoa adquirirá dharanis como estes.
“Honrado Pelo Mundo, nessa última era, no período maléfico e corrupto dos últimos quinhentos anos, se existirem monges, monjas, leigos ou leigas que procurem, aceitem, promovam, leiam e recitem, e transcrevam este Sutra do Lótus, que queiram praticá-lo, devem fazê-lo diligente e concentradamente por um período de vinte e um dias. Ao fim desses vinte e um dias, montarei o meu elefante de seis presas e, rodeado por um número imensurável de bodhisattvas, e com este corpo que deleita todos os seres que o vêem, manifestar-me-ei na presença dessa pessoa e ensinar-lhe-ei a Lei, trazendo-lhe instrução, benefício e alegria. Dar-lhe-ei também encantamentos dharanis. Por terem adquirido esses encantamentos, nenhum ser não humano será capaz de os ferir e não serão confundidos ou levados a perder-se por nenhuma mulher. Guardá-los-ei pessoalmente em todas as ocasiões. Por isso, Honrado Pelo Mundo, espero que me permitas pronunciar estes dharanis.” Então, na presença do Buda pronunciou estes encantamentos:
adande dandapati dandavarte dandakushale dandasudharesudhare sudharapati Budapashyane sarvadharani-avartanisarvandhashyavartani su-avartani samghaparikshanisamghanarghatani asamge samgapagate tri-adhvasamgatulya-arate-prapty savasamgasamatikrante sarvadharmasuparikshitesarvasattvarutakaushalyanugate simhavikridite
“Honrado Pelo Mundo, se algum bodhisattva for capaz de ouvir estes dharanis, ele deve compreender que tal é devido aos poderes transcendentais de Universalmente Meritório. Se quando o Sutra do Lótus for propagado pelo jambudvipa houver quem o aceite e promova, deve pensar para si mesmo: Isto é tudo devido à autoridade e poder sobrenatural de Universalmente Meritório! Aqueles que aceitarem este sutra, o memorizarem correctamente, compreenderem os seus princípios e praticarem de acordo com o que o sutra prescreve, devem saber que estão a levar a cabo as práticas do próprio Universalmente Meritório. Na presença de um imensurável e ilimitado número de Budas terão plantado profundamente boas raízes, e as mãos do Tathagata afagarão as suas cabeças.
“Se não fizerem mais do que copiarem o sutra, quando as suas vidas tiverem chegado ao fim renascerão no paraíso de Trayastrimsha. Nessa altura oitenta e quatro mil mulheres celestiais, tocando todos os tipos de música, irão recebê-lo. Tais pessoas usarão coroas feitas com os sete tesouros e recrear-se-ão entre essas mulheres. Quanto mais não será no caso daqueles que aceitam, promovem, lêem e recitam o sutra, que o memorizam correctamente e entendem os seus princípios; quando as vidas destas pessoas chegarem ao fim serão recebidas pelas mãos de um milhar de Budas, que os libertarão de todo o medo e os manterão a salvo de caírem nos planos negativos de existência. Imediatamente prosseguirão para o paraíso Tushita, para o lugar do bodhisattva Maitreya. O Bodhisattva Maitreya possui as trinta e duas características e está rodeado por uma multidão de grandes bodhisattvas. Tem centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de servas celestiais e estas pessoas nascerão entre elas. Esses serão os benefícios e vantagens de que usufruirão.
“Por isso as pessoas sábias devem concentradamente copiar o sutra ou fazer com que outros o copiem, devem aceitá-lo, promovê-lo, lê-lo e recitá-lo, memorizá-lo correctamente e praticar de acordo com o que o sutra prescreve. “Honrado pelo Mundo, empregarei os meus poderes transcendentais para guardar e proteger este sutra. Após o Tathagata ter entrado em extinção, eu farei com que seja propagado por todo o Jambudvipa e velarei para que nunca se perca ou acabe.”
Nessa altura, o Buda Shakyamuni disse estas palavras de louvor: “Excelente, excelente, Universalmente Meritório! És capaz de guardar e assistir este sutra e fazer com que muitos seres viventes alcancem paz, alegria e muitas vantagens. Tu adquiris-te já inconcebíveis benefícios e grande e profunda piedade e compaixão. Desde há longas eras no passado demonstraste o desejo por anuttara-samyak-sambhodi, e fizeste o voto de guardar e proteger este sutra. Empregarei os meus poderes transcendentais para guardar e proteger aqueles que aceitem e promovam o nome do Bodhisattva Universalmente Meritório.
“Universalmente Meritório, se houver quem aceite, promova, leia e recite este Sutra do Lótus, o memorize correctamente, o pratique e transcreva, deves saber que tais pessoas viram o Buda Shakyamuni. É como se tivessem ouvido este sutra da boca do Buda. Deves saber que tais pessoas ofereceram esmolas ao Buda Shakyamuni, deves saber que tais pessoas foram afagadas na cabeça pelo Buda Shakyamuni. Deves saber que tais pessoas foram cobertas pelo manto do Buda Shakyamuni.
“Elas não serão mais gananciosas nem apegadas aos prazeres mundanos, não terão gosto pelas escrituras ou sentenças dos não Budistas, não terão sequer nenhum prazer em se associarem com tais pessoas, ou com quem estiver envolvido em ocupações malévolas tais como carniceiros, criadores de porcos ou ovelhas, de galinhas ou cães, com caçadores ou com proxenetas, que ofereçam para venda os favores das mulheres. Serão honestas e rectas de mente e intenção, com uma memória correcta, e possuidoras de mérito e virtude. Não serão perturbadas pelos três venenos, nem serão perturbadas pela inveja, soberba, presunção infundada ou arrogância. Estas pessoas terão poucos desejos, serão de fácil contentamento e saberão como levar a cabo as práticas de Universalmente Meritório.
“Universalmente Meritório, após o Tathagata ter entrado em extinção, no último período de quinhentos anos, se vires alguém que aceite, promova, leia e recite o Sutra do Lótus, deves pensar para ti mesmo: Não tardará muito até que esta pessoa prossiga para o lugar da prática, conquiste as multidões de demónios e alcance anuttara-samyak-sambodhi. Fará girar a roda do Dharma, baterá o tambor do Dharma, fará soar a concha do Dharma e fará cair a chuva do Dharma. Merece sentar-se no trono de leão do Dharma, entre a grande assembleia de seres celestiais e humanos.
“Universalmente Meritório, em idades vindouras, aqueles que aceitarem, promoverem, lerem e recitarem este sutra, nunca mais serão apegados ou gananciosos por roupa, cama, comida, bebida ou outras necessidades da vida diária. Os seus anseios não serão vãos e na sua presente existência alcançarão a recompensa de uma boa fortuna. Se houver alguém que os despreze ou diminua, dizendo, “Vós sois meros idiotas! É inútil levar a cabo essas práticas - no fim não obtereis nada!”, como punição, essa pessoa nascerá cega em existência após existência. Mas se houver alguém que lhes ofereça esmolas e os louve, então nessa presente existência terão uma manifesta recompensa por esses actos.
“Se alguém vê uma pessoa que aceita e promove este sutra e tenta expor as faltas ou aspectos negativos dessa pessoa, quer sejam verdadeiros ou não, será nessa presente existência afligido por lepra branca. Se alguém despreza essa pessoa ou se ri dela, em existência após existência terá dentes em falta ou demasiado espaçados, lábios feios, nariz chato, mãos e pés nodosos ou deformados e olhos vesgos. O seu corpo terá um odor infecto, com chagas malignas de onde escorrerá sangue e pus, e sofrerá de líquido no ventre, falta de ar e outras doenças malignas e severas. Por isso, Universalmente Meritório, se vires uma pessoa que aceite e promova o Sutra do Lótus, deves levantar-te e saudá-lo de longe, mostrando o mesmo respeito que prestarias a um Buda.”
Quando este capítulo sobre O Incentivo do Bodhisattva Universalmente Meritório foi exposto, bodhisattvas imensuráveis e ilimitados como as areias do Ganges, adquiriram dharanis que lhes permitiram memorizar centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de repetições dos ensinamentos, e bodhisattvas iguais em número às partículas de pó de um universo completaram a via de Universalmente Meritório.
Quando o Buda expôs este sutra, Universalmente Meritório e os outros bodhisattvas, Shariputra e os outros ouvintes, em conjunto com os seres celestiais, dragões, seres humanos e não humanos - todo o grupo da grande assembleia ficaram repletos de grande alegria. Aceitando e promovendo as palavras do Buda, fizeram uma vénia em sinal de obediência e partiram.
Índice do repositório budadharma.paginas.sapo.pt
(Adaptado do texto original em http://budadharma.paginas.sapo.pt/lotus_XXVIII.htm)
domingo, 27 de setembro de 2009
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